
#04
Editorial
Com emoção e responsabilidade, apresentamos à comunidade analítica da EBP-LO nosso último Boletim (DES)EQUILÍBRIO, o de número 4 – perfazendo o total de 5 publicações. Na rubrica “Texto de orientação”, temos a pérola de nosso convidado à escrita, Niraldo de O. Santos (EBP/AMP), que nos atualiza sobre “O isolamento e o rechaço ao outro”, localizando um modo de sofrer e uma dificuldade de amar presente em nosso tempo, no qual os sujeitos vivem sob o imperativo da produção e do trabalho, restando pouco desejo e amor para o encontro com um parceiro. O autor finaliza com a oferta do encontro com o psicanalista, que pode estar no horizonte como um modo de fazer circular a palavra e apostar no amor de transferência, como uma via de abertura para o laço social.
Em seguida, na rubrica Corda Bamba, temos o precioso comentário de Oscar Reymundo (EBP/AMP) sobre uma citação de Éric Laurent n’A Batalha do Autismo.
Na sequência, na rubrica Cartéis fulgurantes, temos os textos de dois cartelizantes, Luisa Carvalho e Gabriel Caixeta (ambos da NPJ/EBP). Luisa desvela sobre o estatuto do corpo na parceria de devastação e destaca que se trata de um corpo que se identifica ao objeto dejeto do Outro. Gabriel, por sua vez, reaviva a posição de Lacan no que se refere ao funcionamento de cartel, ao dizer que este dispositivo funciona como uma maneira de “ofertar um pedaço de si” para o Outro, que neste caso é a Escola, tornando assim possível a transmissão de saber, que circula dentro e fora.
Para finalizar, além de conferirem as indicações da comissão de acolhimento para hospedagem e alimentação, terão, também, o convite e as orientações para participarem de nossa festa, “Deu Match.”
Nos trilhos dos bons encontros, desejamos que se deliciem nessa leitura!
Luisa Carvalho
Ordália A Junqueira

TEXTOS DE ORIENTAÇÃO
O isolamento e o rechaço ao outro
NIRALDO DE OLIVEIRA SANTOS (EBP/AMP)
Já no início do Seminário 19: …ou pior, Lacan1 adverte que os psicanalistas não deveriam se arvorar em assegurar a felicidade conjugal, muito menos ocuparem o lugar de protetores dos casais. Quando isso acontece, diz Lacan, é devido ao desconhecimento de que não existe a relação sexual. Porém, parcerias são sempre possíveis e devem estar no horizonte.
Após circunscrever o trecho acima, destaco uma questão presente no argumento para as VI Jornadas da EBP – Seção Leste-Oeste “Encontros e desencontros – Parcerias sintomáticas”, que considero de extrema importância para a clínica psicanalítica em nossos dias: “Como são construídas as parcerias sintomáticas diante da fragilidade do simbólico, com a pulsão de morte que invade (…) na solidão de um gozo, frente às telas da internet?”2.
No que diz respeito às parcerias, sempre sintomáticas – uma vez que não há proporção entre os sexos –, podemos circunscrever dois modos de acesso ao Outro: pela via do objeto a, que vai em direção ao gozo do corpo próprio, passando pelo Outro pela via do circuito pulsional; e pelo acesso ao Outro por meio do amor, que não deixa de lado o corpo, mas valoriza a palavra. O mais frequente é que a via da parceria amorosa seja uma forma privilegiada de operar uma localização do gozo, um ponto de basta para o excesso. Porém, alguns falasseres não parecem tão dispostos a pagar seu preço em nossos dias.
Philippe La Sagna apresenta exemplos de sujeitos que evitam o encontro com o Outro, pois este pode deixá-los, pode desaparecer, causar sofrimento. Segundo ele, os sujeitos contemporâneos se encontram com um novo parceiro, que ele chama de mundo: “…um mundo em que o Outro desaparece um pouco mais todos os dias”3. Mas La Sagna nos apresenta uma interessante teoria de que a solidão, constitutiva, marcada pelo Um que não é compartilhável, é absolutamente diferente do isolamento, e propõe que seja construída uma espécie de “solidão para si”. “A partir desse momento, é possível não ter mais medo de ir em direção a um Outro que corre o risco de desaparecer, porque sempre é possível se ‘refugiar’ nessa solidão”4.
