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Editorial Boletim amurados #05

Por Adriana Pessoa e Simone Vieira – Comissão Boletim amurados
Filme: “Tristana” – Fonte: Google[1]
Neste boletim cinco da série amurados, trazemos a temática da transferência.

O amor de transferência é um conceito singular e imprescindível da psicanálise. Qual o estatuto do amor na experiência analítica?

Caracterizado a princípio por Freud como o maior obstáculo ao tratamento, logo se revelará como sua mola mais poderosa. No artigo “Observações sobre o amor de transferência” (Freud, 1915), observamos que esse afeto não é concebido senão como um impasse, como resultante de uma repetição do sujeito. Além disso, é “a resistência fundamental” que pode tornar a experiência analítica impossível e por essa razão, ele orienta aos que praticam a psicanálise a se manterem em uma posição de abstinência.

Ao longo do ensino de Lacan, o conceito do amor de transferência não se manterá o mesmo.

Lacan (1980)[2] destaca a impossibilidade de alcançar uma complementaridade, formulando-a em termos de “não há relação sexual”. A transferência é para ele um dos conceitos fundamentais da psicanálise, sublinhando assim seu caráter de condição iniludível: “Ao começo da psicanálise está a transferência.

Na contemporaneidade, temos uma pluralidade de conceitos para o amor, inclusive o amor enquanto modalidade de laço social, onde se pretende apreender o ser do amado a fim de fazerem Um.

Sendo assim, trazemos neste boletim textos, entrevista e reflexões amuradas sobre o conceito da transferência, e a posição do analista na direção de um tratamento.

Destaque especial à entrevista com Romildo do Rêgo Barros (EBP/AMP), diretor da EBP, realizada por Rosangela Ribeiro, com importantes reflexões sobre o tema da transferência, onde ele atribui a Freud a façanha de fazer a junção do amor e do saber. Romildo articula o amor de transferência na atualidade com os novos sintomas, e o estatuto atribuído ao amor mais digno, que se dirige à singularidade de cada sujeito, possibilitando o surgimento de algo novo no percurso e, consequentemente, no final de uma análise.

Na rubrica Textos, trazemos o texto de Rômulo Ferreira da Silva Os analistas também amam? publicado na última edição da revista Lacan 21, toda dedicada ao tema do novo no amor. Ali, o autor discute as formas de relações contratuais, de relações onde os parceiros dão o que têm a quem o quer e se questiona se do lado do analista há amor.

Denizye A. Zacharias, em A transferência é amor, nos traz as discussões sobre a metáfora do amor, referenciando ao amor no curso de uma análise e o destino do mesmo ao final de um percurso analítico.

Cristina de Bocca, em A inversão da função do amor, articula uma inversão do conceito da transferência e suposição de saber. Partindo do Seminário XI de Lacan, demonstra a relação entre o sujeito suposto saber e a transferência, como condição de possibilidade de uma análise. Posteriormente, no último ensino de Lacan, a autora identifica a transferência como suporte do sujeito suposto saber.

Fragmentos de amuros, neste número, apresentam novas versões com a contribuição dos colegas da seção LO.


[1]Imagem ilustrativa do filme Tristana, uma paixão mórbida. Filme dos anos 70 de Luis Buñuel que retrata a demanda de amor feminina, a partir de uma posição demandante de Tristana entre dois homens, e o equívoco do personagem Horácio em tentar atender esta demanda. A metáfora do amor, neste filme, emerge da relação da personagem e seu amante Horácio. Na busca da completude, Tristana se vê ao final sozinha com a ilusão dos sonhos do amor UM, dialogando com este amor.
[2] LACAN J.  [(1980) 1962] O Seminário 8: A transferência. Jorge Zahar. Rio de janeiro.
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