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Editorial Boletim Arranjos #09

Por Ana Paula Fernandes Rezende
Foto de Ana Paula Fernandes Resende
Foto de Ana Paula Fernandes Resende

Enfim chegamos a setembro, mês que vai acontecer a nossa III Jornada da EBP-LO! Foram meses de muito estudo e pesquisa, sobre o tema que nos inquietou durante o ano de 2022 e nos colocou a trabalho: “O Mistério da sexuação”. A sexuação é um tema muito atual que nos instiga a conversar, debater, refletir sobre a subjetividade da época, a eleição inconsciente do sexo, o objeto sexual, as diferentes formas de nomeações, as parcerias amorosas, a posição de gozo e os arranjos singulares que cada um inventa para si.

O Boletim Arranjos #09 vem para coroar essa reta final, com textos que nos colocam a reflexão de forma crítica e consistente sobre assuntos delicados como: o gozo feminino, a psicose ordinária, o sexo na psicose e os debates sobre o gênero.

Alberto Murta no texto “D’A mulher para a: de um Outro ao outro”, faz um paralelo entre o gozo feminino, enigmático, com o gozo absoluto, correspondente ao significante fálico. O falo como representante de um gozo sexual. Ele aponta que a histérica faz do lugar da mulher um suposto saber, já que ela sabe o que é preciso para fazer o homem gozar. Dessa forma, sua posição subjetiva está regida pela lógica fálica. Com isso, questiona como sair desse modo de funcionamento? Para responder, se orienta para o fundo enigmático do gozo, onde abre mão da reinvindicação fálica para outra modalidade de gozo: o objeto a. O falo como estatuto do gozo absoluto, limitado, universal, articulado à castração, do lado do masculino e a mulher localizada como não-toda fálica, situada do lado do Um, do gozo feminino, o gozo como tal.

Ordália A. Junqueira elabora um texto instigante “O mistério da não-sexuação”, quando traz a psicose ordinária como referência a uma clínica delicada e que convoca ao analista observar os pequenos indícios de uma desordem provocada na junção mais íntima no sentimento de vida do sujeito. Ela indaga a importância do simbólico como um organizador do mundo imaginário, em que a metáfora paterna (NP) produz uma perda de gozo, a castração (-ⱷ), porém, afirma que na psicose isso não acontece. Na psicose, a não extração do objeto a, deixa como consequência um gozo “a mais” e dessa forma, o gozo sexual se organiza pelo imaginário, pela não-relação com o falo, colocando o sujeito diante de um gozo ilimitado. Assim, ela enfatiza que o encontro com o analista, sob transferência, poderá ajudar o sujeito lidar com essa desordem na sua constituição da vida sexual, através de invenções singulares.

Regina Cheli Prati em “A ‘ordem da corda’ e o sexo nas psicoses”, busca responder sobre a questão de como o sujeito sem referência fálica, sem contar com a fantasia fundamental se orienta na vida sexual, uma vez que é a extração do objeto a que dá o enquadramento. Ela traz um caso clínico para mostrar como o sujeito inventou uma saída, através ‘da ordem da corda’ para enfrentar a vida e os descompassos da sexualidade, utilizando da palavra e da presença do analista, para saber fazer com o vazio.

Cristina Alves traz uma discussão muito atual em “A psicanálise e os debates sobre o gênero”, quando aponta as diversas formas de nomeações dos sujeitos no discurso social. Ela apresenta a reinvindicação de uma linguagem inclusiva, mas que está longe de tornar uma norma-padrão nos meios escolares, lembrando que as línguas são dinâmicas e se modificam de acordo com as necessidades dos seres falantes. Ela enfatiza que a psicanálise também avançou no seu estudo sobre o tema, quando parte da pesquisa de Freud, numa perspectiva falocêntrica, para Lacan numa perspectiva do gozo feminino, além do falo. Assim, a distinção entre os sexos passa a ser uma distinção entre dois modos de gozo: fálico e não-todo fálico, mostrando que psicanálise vai abordar a sexuação para além da anatomia, do Outro, da marca fálica, sem ódio a diferença e sem apagar as marcas inconscientes.

Em Per-versos, temos um trecho sobre o gozo, um depoimento de Teresa de Ávila, Livro da vida e para finalizar um trecho do filme: História de um casamento, em Pitadas.

A Jornada está sendo preparada com muito carinho e dedicação. Ela vai acontecer nos dias 23 e 24 de setembro de 2022, em Brasília, na Aliança Francesa, de modo Híbrido (presencial e remoto). Contamos com a presença de todos os participantes que acompanham as atividades da Sessão Leste-Oeste, aqueles que frequentam seus seminários, as atividades do Instituto: Biloquê (núcleo de pesquisa com criança da Nova Rede Cereda), de Psicose e Tya (toxicomania), além dos cursos introdutórios e demais encontros preparatórios. Cada eixo temático foi pensado com muito cuidado para que pudéssemos abordar o tema da sexuação passando por Freud a Lacan, discutindo sobre as parcerias sintomáticas, as estruturas clínicas até o modo de gozo singular de cada falasser.

As inscrições para a Jornada podem ser feitas até o dia 15 de setembro pelo link: https://eventos.congresse.me/slo/edicoes/slo-3-edicao/produtos.

Acompanhem nossas redes sociais e fiquem atualizados sobre a seleção de livros que está sendo feita pela Comissão de Livraria. Não se esqueça da nossa parceria com a Scriptum, portanto, é preciso colocar o Cupom EBPSLO antes de finalizar a compra.

Até em breve!

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