Essa via de rechaço ao Outro foi também abordada, a seu modo, pelo filósofo Byung-Chul Han. Vejamos algumas passagens que se articulam aos excessos característicos do capitalismo e suas consequências nas parcerias contemporâneas. Para Han, está em curso algo que sufoca essencialmente o amor, que ele chama de a erosão do Outro, caminhando “cada vez mais de mãos dadas com a narcisificação do si-mesmo”5: “Não se pode amar o outro, a quem se privou de sua alteridade; só se poderá consumi-lo”6.
O autor também adiciona um fator complicador no mundo contemporâneo: cada vez mais os sujeitos serem empreendedores de si mesmos. O sujeito do desempenho, como ele chama, seria supostamente livre na medida em que não está submisso a outras pessoas que lhe dão ordens e o exploram. Porém, o paradoxo apontado por Han é que o sujeito empreendedor de si mesmo acaba por explorar a si mesmo; o explorado é o mesmo explorador, vítima e algoz ao mesmo tempo.
Vivemos, hoje, no estágio histórico no qual senhor e escravo formam uma unidade: seríamos senhores-escravos ou escravos-senhores, “onde o neoliberalismo, com seus impulsos do eu e de desempenho desenfreados, é uma ordem social da qual eros desapareceu totalmente”7. Aqui, Han nos fala de sujeitos que simplesmente sobrevivem e que se parecem com mortos-vivos, que são por demais mortos para viver e por demais vivos para poder morrer. Isso nos faz lembrar as palavras de Lacan: “Toda ordem, todo discurso aparentado com o capitalismo deixa de lado o que chamaremos, simplesmente, de coisas do amor”8.
O excesso de trabalho vindo dos “empreendedores de si mesmo” tem sido apontado por alguns como o que leva a uma deflação do desejo, uma exclusão do interesse pelos parceiros, pois todo o tempo e energia já foram gastos em outras atividades. O mesmo vale para a compulsão por pornografia digital, outra queixa presente na clínica. O pornô digital oferta uma gama de fantasias filmadas e disponíveis na “prateleira” dos sites, à disposição a qualquer hora nos celulares conectados. Nesta via, o objeto a abandona seu lugar de causa de desejo e passa a ser objeto de puro gozo. Ter o fantasma pré-fabricado e ao alcance do bolso faz com que alguns se defendam do encontro sexual – que é sempre faltoso.
Em todos os casos, importa investigar as diferenças entre o que se passa no circuito do desejo e do fantasma – implicando o objeto a como causa –, e na iteração do Um de gozo pela via do mais-de-gozar. A oferta do encontro com o psicanalista pode estar no horizonte como um modo de fazer circular a palavra e apostar no amor de transferência, como uma via de abertura para o laço social.
71 Lacan, J. “O Seminário, livro 19: … ou pior”, p. 18.
2 Rúbio, C.L.F.F. Argumento. VI Jornadas da Escola Brasileira de Psicanálise – Seção Leste-Oeste: “Encontros e Desencontros – Parcerias Sintomáticas”. https://ebp.org.br/slo/vi-jornadas-ebp-secao-lo-encontros-e-desencontros-parcerias-sintomaticas-argumento/
3 La Sagna, P. “Do isolamento à solidão”. In: Carta de São Paulo. Revista da Escola Brasileira de P4sicanálise – São Paulo. Ano 27, nº 1, maio de 2020, p. 92.
