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A fenda

subjetiva no

Seminário 6

Gerardo Arenas

Na

aula

inaugural

de seu último curso,

Jacques-Alain

Miller

disse que estabelecer

O Seminário de Jacques

Lacan

é traduzi-lo, já

que implica conjeturar,

repetidamente,

qual

teria sido a intenção

de Lacan, o que teria

querido dizer... embora

não o haja dito ou o

tenha feito de maneira

obscura,

imperfeita.

[1]

Quem traduz um

seminário já estabelecido

por Miller tampouco

pode tornar óbvio o

passo dessa conjetura, na

mesma medida em que

para fazer uma tradução

é desejável ter presente o

texto original, que nesse

caso também falta. A

diferença radica em que

pelo menos conta com a tradução de Miller. Portanto, estabelecer é traduzir. E a recíproca,

também vale? Em algumas ocasiões sim, embora dentro de limites mais estreitos.

Mostrarei isso mediante um exemplo que escolho pelas dificuldades que me colocou e pelo

ensino que me deixou como saldo: o da tradução do termo fente (fenda) nos capítulos

XXIII e seguintes do

Seminário 6, O desejo e sua interpretação

.

Na verdade, nenhuma das passagens pontuais onde

fente

aparece coloca problemas de

interpretação. Quando alude ao postigo através do qual um voyeur pode espiar,

fente

é

fresta

ou

rachadura

. Se se refere à braguilha que se abre no gesto exibicionista,

fente

é

furo

ou

abertura

. E naquelas circunstâncias em que pretende dar uma imagem da estrutura do

sujeito, uma longa tradição verte

fente

por cisão ou por

divisão

.