15 de setembro de 2022
Editorial – Boletim arranjos #3 – A Sexualidade em Freud
Por Renata Tavares Imperial – Coordenadora da Comissão do Boletim Arranjos
No Boletim Arranjos #3 estamos inaugurando uma série em que cada Boletim irá abordar um dos Eixos Temáticos das III Jornadas da Seção Leste-Oeste. O eixo A sexualidade em Freud abre esta cadeia de temas em torno de O Mistério da Sexuação.
A contribuição de Freud sobre o tema da sexualidade é inquestionável. Com Freud, aprendemos que a subjetivação do sexo é um processo complexo e cheio de desvios. Diante desta complexidade, mais do que explicar o inexplicável do sexual, Freud inventa uma práxis que dá lugar às questões sexuais e convoca cada um a colocar em palavras o modo como se arranjou com sua pulsão e com as exigências sociais.
Na época de Freud, a sociedade demandava a construção de contenções às manifestações da sexualidade. Portanto, era esperado que os educadores e os médicos prescrevessem manuais de condutas e programas de educação sexual. Freud, como médico, não se restringiu a estas exigências: inaugurou uma escuta aberta ao sexual, ou seja, criou condições para que as mulheres falassem aquilo que comparecia em seus corpos. Seus sintomas somáticos ganharam o estatuto de mensagem a ser decifrada. Freud foi corajoso e revolucionário ao escutar, identificar e sustentar que o padecimento de suas pacientes estava ligado às questões de ordem sexual e que remontavam à infância.
A sexualidade, sobretudo a feminina, não deixou de ser uma pedra no caminho de Freud. Com ela, Freud construiu a base da práxis psicanalítica. O real do sexo continua sendo essa pedra no caminho, continua nos fazendo tropeçar, nos esforçar em bem dizer – num esforço de poesia – e sustentar a ética psicanalítica, como na belíssima carta que Freud escreveu em resposta às angústias de uma mãe sobre a homossexualidade de seu filho[1]. A despeito de seus 87 anos completados neste mês de abril, esta carta permanece atual e cumprindo a sua função de transmissão da psicanálise, clínica e politicamente.
O texto de Ary Farias, A sexualidade em Freud, é o ponto de partida. Assim, convidamos que o releiam (no Arranjos #1) e façam um bom uso dele como um dos eixos norteadores de pesquisas e de escrita de trabalhos.
Neste terceiro Boletim Arranjos, os textos foram escritos tentando contemplar os conceitos freudianos: sexualidades feminina e infantil, pulsão, complexo de Édipo, além de buscar uma aproximação com a atualidade, com a cultura e com os avanços teóricos feitos por Lacan.
Muito preciso e conectado com a cultura é o texto de Gilson Ianini, Libido não tem gênero, que testemunha como os conceitos freudianos permanecem vivos e incisivos na contemporaneidade. Agradecemos ao autor por ter autorizado a publicação de seu texto neste Boletim.
Sigamos inspirados na coragem de Freud!
Uma boa leitura!