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Ruskaya Maia – EBP/AMP
Diretora Geral da EBP-LO

Por que fazemos Jornadas?

Pensei nessa pergunta para dar início a uma convocação ao trabalho. A tentativa é a de avivar um pouco o interesse de cada um por esse fazer. E, talvez, se cada um se puser a pensar sobre essa questão, é o próprio automaton da formação do analista que pode ser tocado. Nesse sentido, uma jornada deixa de ser uma atividade que comporia certo automaton das seções da Escola para se tornar algo que possibilita um encontro com o vivo do desejo de cada um em sua formação.

Muito se repete sobre o tripé freudiano na formação do analista, quando se cita a importância da análise, da supervisão e da teoria analítica. Penso que podemos tirar mais conseqüências dessa proposta ao perceber que não se trata de momentos estanques, separados no tempo e no espaço, e nem mesmo são como os diferentes movimentos que compõem uma sinfonia. Esses três termos são, na verdade, totalmente imbricados e indissociáveis, implicados entre si: Assim como a análise se liga intrinsecamente à supervisão, ela traz seus efeitos na abordagem dos textos psicanalíticos. Da mesma forma, a experiência com o texto leva para a supervisão e também para a análise, conseqüências. E, sem os outros dois, a supervisão, de modo algum, se sustenta como tal.

Se, na Escola de Lacan, a formação do analista não é preconizada como um programa nos moldes de um curso universitário, é porque essa formação se dá por imersão, como bem desenhou Jacques-Alain Miller em seu texto Desbastando a formação analítica: “Ele [Lacan] pensava, antes, numa formação por imersão, isto é, uma formação na qual o sujeito se imergiria em um meio de saber que o convidaria a nadar, a inventar seu próprio caminho em um ambiente epistêmico”[1]. Assim, cada analista em formação traça seu próprio curso, seu caminho próprio.

A partir dessa proposta, a Escola forja seus dispositivos: temas, encontros, carteis, revistas, jornadas, congressos. E o mais candente é que, em todos esses dispositivos, o que está em questão não deve ser a acumulação de um saber, mas a experiência do testemunho, do por de si, da implicação, da libra de carne ao tomar a palavra falada ou escrita. O que se produz então, nesses dispositivos, é fruto do que se pôde ceder ao Outro, como o resultado mesmo de uma extração nesse percurso que é o de formação de um analista.

“Todo mundo é louco” foi o aforismo de Lacan escolhido por Jacques-Alain Miller como tema do próximo Congresso da AMP e, dessa forma, tornou-se orientação clara para os trabalhos da comunidade do Campo Freudiano para os dois anos seguintes. Miller o anunciou no encerramento da Grande Conversação Virtual da AMP A Mulher não existe, que aconteceu entre os dias 31 de março e 03 de abril de 2022. Tal afirmação de Lacan circulou muito entre nós há alguns anos. Cito Miller: “Pelo fato de eu tê-lo pinçado, comentado, repetido, esse aforismo entrou na nossa língua comum, a da AMP, e naquilo que poderíamos chamar de nossa doxa. Tornou-se, até mesmo, uma espécie de slogan[2]. Da citação ao Slogan, o que a frase perde é seu contexto, já que como tal pode se destacar de sua origem e seguir sozinha, o que pode gerar equívocos em sua leitura e, sobretudo, nos adormecer diante do real que ela visa apontar. Portanto, trata-se, agora, de fazer o movimento contrário: recontextualizá-la, desdobrá-la, perceber suas sutilezas e seu caráter paradoxal e, especialmente, fazer uso dessa máxima para estar “ao passo de nossa era” [3]. Esse espírito é o que anima as IV Jornadas da EBP-LO, que terão como tema “Que Loucura é essa?”.

Elas acontecerão nos dias 15 e 16 de setembro de 2023 em formato híbrido, presencial e remoto. Sendo que a parte presencial terá lugar em Brasília, local que já vinha sendo fortemente cogitado para abrigá-las a propósito da consolidação da sede da SLO naquela cidade. Entretanto, a conclusão por Brasília se impôs à Diretoria, ainda adjunta, a partir dos acontecimentos sinistros e antidemocráticos de 8 de janeiro, ocasião em que os Poderes da República foram aviltados por atos obscenos de violência e vandalismo. Assim, a escolha da sede das Jornadas conjuga também uma pretensão: a de tornar a psicanálise presente frente ao neofascismo. Uma resposta à subjetividade da época, para utilizar as palavras de Lacan tão debatidas entre nós. Assim ‘ocuparemos’ Brasília com os significantes da Orientação Lacaniana!


[1] Miller, J-A, Desbastando a formação analítica. In Sabiá, revista de psicanálise da Seção Leste-Oeste da EBP, ano O, vol I, p. 25.
[2] Miller, J-A, Todo mundo é louco. In Opção Lacaniana 85. p. 9
[3] Miller, ibidem, p. 11
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