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O CORPO FALANTE

X Congresso da AMP,

Rio de Janeiro 2016

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defesa diante do real. À repercussão do vazio, do desamparo, a partir do que

me fora comunicado, segue uma resposta do

falasser

, pela via de contração da

mandíbula. No entanto, para minha surpresa, essa contração não me impede

de falar, o que reconheço como um modo de assumir o vazio, o furo que habita

meu corpo.”

p. 50

Mazzotti, Maurizio Falequivoco. In: Papers 1, Site do X Congresso

da AMP. O corpo Falante: Sobre o Inconsciente no Século XXI.

Tradução: Ana Paula Sartori Lorenzi

“(…) O encontro do falasser com a apreensão do corpo é marcado pela

incidência do equívoco da

lalíngua

. Equívoco do significante, sem o qual (…)

existiria um “abismo” entre o corpo “ao natural” e o seu real, a opacidade mais

radical, o impossível de vir a se saber algo. Ao contrário, Lacan diz que as

pulsões são o eco do dizer no corpo, de um corpo que goza dos objetos a, em

torno dos quais elas fazem sua volta, silenciosas, mas não sem que, via o trabalho

de

lalíngua

, se sedimente um traço que não as deixe de todo sem inscrição.

Por outro lado, o alcance da referência ao traço, bem como ao sedimento

elementar que a

lalíngua

deixa no

falasser

, é um tema complexo sobre o qual

Lacan trabalhou, ressaltando a tensão que atravessa, de um lado, a fragmentação

operada pela linguagem no gozo do corpo, e de outro lado, o fundo não

negativizável do gozo no coração do real do sinthoma.

“Que se possa alcançar a marca literal do gozo, o Um que se reitera a partir do

múltiplo jogo sonoro do equívoco, do eco do dizer. É a nossa aposta no nível

da interpretação, a fim de que ela possa apontar para o real, para a apreensão do

corpo, retomando a expressão de Lacan, através da marca literal do inconsciente.

Mas não se chega aí por via “direta”, com um corpo a corpo, nem somente pela

via indireta do sentido.”

Naveau, Laure. A experiência da supervisão. In: Papers 1. Site do X

Congresso da AMP: O corpo falante: sobre o inconsciente no século

XXI.2015. Tradução: Teresinha N. M. Prado

“Da mesma forma, sublinhava ele, para que sua fala ganhe força, para que

possa ser «criacionista», é preciso que o analista em supervisão aprenda a se

calar. É preciso «que sua fala seja rara a fim de que possa portar, a fim de que

possa reter a atenção do paciente», ainda que, conforme Lacan indicou em seu

texto sobre

l’esp d’un laps

quando se presta atenção à sua fala, não se está mais

no inconsciente. Ora, para alcançar essa raridade da fala, é preciso, parece-me,

na sua própria análise, ter-se distanciado do sentido, do excesso de sentido que

afeta o

parlêtre

e suportar o real que, por conseguinte, surge dessa distância,

desse hiato entre o inconsciente e o sentido, sem mais defender-se disso por

meio de nenhum afeto do corpo falante. E, contudo, demonstrar uma presença

encarnada.”

Pimenta Filho, J. A. - Do acontecimento de corpo a busca do

singular

.

In: Cartas de Psicanálise – Centro de Estudos e Pesquisa em

Psicanálise Nº4, vol. II, Ano 3. Ipatinga –CEPP, Vale do Aço, 2008

“(…) O corpo é, pois, a sede do gozo; há, então, um gozo do corpo, um

acontecimento de corpo.

(…) Falar com seu corpo e o que distingue o

parlêtre

(falasser), noção criada

por Lacan, nos anos setenta para pensar um mais além do inconsciente, ou o

inconsciente que se completaria com o corpo, mas não o corpo simbolizado, o

corpo imaginário, mas aquilo que ele tem de real. (Miller,

La experiencia de lo

real en la cura psicoanalítica

. Buenos Aires, Paidós, 2003: 373). Ou seja, se para o

animal e licito identificar o ser e o corpo, para a espécie humana isso não ocorre

uma vez que, quanto ao humano, ha o estatuto do corpo falante. Aqui torna-se

interessante uma breve discussão que assinale em que essa noção se distinguiria

do que foi situado como o silencio dos órgãos na tradição da epistemologia.

René Leriche, professor de Medicina e cirurgião no inicio do século XX na

França , propunha “a saúde e a vida no silencio dos órgãos” (Apud Canguilhem

- O normal e o patológico, 1982; 67). Ou inversamente: “a doença é aquilo que

perturba os homens no exercício de sua vida e em suas ocupações e, sobretudo,

aquilo que os faz sofrer”. Georges Canguilhem, outro autor e epistemólogo

francês, retomou essa proposta de Leriche assinalando: “(…) o estado de saúde

para o individuo é a consciência do seu próprio corpo. Inversamente, tem-se

consciência do corpo pela sensação de seus limites, das ameaças, dos obstáculos

à saúde” (Canguilhem, 1982; 67). “E se a saúde é a vida no silêncio dos órgãos,

não há propriamente ciência da saúde”. (Dai) “se saúde é a inocência perdida,

como toda inocência, deve ser perdida para que o conhecimento seja possível.”

p. 165

Reymundo, Oscar. De corpos. In: Correio Nº77, Revista da Escola

Brasileira de Psicanálise O corpo falante. Analisar o parlêtre, São

Paulo, 2015

“(…) Com o ultimíssimo ensino de Lacan, a orientação do Outro que não existe

implica, já faz algum tempo, no desafio de nos posicionarmos perante o falasser

e suas posições sexuadas à luz do saber fazer, um por um, com cada modo de

amarração, de costura, de sutura que, ao fim de contas e nos dizer de Lacan, é

disso que se trata em uma análise.”

p. 52

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