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As primeiras Jornadas da SLO(f) ocorrerão nos dias 09 e 10 de outubro de 2020, na sede da Aliança Francesa, em Brasília.

Contaremos com os produtos do trabalho em Cartel, célula da Escola de Lacan, que orientarão os próximos passos dessa nova iniciativa da Escola Brasileira de Psicanálise.

Nosso convidado é Romildo do Rêgo Barros, AME (Analista Membro da Escola), da EBP/Associação Mundial de Psicanálise.

Em breve, enviaremos maiores informações.

APRESENTAÇÃO DA I JORNADA SLOF

COMO SE FORMA UM ANALISTA

Dias 09 e 10 de outubro de 2020
BRASÍLIA-DF
COORDENAÇÃO GERAL: Ordália Alves Junqueira (EBP-AMP)

Neste 09 de junho de 2020, laçamos a I Jornada da SLOf com o tema COMO SE FORMA UM ANALISTA. Ordália Junqueira, que coordenará estas Jornadas, abriu a noite ressaltando a importância deste acontecimento para a EBP, pois será a primeira vez que se fará um evento da EBP na capital do Brasil. A proposta será dizer, na capital federal, “Como se forma um analista” e, uma boa forma de fazê-lo seria nos valermos do cartel – um dos dispositivos da Escola de Lacan que enlaçada a formação do analista. Ordália recorreu a Lacan em seu Ato de Fundação, para justificar sua assertiva: “Esse objetivo de trabalho é indissociável de uma formação a ser dispensada […]”.

Ordália trouxe, de início, o significante “form(a)ção” que, aplicado à psicanálise, no sentido mais clássico, inclui a tríade: análise pessoal, supervisão e ensino. Quando se fala formação analítica, evoca-se o Um, a singularidade. Em resposta à questão sobre Como começou tudo para mim? Pode-se dizer: pelo melhor caminho, ou seja, pelo sintoma, pois não há psicanalista sem análise. A análise pessoal aparece como uma “obrigatoriedade” na formação do analista. Freud já advertia que o analista só consegue ir com seu paciente até aonde chegou em sua própria análise!

Ordália nos trouxe que pode-se dizer que o lócus dessa formação é a ESCOLA que dispõe de seus dispositivos: os Cartéis; o Ensino, a Biblioteca e suas publicações, o Instituto; e de um procedimento original: o Passe, instancia de garantia de formação para recolher o valor didático de uma análise. Assim, o trilho de formação que a Escola nos orienta.

Ela nos fez um histórico (epistêmico) de Freud a Lacan – […] a psicanálise […] nada mais tem de mais seguro para fazer valer em seu ativo do que a produção de psicanalista […]

(Lacan, 1964). Passou por Freud em “A questão da análise leiga” (1927), por Lacan em Variantes do tratamento-padrão (1955), em “A direção do tratamento…” (1958), além dos textos institucionais como Ato de Fundação e Proposição de 09 de outubro de 1967 para ressaltar a importância da formação do analista, pois, para Lacan, a ignorância não deve ser entendida como uma ausência de saber, mas como uma paixão do ser, sendo que é “justamente aí que reside a paixão, que deve dar sentido a toda formação analítica.”

Ordália também nos lembra que, na “situação analítica”, o analista também tem que pagar: paga com palavras, via interpretação (na tática); paga com sua pessoa, na medida que a empresta à transferência (na estratégia) e, também, paga com seu ser, em seu juízo mais íntimo, movido pela ética do desejo do analista (na política), lembrando que “[…] o analista é menos livre em sua estratégia do que em sua tática.”

No Ato de fundação (da Escola Francesa de Psicanálise), Lacan (1964)12 faz a pergunta central da Escola: “O que é um analista?” – e se interroga sobre “Como se formam os analistas?” Ele diz que, “Esse objetivo de trabalho é indissociável de uma formação a ser dispensada nesse movimento de reconquista. O que equivale a dizer que nela estão habilitados de pleno direito aqueles que eu mesmo formei, e que para ela estão convidados todos os que puderem contribuir para introduzir, dessa formação, o bem fundado da experiência”. […] Os que vierem para esta Escola se comprometerão a cumprir uma tarefa sujeita a um controle interno e externo. É-lhes assegurado, em troca, que nada será poupado para que tudo o que eles fizerem de válido tenha a repercussão que merecer, e no lugar que convier. (Lacan, 1964).

Seguindo, após três anos do Ato de fundação, na Proposição de 9 de outubro de 1967, Lacan (1967), 17 conduz, antes de mais nada, a um princípio: “o psicanalista só se autoriza de si mesmo”. Entretanto, afirma que “isso não impede que a Escola garanta que um analista depende de sua formação, […]” fazê-la por sua própria iniciativa, sendo que o analista pode querer essa garantia indo mais além, tornando-se responsável pelo progresso da Escola: “tornar-se psicanalista da própria experiência,” em 2 formas: AME (a Escola o reconhece como psicanalista-comprovou sua capacidade) e AE (dar testemunho de sua experiência sendo que esse lugar implica que o queira ocupá-lo com a demanda formal de passe). Enfim, “Que a Escola pode garantir a relação do analista com a formação que ela dispensa, portanto, está estabelecido. Pode fazê-lo e, portanto, deve fazê-lo.”

Entre os desafios da Psicanálise, Ordália trouxe: “[…] a psicanálise não é uma técnica e sim um discurso que anima a cada Um a produzir sua singularidade, sua exceção […]. (Laurent 2006)

Desde a sua fundação que a psicanálise é coerente e consistente na persistência para fazer prevalecer sua existência; por isso mesmo a ênfase na formação do analista é necessária para fazer possível a permanência do discurso analítico. É necessário, também, cada vez mais, que os analistas se coloquem como analisandos para questionar sua prática: é saber que o seu saber será sempre construído e incompleto, portanto, infinito, e seu discurso será sempre um discurso aberto.