4 La Sagna, P. Idem, p. 93.
5 Han, B-C. “Agonia do eros”. Petrópolis: Vozes, 2017, p. 8.
6 Han, B-C. “Agonia do eros”, p. 27.
7 Han, B-C. “Agonia do eros”, p. 52.
8 Lacan, J. “Estou falando com as paredes: conversas na Capela de Sainte-Anne”. Rio de Janeiro: Zahar, 2011, p. 88.

Corda Bamba
“(…) Isso supõe tornar-se o novo parceiro do sujeito, com exclusão de qualquer reciprocidade imaginária e sem a função da interlocução simbólica. Como consegui-lo sem que o sujeito sofra uma crise impossível de suportar?”
[Éric Laurent: “A Batalha do Autismo”. pg.54-55]
Comentário de Oscar Mario Reymundo (EBP/AMP):
Se o autista não é um sujeito que fala, uma vez que rechaça a instituição da linguagem, então ele é um corpo que se goza sozinho sem recurso ao Outro, sem alteridade e sem que a ordem simbólica funcione como lugar onde ele possa ser representado. Considerando que no autista a imagem de unidade do próprio corpo não foi produzida, podemos pensar que a imagem do corpo do outro se apresenta de modo fragmentada, isto é, reduzida a uma presença fragmentada, voz e olhar. Assim, o outro será aceito se o sujeito fizer uso do corpo do outro como sendo uma extensão do próprio corpo.
CARTÉIS FULGURANTES
LUISA CARVALHO (NPJ/EBP-SLO)
De acordo com Miller (2015), a devastação seria o retorno ao falasser da demanda infinita de amor, como também pode ser um amor que não encontra correspondência ou que não encontra um signo de amor do outro que possa servir de âncora. Assim, o que se mostra é a face de sofrimento nas parcerias amorosas, o que leva a Miller (2015) a concluir que a devastação seria…
O cartel fulgurante em uma Jornada da Escola
GABRIEL CAIXETA (NPJ/EBP-SLO)
Por que eleger o cartel fulgurante como dispositivo privilegiado para produção de uma Jornada de Escola? Creio que podemos tomar esta invenção como uma aposta no trabalho de revalorização do dispositivo de cartel, cunhado por Lacan em 1964, no momento do Ato de fundação de sua Escola. Neste momento, Lacan…

Informes
ACOLHIMENTO
“Em breve disponibilizaremos via e-mail, Instagram e em nossos grupos de Whatsapp dicas de onde comer por Goiânia. Ansiosos para nosso encontro.”
Nos Boletins anteriores, uma lista foi preparada com algumas sugestões sobretudo no que se refere às hospedagens e dicas gastronômicas. Repetiremos aqui.
FESTA “Deu Match”:
Convidamos você que nos acompanhou desde o início para participar da festa “Deu Match!”, uma festa preparada com muita alegria e animação e que encerra dias de trabalhos realizados com muito afinco. Nos encontraremos dia 11/10, às 20h, com DJ e Drink de entrada, no melhor bar de Goiânia: Zimbro Cocktails. Venha festejar conosco!
Localização: Alameda Ricardo Paranhos, 59, Setor Marista, Goiânia-Go.
Reserve seu ingresso, pois as vagas são limitadas! Para isso, faça um pix para a chave: 43379815000136 no valor de R$ 90,00. Envie o comprovante para o e-mail: ebpslo.info@gmail.com e lembre-se de identificar no corpo do e-mail a quem se refere o (s) pagamento(s). Teremos uma lista dos nomes na recepção do Bar. Aproveitem!!

Direção Geral
DIREÇÃO GERAL: Alberto Murta (AME-EBP/AMP) – Diretor Geral da EBP-SLO
COORDENAÇÃO GERAL: Ceres Lêda F. F . RÚBIO (EBP/AMP)
CONVIDADO INTERNACIONAL: Pierre SIDON (ECF/AMP)
Coordenadora: Ordália A. Junqueira (EBP/AMP). Caroline Quixabeira (NPJ/EBP); Cristina Alves/GO;
Fábio P. Barreto (EBP/AMP); Gabriel Caixeta (NPJ/EBP); Luísa Carvalho (NPJ/EBP); Melissa Fukuchi/DF; Juliana Melo/GO.
Designer: Bruno Senna