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também encontráveis outros breves artigos que não

haviam aparecido no volume II das

Obras escolhidas

(

Rua de mão única

) de Benjamin pela Brasiliense

(onde estava o “Desempacotando minha biblioteca”)

nemno volume I (

Magia e técnica, arte e política

, onde

estava o artigo “Livros infantis antigos e esquecidos”):

o esclarecedor “Para colecionadores pobres” (que

reivindica, para além do bom preço esperável, a

importância do escritor menor para a definição

do que uma época tem de mais característico); o

curioso e inaudito “Livros de doentes mentais pegos

na minha coleção” (que me lembrou da coleção

de

Fous littéraires

[

Loucos literários

] reunida por

Raymond Queneau e brincalhonamente intitulada

A enciclopédia das ciências inexatas

); o talvez hoje

etiquetável como sociologia da literatura mas

saborosíssimo “Romances de empregadas do século

precedente”; uma amável e inteligente carta (escrita

em francês) sobre

Le regard

, de Georges Salles; e uma

reveladora lista dos livros lidos por Benjamin (onde

impressiona o ostensivo predomínio da literatura

sobre a crítica literária ou filosofia, e especialmente

o grande número de romances policiais, com um

destaque para Simenon).

A bem-cuidada edição italiana da

Obra das

passagens

(

Das Passagen-Werk

) de Benjamin (volume

XI das

Obras

publicadas sob a direção de G.

Agamben), publicada pela Einaudi em 1986 com o

título

Parigi, capitale del XIX secolo (I “Passages” di

Parigi)

, comprada – com o júbilo de então adquirir

algo raro e importante (mesmo que meu italiano

fosse sofrível) – em 1987 na Livraria Italiana em São

Paulo (Av. São Luís 192, loja 18, como diz o selo3),

que ficava não muito longe da Livraria Francesa, na

Barão de Itapetininga, que então, ainda estudante

de mestrado na USP, eu frequentava com fervor

bibliômano. Nela era possível colher (mas sempre

em conexão com os temas da grande obra sobre as

passagens parisienses) algumas notas possivelmente

úteis sobre “O colecionista” na rubrica H (da página

266 a 278 nesta edição) que tinha como primeira

3

Já os dois volumes citados da edição francesa

organizada por Maurice de Gandillac, que comprei em

algum sebo paulistano do qual não me recordo mais,

contêm o selo da também saudosa “Livraria Duas

Cidades, rua Bento Freitas 158, cep 01220, são Paulo”,

onde, nos anos 80, eu ia às vezes em deliciosas flanagens

livrescas vespertinas à caça de novidades de literatura

francesa e de crítica literária brasileira.

epígrafe a seguinte frase de Baudelaire: “Toutes ces

vieilleries-là ont une valeur morale” (“Todas estas

velharias aí têm um valor moral”).

Permito-me também citar alguns livros (que

tratam do tema do colecionismo e da bibliofilia) não

de Benjamin diretamente, mas de autores com os

quais ele virtualmente tem (ou teve explicitamente)

afinidades. Como aquisição um pouco mais recente,

também pelo nobre e pouco custoso meio da mera

recepção de um dom (bem marcado na dedicatória

escrita por um amável colega de trabalho: “Pro

Teodoro, celebrando o salutar diletantismo. Com o

abraço do X. Paris, 26 junho 2002”), mas que jamais

fora lido em sua inteireza, o livro epistolar-ensaístico

de Johann Wolfgang Goethe

Le collectionneur et les

siens

, que certamente Benjamin conhecia, apesar

de não citá-lo em seus escritos sobre o tema, e que

traz fecundas reflexões sobre o modo de apreciar,

colecionar e mostrar obras de artes plásticas como

desenhos (esboços), pinturas e esculturas, mas que

em momento algum considera o colecionador ou

a coleção de livros. Antecipando um comentário

sobre a quase total ausência de livros raros (ou

muito caros) em minha biblioteca, eu diria que

analogamente jamais fizera uma aquisição (mesmo

medianamente) cara de obras de artes plásticas (os

quadros ou mini-esculturas também esperavam no

chão a difícil decisão de onde colocá-los em um

novo ambiente cujos espaços felizmente ainda vazios

nas paredes eram enormes), sendo quase todas as

obras de artistas contemporâneos belo-horizontinos

(Cristiano Rennó, Isaura Pena, Patrícia Leite, José

Bento, Cao Guimarães e ainda três gravuras de

Amilcar de Castro) dons ou contra-dons em troca

de textos para os artistas ou galeristas, a única

exceção do meu micro-acervo, provavelmente a sua

peça mais valiosa, sendo uma gravura de Tarsila do

Amaral generosamente dada por minha mãe. Ainda

que também não muito grande, o número de livros

de arte (o mais das vezes bem mais caros do que

livros comuns) era certamente muito maior do que o

das obras de arte. De onde eu digito agora este texto,

é possível divisar, virando a cadeira, alguns deles

nas prateleiras de baixo da última estante à direita:

o (não propriamente livro de arte)

Arte Moderna

,

de Giulio Carlo Argan; um ordinário

Max Ernst

da