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vai destruindo-se mais e mais, como um
homem possuído pela pulsão de morte.
Fixemos em como há de suportar todas e
cada uma das insolências de Hamlet; e como
não consegue convertê-lo em um de seus
homens fiéis, nem mesmo oferecendo-lhe a
sucessão ao trono. Utiliza como espiões dois
tolos como Rosencrantz e Guildenstern;
tem de esconder-se ridiculamente atrás dos
tapetes para espiar; tem remorsos o tempo
todo e por tudo o que faz; não lhe cai bem a
vestimenta de rei; não suporta ver-se refletido
na pantomima; prepara um complô para
matar Hamlet, e se sai mal; esconde a morte
de Polônio e provoca uma rebelião popular.
A obra nos dá os indícios suficientes de que
foi ele que mandou matar Ofélia, mas é
apenas porque não sabe o que fazer com ela.
E, finalmente, prepara um segundo complô
para matar Hamlet que acaba arrastando
todo mundo e deixando o reino nas mãos de
outra dinastia. E, como se não bastasse, nem
sequer é ele quem vota pelo novo monarca,
mas sim Hamlet moribundo é quem o faz.
Gertrudes, por sua parte, é uma mulher
dividida entre um amor doentio por seu
filho e um desejo tão grande de não dormir
só -
con béant
, segundo o qualificativo de
Lacan -, que encurta seu luto de viúva até
servir ao usurpador seu corpo ainda quente
do marido anterior. E deixamos de lado
sua hipotética participação no assassinato
de Hamlet, cujo exame resultaria muito
eloquente para a compreensão daquele amor
idealizado que, segundo Hamlet filho, lhe
tinha seu pai.
Lacan nos faz prestar atenção também ao
fato de que Laertes, amigo de Hamlet, amigo
de verdade, apesar ou talvez mesmo através
de sua rivalidade, vem a ser sua imagem
especular, tal qual ele mesmo o diz quando