Para finalizar, Ordália recolheu os Princípios diretores do ato analítico, pronunciado por Éric Laurent (2006) em Roma, que, resumidamente, enfatizam a importância da formação do analista, enlaçada a análise pessoal, levada até o seu final. E, a formação do analista não pode ser reduzida às normas de formação da universidade ou de avaliação de prática adquirida. A formação do analista desde que foi estabelecida como discurso, se assenta em um tripé: seminários de formação teórica (para universitários); o prosseguimento pelo candidato a psicanalista, de uma psicanálise até seu ponto último (daí os efeitos de formação); e a transmissão pragmática da prática nas supervisões (conversa entre pares sobre a prática clínica). 23

Ordália, ao encerrar a sua apresentação, passou a palavra a Bartyra Ribeiro de Castro que apresentou o texto Lacan e sua formação como psicanalista / Da história e de nossos antecedentes.

Para comentar a formação do psicanalista, Bartyra fez um passeio histórico pelos documentos publicados por Jacques-Alain Miller com o título: Escision, Excomunion, Disolucion – Tres momentos de la vida de Jacques Lacan; foi buscar o Lacan analisante em um texto homônimo de Éric Laurent, passei por Miller em Lacan Elucidado – O Avesso de Freud; e foi ao próprio Lacan em De Nossos Antecedentes.

Bartyra lembrou a análise de Lacan com Rudolph Loewenstein e seu final pela destituição do sujeito suposto saber. Trouxe Miller que disse que  “Dessa análise, Lacan reterá que a transferência negativa é um elemento decisivo da prática psicanalítica: ‘o nó inaugural do drama analítico’”. Começava aí, o distanciamento que levou à cisão de Lacan com a Sociedade Psicanalítica de Paris.

No percurso institucional de Lacan, este passou pelo lugar de analisante e atravessou momentos dentro da Associação Psicanalítica Internacional em duas de suas afiliadas – a Sociedade Psicanalítica de Paris e a Sociedade Francesa de Psicanálise. Questionando a estrutura de ensino do Instituto de Psicanálise, Lacan escreveu a carta citada acima em julho de 1953, dizendo a que a principal questão, realmente, de suas desavenças com Nacht eram as sessões curtas. Este era exatamente o ponto de cisão. Em relação aos preceitos da formação do psicanalista na IPA, Lacan se contrapôs em diversos pontos e acabou por ser excluído (a chamada “excomunhão”).

Em 21 junho de 1964, Lacan, “tão só como sempre esteve em sua relação com a causa psicanalítica”, fundou a Escola Francesa de Psicanálise/Escola Freudiana de Paris, assumindo “a direção pessoalmente, durante os quatro próximos anos”, pois nada mais o impedia disso. A Escola de Lacan “restaura o fio cortante da verdade no campo aberto por Freud”. A Escola de Lacan, foi fundada com três sessões: – Seção de Psicanálise Pura; – Seção de Psicanálise Aplicada; e – Seção de Recenciamento do Campo Freudiano.

Em 1980, um ano antes de seu falecimento, Lacan dissolveu a sua Escola e, em sua carta de dissolução, fala de “debilidade ambiente”. No processo de dissolução que se arrastou por alguns meses, Lacan chegou a dizer, frente a acusações de que havia formado uma igreja, que “o psicanalista tem horror a seu ato. A ponto que o nega, denega e renega”. Em fevereiro deste mesmo ano, fundou a Causa Freudiana. E outubro, se anuncia a Escola da Causa Freudiana nascida do seio de sua Causa. Poucos meses depois, em carta, Lacan se refere a seus alunos dizendo: “Esta é a Escola de meus alunos, daqueles que me querem, ainda. Abro, em seguida, as portas da mesma. Digo: aos mil: vale a pena arriscarem-se. É a única saída possível e decente”.

Bartyra trouxe também o texto De Nossos Antecedentes, escrito por Lacan, em 1966 – onde ele nos conta como entrou na psicanálise, através de sua tese sobre Aimée, homenageia Clérambault como seu único mestre na psiquiatria, esclarece como passou da “psiquiatria à psicanálise, de Clérambault a Freud, de um mestre a outro” e nos trouxe algo de seu passe

Miller ressalta que, neste texto, Lacan já se coloca como um “reformador da psicanálise”. No entanto, ele traz claramente que Lacan o fez tomando Freud pelo avesso, como uma forma de levar a psicanálise, como uma carta roubada, “ao seu verdadeiro destino”, “tentando ver o que Freud não havia visto”. Lacan começou o percurso pelo avesso publicando “Mais além do Princípio da Realidade”, dizendo que o prazer tem um mais além que ele chamou, mais tarde, de gozo. Assim, Lacan levou o ato analítico mais além da realidade, ao real, quer dizer, ele tomou a psicanálise onde Freud a havia deixado, na questão da pulsão de morte.

Com este percurso, Bartyra enfatizou que a formação do psicanalista depende de um sujeito que se coloque ao trabalho do inconsciente, se dedique aos estudos teóricos e que se implique na sustentação dos pilares essenciais ao avanço da psicanálise, no campo aberto por Freud.

Em seguida, foi passada a palavra a Ary Farias, Diretor de Cartéis da SLOf que enfatizou a importância do trabalho de cartéis para a sustentação da escola de Lacan e a formação do psicanalista e a Romulo Ferreira da Silva, Diretor Geral da SLOf, que pronunciou algumas palavras que enfatizavam a importância da supervisão neste processo de formação.

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