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O tradutor se vê então fisgado por pelo menos quatro forças. Por um lado, as tradições
o inclinam a empregar
fenda
,
abertura
e
cisão
segundo os casos. A regra tácita de não
dar traduções diferentes de um mesmo termo em contextos similares, por outro lado, o
impulsiona a utilizar
fenda
em todos eles, em detrimento da correção do resultado. Além
disso, a necessidade de traduzir o impede de deixar intacta a palavra
fente
e recorrer a
incômodas notas de esclarecimento. Por último, a responsabilidade por estabelecer o texto
castelhano o obriga a não apagar as pegadas da (conjeturada) dupla intenção do autor.
A solução adotada em tal beco sem saída consistiu em conjugar a pluralidade de sentidos
com a unicidade do significante que os condensa (
fente
, incluído entre colchetes) e, assim,
romper, seguindo Lacan, com a tradição que verte
Spaltung
e
splitting
por cisão.
O leitor julgará se esta solução foi acertada ou não.
NOTAS
[1]
L’orientation lacanienne, curso de 19 de enero de 2011 (inédito).
[2]
Splitting hairs, diria um inglês; couper les cheveux en quatre, um francês.
NT
– L’objet fendu do original em francês foi traduzido ao português como objeto cindido (LACAN, Jacques. O Seminário, livro 6: O
desejo e sua interpretação. Rio de Janeiro: Zahar, 2016. Col. Campo freudiano). Talvez o termo gap seja mais adequado para traduzir
splitting, mantendo a fidelidade com fenda.
Artigo originalmente publicado em: Virtualia. Revista digital de la EOL, n. 28, Buenos Aires, julio 2014.
http://virtualia.eol.org.ar/028/template.asp?Anticipo/La-hendidura-subjetiva-en-el-Seminario-6.html
Tradução: Roberto Dias
Revisão: Luiz Gonzaga Morando Queiroz
Gerardo
Arenas
Psicanalista emBuenos Aires, membro da AMP/EOL,
do Instituto Oscar Masotta e de Acción Lacaniana.
Tradutor para o espanhol do Seminário, livro 6;
de
El mito individual del neurótico
,
El Seminario
,
Libro 19
,
...o peor
, e de seminários de Jacques-Alain
Miller (
Donc
e
El lugar y el lazo
). Autor de La flecha
de Eros (Buenos Aires: Grama, 2012);
En busca de
lo singular
: el primer proyecto de Lacan y el giro de
los setenta (Buenos Aires: Grama, 2010);
Usos de la
interpretación en las psicosis
(Buenos Aires: Russell,
2001);
Estructura lógica de la interpretación
(Buenos
Aires: Atuel, 1998).