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A tragédia de Hamlet, príncipe da

Dinamarca

, se desenvolve entre personagens

inesquecíveis. Digamos, para começar, que

Ofélia não é o espelho de Hamlet, mas

que, precisamente, ela é a oportunidade

de que surja o objeto que não tem imagem

especular. Ofélia é para Hamlet a ideia que

ele tem do ser: ou é uma condenação ou é

um dom. Se, por um lado, Ofélia representa

a matriz, Hamlet assinala que desta matriz

sairão novos condenados. Se, por outro

lado, Ofélia é o objeto mais precioso, o

objeto excelente, se é o que vem a completar

o narcisismo masculino de Hamlet, se

responde à figura do que significa seu nome

- como diz Lacan: o

phallos

, o falo -, então

Ofélia é o signo propício do dom do amor. É

nesta vacilação onde se joga a ambiguidade

da atitude de Hamlet com Ofélia. Mas a

estes dois aspectos de Ofélia é necessário

acrescentar um terceiro passo: é o de Ofélia

morta. E é aí onde já não restam miragens;

Ofélia morta é a oportunidade para que

o herói pronuncie seu

cogito

e assuma seu

ser:

This is I, Hamlet the Dane

. O que quer

dizer: “A mim, cabe-me fazer seu luto; e com

o trabalho deste luto assumo meu desejo”.

Cláudio, num sentido, é um personagem

edípico, que fez o que Hamlet não se

atreve a fazer: matar o pai; mas, ao mesmo

tempo, encarna o poder real. Embora há que

dizer que, como político, resulta bastante

medíocre: se, por um lado, consegue deter

a ofensiva de Fortinbrás, por outro aparece

como um rei culpabilizado, dividido

portanto, e que não pode chegar a estar à

altura. De fato, com suas decisões políticas,