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ASUNTOS LIVRESCOS
O desassossego da
experiência da escrita
Introdução
Por implicar quem escreve com a inconsistência do Outro, a escrita é, por excelência, uma experiência
de desassossego a ser atravessada pelo escritor. Achar as palavras, ficar sem elas, transmitir a palavra do outro,
nomear a experiência, encontrar o silêncio que existe entre as palavras, não é sem inquietação. Vou abordar
três aspectos dessa experiência: em primeiro lugar, algumas palavras sobre o escrever; depois, sobre o escrever
a clínica; por fim, sobre assinar o que se escreve.
Sobre escrever
O real próprio ao inconsciente faz a diferença entre a psicanálise e a ciência. Este real, Lacan o define
com a fórmula – “não há relação sexual” –, que sustenta a especificidade do saber psicanalítico e o distingue
do saber da ciência, da religião e da mitologia. Ao tratarmos da questão da escrita, estamos tratando da
questão do signo, que é fundamentalmente o que se diz, mas também o que se escreve. Na vertente da fala
está sua função significante, função de representação do sujeito e de articulação da cadeia que determina o
significado, mas onde se encontra no nível da fuga de sentido o que é da ordem do “não há relação sexual”.
A outra vertente do signo é a letra, que designa sua natureza de objeto, suporte material que o discurso
concreto empresta à linguagem, idêntica a si mesma, passível de deslocamento e transmissão. Quanto a