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Une nouvelle amie – François Ozon – 2014 (Uma nova amiga)

Por Rosangela Ribeiro
Fonte: https://www.france.tv/films/longs-metrages/11647-une-nouvelle-amie.html
Fonte: https://www.france.tv/films/longs-metrages/11647-une-nouvelle-amie.html

“Chamemos heterossexual, por definição, aquele que ama as mulheres, qualquer que seja o sexo próprio.” (p. 467) Essa assertiva de Jacques Lacan, presente em “O Aturdito” (2003), orienta nossa leitura do filme Une nouvelle amie (2014), de François Ozon, que traz como tema a questão do gênero.

Caro (a) leitor (a), há spoilers em nossas brevíssimas palavras! Sentimos muito! Neste filme, acompanhamos todas as fases, da infância até a idade adulta, de amizade entre Claire (Anaïs Demoustier) e Laura (Isild Le Besco). Laura dá à luz a um bebê e, no meio do caminho, uma faceta do real se impõe: sua morte. A amiga Claire, no entanto, promete cuidar tanto do bebê quanto do viúvo, David.

Em certo momento do longa, Claire surpreende-se ao ver David usando tanto as roupas de Laura quanto sua maquiagem. Ele se justifica dizendo que sempre teve uma mulher interior aprisionada pelo matrimônio e, agora, desejante de uma maior liberdade.  Laura conhecia esse desejo do marido e o apoiava. David, cuja escolha objetal é heterossexual, veste-se de mulher dentro de casa. Durante seu luto, David entrega-se mais ao dress code feminino não apenas para se sentir mais próximo da amada perdida, mas, também, para suprir, à filha, a ausência da mãe. David assume sua forma de gozo e passa a se apresentar à sociedade como Virgínia. As cenas entre Claire e David são permeadas por um erotismo em constante movimento: eles aproximam-se; repudiam-se; retornam a si; tocam-se, e suas pernas se encostam. Um jogo de xadrez, assim, lançado; e, nessa partida, atacam-se e se defendem.

Lemos da seguinte maneira: se a diferença sexual não se inscreve no inconsciente e que masculino e feminino são apenas semblantes, podemos, então, dizer que a realidade do inconsciente é sexual, e que ela se dá pela via do gozo que itera e se aloja no sinthoma. Dessa maneira, prefixos como hétero- e homo- não correspondem a identidades. São, todavia, modos de amar e de gozar. É com um olhar para além do Édipo que indicamos esse filme. Mais do que um filme, Une nouvelle amie poderia ser um estudo de caso, à medida em que traz à tona o sentimento confuso, um percurso de descobertas face a um real que se impõe e, em torno do qual, pode-se historiar, construir uma narrativa do desejo.

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