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5ª Jornada da Seção Sul – Cartel Fulgurante – Eixo 2 – Eixo “Estar à altura do acontecimento imprevisto”

Jussara Jovita Souza da Rosa

[ Foto de Lina Sumizono – c h ã O – Festival de Curitiba, 2023]
Questões:

Acontecimento já porta a noção de imprevisto. Acontecimento imprevisto portaria o real em um acontecimento? Como cada analista pode estar à altura do acontecimento imprevisto, já que é imprevisto? A pergunta formulada por Flávia Cêra: “Como pode [o analista] fazer o inconsciente existir?” Encontraria baliza nesta proposição de Miller: “[…] tudo quanto afeta a um sujeito, aquilo que o apaixona, o ordena, aquilo que constitui seu problema e sua infelicidade, lhe pertence a título pessoal, não é susceptível de generalidade alguma, pertence verdadeiramente a ele […] os pontos de certeza de cada um lhe pertencem em sentido próprio.”[1]

O que queremos transmitir quando dizemos política/político? O termo política se refere à ação de governo, e a psicanálise se constrói a partir do ingovernável. Por outra lado, em sentido figurado, se refere à “[…] habilidade de relacionar-se com outros tendo em vista a obtenção de resultados desejados”[2]. Lacan, no Seminário 14, nos fala que “o inconsciente é a política”[3], esta formulação poderia ser pensada também com o que nos propõe Miller: “A indeterminação se opõe  determinação superegóica da repetição, é o que inscreve esta ruptura da causalidade onde reconhecemos ao sujeito. O escrevo como Ⱥ”[4].

Do sujeito ao falasser – inconsciente corpo falante, inconsciente real –, partindo desta perspectiva poderíamos supor que fazer o inconsciente existir implica em bordejar a existência? Mutatis mutandis, como situa Miller[5], mudando o que tem que ser mudado, pelo sujeito em sua indeterminação? Não seria uma via no lugar do significante mutação inserir o “torna-se diferente” que comporta o transmutar/transmudar[6]? Uma digressão: o termo Mutação[7] é um termo da genética e um termo também referido ao teatro, relacionado a cenário: “mutação de cenário”. Cenário contém a noção de moldura[8]… Não seria um pouco isso que a experiência analítica poderia oferecer pela incessante via do “para ser lida”, outras maneiras de emoldurar a vida, o corpo?


[1] MILLER, Jacques-Alain. El acontecimiento imprevisto. In: Los usos del lapsos. Los cursos psicoanalíticos de Jacques-Alain Miller. Ciudad Autónoma de Buenos Aires. 2018. p. 227
[2] POLÍTICA. In: Grande dicionário Houaiss. Disponível em: https://houaiss.uol.com.br/houaisson/apps/uol_www/v7-0/html/index.php#2 Acesso: 27/07/24
[3] LACAN, Jacques. La lógica del fantasma. Clase de 10/05/67 Inédito.
[4] MILLER, Jacques-Alain. Ibidem, p.225
[5] Ibidem, p. 234
[6] TRANSMUTAR. Disponível em: Grande dicionário Houaiss. Disponível em: https://houaiss.uol.com.br/houaisson/apps/uol_www/v7-0/html/index.php#3. Acesso em: 27/07/24
[7] MUTAÇÃO. Grande dicionário Houaiss.  Disponível em:
https://houaiss.uol.com.br/houaisson/apps/uol_www/v7-0/html/index.php#4  Acesso em: 27/07/24
[8] PAVIS, Patrice. Dicionário de teatro. São Paulo: Perspectiva, 2011, p. 483.
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