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Entrevista com Elisa Alvarenga sobre o Eixo temático 4 – As Fórmulas da Sexuação

Fonte pixabay

Fonte pixabayGabriel Caixeta: Qual a importância dessa formulação de Lacan sobre a sexuação na clínica de orientação lacaniana?

Elisa Alvarenga: Essa formulação da sexuação de Lacan ela é muito importante para pensar a contemporaneidade e a diversidade sexual que se apresenta na juventude, não só na juventude, mas na atualidade, com a multiplicidade de nomeações e de escolhas, tanto do ponto de vista das identificações sexuais, quanto do ponto de vista da escolha de objeto.

As fórmulas da sexuação, de Lacan, permitem pensar na maneira como o ser falante pode se posicionar como homem ou como mulher, ou com as nomeações que tem se escolhido atualmente, como não binárias, enfim, a série toda das nomeações. Se pensarmos isso a partir de dois semblantes, dois significantes que existem na língua, que são homem e mulher e, a partir do momento em que Lacan fala que existe mulher cor de homem e homem cor de mulher, isso significa que a identificação sexuada não se dá pela anatomia. Então, quando Lacan escreve, com as fórmulas da sexuação, lado do homem: para todo X phi de X, ou seja, a identificação do lado fálico da sexuação, ele postula que aí haveria a exceção e a regra para todo X. E, quando ele escreve do lado feminino: não todo X phi de X, observe bem que ele não escreve para todo X não phi de X, ou seja, para todo X não haveria castração. Não, Lacan não escreve isso. Lacan escreve: Não para todo X phi de X, ou seja, não toda a sexuação se dá a partir do falo. Há uma parte da sexuação que vai além do falo. Então, ele introduz, para cada ser falante, a possibilidade de passar pelo falo ou não passar pelo falo. E, ainda mais, passando pelo falo, de ir além do falo, que seria, então, o lado feminino das fórmulas da sexuação.

Lacan não faz uma simetria entre o lado masculino e o lado feminino, mas ele abre a possibilidade de pensarmos a sexuação para além da marca fálica, que seria uma significação a partir do Nome-do-Pai, a partir da metáfora paterna. Então, a importância da sexuação e das fórmulas da sexuação é ir além do pai, ir além do patriarcado, ir além da sexualidade pensada a partir da referência masculina, paterna e fálica. Então, a possibilidade de pensarmos a sexualidade para além do Édipo, e para além das figuras do Édipo, e a partir da linguagem, a partir da incidência do significante no corpo do ser falante. Então, me parece uma importância fundamental, porque, para cada ser, haverá uma marca produzida pelo significante no corpo, ou seja, uma marca de gozo que vai se tratar de buscar e de circunscrever, a partir da análise de cada um. A sexuação tem a ver com essa marca, essas marcas dos significantes no corpo e a maneira como o sujeito conjuga as marcas significantes com aquilo que ele experimenta no corpo. A sexuação leva em conta, não apenas as marcas significantes, mas o gozo experimentado pelo ser falante no seu corpo.

Gabriel Caixeta: Você poderia falar um pouco sobre a diferença entre sexualidade e sexuação na psicanálise?

Elisa Alvarenga: Quando a gente fala em sexualidade, eu logo penso em um capítulo do Seminário 11 que se chama “A sexualidade nos desfiladeiros do significante”. Então, de alguma forma, isso tem a ver com as marcas significantes produzidas no corpo, as identificações sexuadas e a escolha de objeto. Em Freud, se a gente for pensar o texto clássico que é Três ensaios sobre a teoria da sexualidade, poderíamos dizer que Freud pensa a sexualidade a partir das normas sociais, a partir da incidência da lei paterna e das normas sociais. Tanto que, se formos ver as três partes dos Três ensaios, veremos que Freud vai tratar da sexualidade, a partir daquilo que se transmite, como a partir do Édipo e da castração. Então, nós teremos a interdição e as transgressões, as perversões sexuais, por exemplo, no capítulo das transgressões. Teremos as pulsões, as manifestações pulsionais, e tudo isso poderia ser incluído no que se chama de sexualidade humana. Diferente da sexualidade dos animais, que seria um saber inscrito no corpo instintual. Então, diferentemente do animal, o homem tem que fazer escolhas. O homem não sabe como fazer existir a relação entre um sexo e o outro sexo, ou entre um ser falante e outro ser falante, o que Lacan chamou com a expressão “não há relação sexual”, ou seja, a relação sexual entre os humanos não é um saber instintual inscrito no corpo, e por isso, o homem vai ter que fazer escolhas.
A sexuação implica em uma escolha. Implica na maneira como o sujeito vai se virar com as suas identificações e com as suas experiências de gozo. A maneira como ele experimenta o gozo e vai de alguma forma tentar se virar, para além da marca fálica, ou aquém da marca fálica, como alguém vai se virar com as marcas que o significante fez no seu corpo.

Gabriel Caixeta: Como o eixo temático em questão toca no mistério da sexuação, tema das nossas jornadas?

Elisa Alvarenga: Me parece que, o que a nossa jornada nos convoca a pensar, a maneira como os sujeitos que nos procuram para tratamento, ou para fazer uma experiência de análise, como eles podem se virar com aquilo que os determina e, com aquilo que eles encontram como soluções sintomáticas para tratar os seus modos de gozo.

A sexuação, o mistério da sexuação implica, como eu disse, em uma escolha. E essa escolha tem a ver com a maneira como o inconsciente se inscreve no corpo de cada um. Então, pensar esse mistério da sexuação é pensar a relação de cada ser falante com o inconsciente, inconsciente real, enquanto marca de gozo produzida pelo significante no corpo. E, a maneira como esse inconsciente real pode ser endereçado a um analista, se tornando, então, o inconsciente transferencial. E, como essa experiência de análise, na nossa jornada pode ser apresentada, pode ser trazida a partir de casos clínicos. E, a partir de elaborações da teoria, a partir da prática analítica, como isso pode nos mostrar a maneira, a diversidade e a singularidade de cada caso, para além das particularidades estruturais e das particularidades clínicas da nossa prática.

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