
Apresentamos o tema das VI Jornadas da EBP/SLO “Encontros e Desencontros – Parcerias Sintomáticas”, que acontecerão nos dias 10 e 11 de outubro de 2025 na cidade de Goiânia-GO.
É com a concepção de fazer uma leitura dos discursos contemporâneos que trataremos sobre os des-encontros para a psicanálise, sabendo que se trata de parcerias sintomáticas.
O que faz um encontro ou um desencontro?
Quais são as parcerias vigentes em um mundo com a prevalência do discurso do capitalismo, da ciência e da tecnologia, um mundo que viveu o isolamento de uma pandemia, deixou marcas no modo de vida do sujeito, bem como impactos na prática psicanalítica a respeito dos usos de objetos técnico-virtuais, a “psicanálise virtual” (SANTIAGO, 2024, p.46)? É possível, na experiência analítica no virtual, capturar, tocar o gozo do corpo do falasser, sem o corpo presente do analista?
Manifestações com a predominância do real do Gozo
Miller (2020) definiu o sintoma “não como uma disfunção, mas sim como um funcionamento” (p. 26), instigando-nos a nos ocupar sobre o uso que se faz dele e de pesquisar sobre o efeito do sintoma como um modo de gozar. O sintoma agrega funcionamentos que se opõem: um da ordem da verdade e o outro, do gozo – como verdade, é a formação do inconsciente pela via do simbólico, um inconsciente transferencial; como gozo, está ligado à ordem do real. Aqui, a repetição se impõe, itera e confirma a existência de um real que não cessa de não se inscrever, um inconsciente real. Não há relação sexual. A fantasia construída pelo falasser é uma defesa contra o real do gozo.
Como são construídas as parcerias sintomáticas diante da fragilidade do simbólico, com a pulsão de morte que invade? O gozo estaria predominante na parceria com a brutalidade, na política, na guerra, no racismo e na segregação? Na angústia, que exaspera os corpos e os medicaliza a partir da proliferação de psicodiagnósticos, medicando um viver desencantado? Na errância da solidão de um gozo, frente às telas da internet, forjando laços sociais, imprimindo adições e uma felicidade mentirosa?
O Desejo em declínio, a falta da falta
A horizontalidade que está presente no discurso da época nos faz pensar sobre o “pai tornado vapor” (MILLER, 2024, p.48) e questionar sobre onde anda o desejo. O que está no lugar do falo e, consequentemente, em que vias anda a operação da castração? Miller (2024) pergunta o que atualmente está situado no zênite social, o objeto a, e responde a partir de Balzac que “a sociedade aparece baseada unicamente no poder do dinheiro – este, vindo no lugar do pai, causa única do desejo social” (p. 18) Isso tem consequências nos encontros e desencontros do falasser diante do Outro que não existe. A ciência associada ao capital declinou o pai e promoveu novas ficções familiares, formas de fazer política e de realizar desejos. Já que o significante fálico não marca a diferença, o que existe são os Nomes-do-pai. O pai é um significante, um nome, um operador, mas, nos tempos de pluralização, quais os significantes que marcam nossa época? O discurso do mestre, a partir do capitalismo, da tecnologia e da ciência produz objetos de desejo e do mais de gozar, a serem consumidos reiteradamente como meio de tamponar a falta, gadgets, efêmeros, infinitos – objeto Um sozinho não promovendo laços sociais. O falasser dessa relação com o objeto fica solitário, à deriva.
O Amor entre desejo e gozo – não há garantias e não está previsto
E o amor, o que poderíamos dizer das parcerias amorosas, como se sustentam ou não, na contemporaneidade? Considerando que a relação sexual não existe e a junção entre o amor e desejo não é sem o gozo, isso pode dificultar fazer laços, estar diante do gozo do outro, interrogar-se a respeito da parceria sintomática vivida. Lacan (2016), quando aponta o axioma “não há relação sexual”, quer dizer que os falasseres, como seres sexuados, formam pares não no nível do significante, mas no nível do gozo, e que esse laço é sempre sintomático. O sujeito humano constituído a partir do encontro traumático do simbólico com o corpo nasce de um mal-entendido, da relação entre dois seres que não falam a mesma língua, demonstrando uma diferença entre os sexos e na sua posição sexual. Ao falar do parceiro-sintoma, Miller (2020) diz do Outro como meio de gozo, representado pelo corpo e como lugar do significante, um modo de gozar do inconsciente e do corpo do Outro, o corpo próprio. Assim, qual é o sexo ou as apresentações do falasser diante das múltiplas nomeações do discurso universal sobre a sexuação, forçando uma nomeação identitária? Consciente ou inconsciente?
Convidamos todos a participarem das VI Jornadas da EBP-SLO, com as preparatórias, a conferência de nosso convidado Pierre Sidon (ECF/AMP), as plenárias e os trabalhos das mesas simultâneas. Venham compartilhar suas leituras sobre os discursos contemporâneos e suas experiências na prática analítica.
Ceres Lêda F. F. Rúbio (EBP/AMP) – Coord. Geral das VI Jornadas da EBP-SLO
Referências bibliográficas
SANTIAGO, Ana Lydia. A Psicanálise virtual. In.: Opção Lacaniana – Revista Brasileira Internacional de Psicanálise. Ed. Eolia, vol.88, 2024, p.46.
LACAN, J. O mal-entendido. In.: Opção Lacaniana – Revista Brasileira Internacional de Psicanálise, Rio de Janeiro, n. 72, março 2016, p.11.
LAURENT, Eric. A Sociedade do Sintoma – a psicanálise, hoje. Rio de Janeiro, Contra Capa Ed., 2007.
MILLER, J. A. O pai tornado vapor. In.: Opção Lacaniana – Revista Brasileira Internacional de Psicanálise. Ed. Eolia, v. 88, 2024, p. 48.
MILLER, J. A. El partenaire-síntoma – Los cursos psicoanaliticos de Jacques-Alain Miller. Buenos Aires, Ed. Paidós, 2020.