#00
Editorial Boletim Arranjos #02
Por Renata Tavares Imperial – Coordenadora da Comissão do Boletim Arranjos
Arranjos, esse foi o nome escolhido para os Boletins das III Jornadas da Seção Leste Oeste, O mistério da sexuação. Em se tratando de sexuação, o significante Arranjos é privilegiado na medida em que tenta cernir as ressonâncias do encontro de cada ser falante com o sexual, em termos de encontro com um real, que impele cada um a se arranjar com isso.
Em psicanálise, Arranjo, substantivo masculino da língua portuguesa, costuma vir associado ao significante singular e no plural, formando assim uma composição: “arranjos singulares”[1]. Além desta, recorremos a outras composições como “arranjos sintomáticos”[2], “arranjos fantasmáticos”[3], que aludem às possíveis e plurais amarrações que cada um deu conta de fazer com aquilo que tocou seu corpo falante, ainda na mais tenra idade.
Na atualidade, na clínica psicanalítica temos que nos haver com sujeitos que se arranjaram sem contar com o recurso do falo, do Nome-do-Pai, e ou de amarrações identitárias formatadas pelo pai. Um dos efeitos disso, é que vivemos tempos pandêmicos, não apenas de COVID 19, mas de identidades, que se proliferam, na tentativa de corresponder ao imperativo do ilimitado da contemporaneidade, na medida que não se conta com o limite fálico e nem com o limite do não-todo. Em termos psicanalíticos falamos que diante da proposição lacaniana “não há relação sexual”[4] o que há são arranjos contingentes, que podem vir a funcionar como sintomáticos e ou fantasmáticos a depender da maneira como cada sujeito tomou sua posição. Mas o que temos nos deparado na clínica são com situações em que o encontro com o sexual não fez furo, não abriu o campo da busca de um saber, mas sim provocou certos desarranjos.
Aliás, desarranjo parece ser um bom significante para representar os sujeitos atuais: sujeitos desarranjados[5]. Este pode vir a fazer série com desbussolado, dessimbolizado?
Arranjos, desarranjos, novos arranjos, assim seguimos convocando que cada um se sirva dos Boletins como fonte de questões, conceitos, referências bibliográficas, interlocuções com outros campos e com a cultura, em busca de aproximações possíveis com o tema das III Jornadas da Seção Leste Oeste, O mistério da sexuação.
Neste segundo Boletim, terão a oportunidade de saber mais sobre o artista Taigo Meireles, autor da obra que utilizamos no cartaz e nas demais comunicações destas Jornadas. Giovanna Quaglia (EBP/AMP) o entrevistou e localizou alguns pontos preciosos de suas colocações, que poderão conferir aqui. Aproveitamos para, mais uma vez, agradecer ao Taigo Meireles pela gentileza em nos autorizar o uso da imagem de sua obra Beatriz no círculo da luxúria.
Poderão também ter acesso ao texto Sexualidade virtual de Ondina Machado (EBP/AMP), que prontamente nos autorizou a publicação neste Boletim. Um texto muito atual, rigoroso e com referências precisas. Esperamos que sirva de inspiração para as investigações. Assim como, as referências bibliográficas que encontrarão em Bibliografia.
A cada Boletim encontrarão Pitadas de humor e de irreverência, além de uma sessão nomeada Per-Versos destinada a interlocução com a cultura e outros campos de saber.
Desejamos que tenham uma ótima leitura!