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coleção italiana
I Maestri del Novecento
; um
Anish
Kapoor
italiano da Edizioni Prada; o
Sérgio Camargo
da coleção “espaços da arte brasileira” da Cosac &
Naify; o
Nelson Felix
da Cosac & Naify; e o
Barroco
de Lírios
, de Tunga. Todos estes livros (já mais ou
menos usados) juntos certamente não valeriam
o preço de uma única das obras dos artistas (nem
todos muito conhecidos fora de Belo Horizonte) há
pouco citados.
Uma reimpressão de 1962 – em muito bom
estado – de uma célebre coletânea de ensaios
(publicada pela primeira vez pela Gallimard
em 1934) de Paul Valéry,
Pièces sur l’art
, onde
se encontrava “La conquête de l’ubiquité” (“A
conquista da ubiquidade”), bem conhecido pelos
benjaminianos por causa do trecho em epígrafe
n’“A obra de arte na era da sua reprodutibilidade
técnica”, no qual também se achavam dois breves
ensaios, agora bem úteis para mim, que discutem o
valor estético do objeto livro: “Les deux vertus d’un
livre” (“As duas virtudes de um livro”) e “Livres”
(“Livros”). Em “Bibliomania à venda”, do meu hoje
esgotado
Ociografias
, eu deplorava a devolução e
perda (para um primo de um grande amigo meu,
então fotógrafo) do exemplar que usara emprestado
durante mais de dois anos. O presente volume era
uma aquisição, bem barata, feita recentemente
(em uma deliciosa vagabundagem vespertina
domingueira) na famosa feira de livros usados do
parque Georges Brassens em Paris, feira na qual
uma vez, surpreso, eu catei abandonados no chão
(ainda que em relativo bom estado) o
Les aventures
de Télémaque
, de Louis Aragon, e o
Plume
, de Henri
Michaux.
E, enfim, o mais recente deles, uma coletânea
de ensaios de Umberto Eco,
Amemória vegetal e outros
escritos sobre bibliofilia
, publicada em tradução de
Joana Angélica D’Ávila pela Record em 2010, e que
seria útil, sobretudo, para pensar a situação do livro
em papel após a disponibilização de grandes acervos
escaneados em mega-bancos de dados na internet
(por exemplo, apenas entre os mais genéricos, o
Google Books
ou o
Gygapedia
) ou adquiríveis para a
leitura eletrônica emum
kindle
ou emummultimídia
i-pad
. Curiosamente eu formulara, em uma conversa
telefônica na noite anterior ao dia da aquisição, a
hipótese de que deveria existir já em livro uma
coletânea de artigos de Eco sobre o tema (de que
eu me lembrava de haver lido alguns muito bons,
em 2008 ou 2009, na imprensa francesa), mesmo
que eu jamais a tivesse visto ou dela tivesse lido uma
resenha. No dia seguinte, em meu primeiro passeio
a pé (depois da mudança de endereço) pela avenida
Prudente de Moraes, aonde fui pagar umas contas
no Banco do Brasil, resolvi não só entrar no Beirute
para experimentar uma
esfiha
, como também entrar
numa livraria (então ainda sem placa) para dar uma
olhada no breve acervo composto sobretudo de
best-sellers
. Minha surpresa foi grata quando, numa
estante lateral em que os livros estavam amontoados
na horizontal, eu encontrei (discretamente apagados
entre duas obras ficcionais recentes mais conhecidas
de Eco) dois exemplares deste livro. Estranhamente,
a alegria de comprar um livro novo (ou seja: ainda
não pertencendo à minha biblioteca, mas que, no
caso, poderia também não existir) parecia maior
do que possuir todo o conjunto de livros de algum
modo já conhecidos.4
Teodoro Rennó Assunção
(Faculdade de Letras da UFMG)
4
É certo que a mobilização operada por
um novo tema reservava também a feliz surpresa da
redescoberta de um livro já esquecido como
A biblioteca
desaparecida
, de Luciano Canfora, cuja sábia epígrafe, de
Sêneca, fora citada por mim em “Bibliomania à venda”:
“Agora chegamos à biblioteca, não aquela composta de
muitos livros, mas de livros escolhidos.”