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Boletim Devaneios #07

#07 – JULHO 2023

O que permeia a política fascista?1

Rozilene Martins – Integrante da Subcomissão de Boletim

“O indivíduo que violou um tabu torna-se, ele mesmo, tabu, porque tem o perigoso atributo de tentar outros a seguir seu exemplo. Ele provoca inveja; por que lhe deveria ser permitido o que a outros é proibido”? (FREUD, Totem e Tabu, (1912-1914,p.62).

“Em todos os casos, mesmo nas sociedades matriarcais, o poder político é androcêntrico. Ele é representado por homens e por linhagens masculinas. As anomalias muito bizarras nas trocas, as modificações, exceções, paradoxos, que aparecem nas leis da troca no nível das estruturas elementares do parentesco são explicáveis somente com relação a uma referência que está fora do jogo do parentesco e que se liga ao contexto político, isto é, a ordem do poder, e muito precisamente a ordem do significante, onde cetro e falo se confundem” (LACAN, Seminário 4, 1956-1957, p. 195).

Freud, a partir de uma constituição lendária de Totem e Tabu(1912), nos diz que a instauração da lei, da cultura, da sociedade, do coletivo tem como concordância o assassinato simbólico do pai da horda, trazendo uma relação do indivíduo com a paternidade primeva. Freud explica a condição da submissão estrutural do sujeito, sendo uma das substâncias da política e da autoridade que um homem pode exercer sobre o outro.

A política fascista está desvelando as faces libidinais do amor e ódio, eclodindo na massa com uma identificação a um objeto com o qual se alienam. Neste movimento de massa, há um rebaixamento intelectual de crítica e aumento da paixão pela ignorância em não saber, como nos diz Freud em Psicologia das Massas (1921), apenas submetendo ao fascínio pela sugestão de um pai, líder gozador que sustenta a fantasia do monopólio do gozo, em que há Um que pode tudo e, quem sabe um dia, posso ocupar esse lugar.

Como um fascista aguça a sede de uma massa que acredita existir um líder detentor do falo e cetro como sendo o Um que delirantemente creu existir, um lugar outrora vazio? O UM da exceção que ama e odeia, autoritário, mas protetor onde a massa não se responsabiliza, pois há Um que os represente em seus ideais. A lei simbólica opera neste líder que rege multidões?  Quais as consequências para a sociedade onde a massa acolhe todo o tipo de sugestão de um representante primitivo que desperta o que cada indivíduo recalcou lá na entrada da metáfora paterna, ou seja, os afetos mais hostis: ambivalência de amor e ódio, violência, rivalidade e hostilidade?

 


Referências:
FREUD, S. (1912-1914) Totem e Tabu. Trad. Paulo César. São Paulo: Companhia das Letras, 2012.
FREUD, S. (1920-1923) Psicologia das massas e análise do eu. Trad. Paulo César. São Paulo: Companhia das Letras, 2011
LACAN, J. O Seminário, livro 4: A relação de objeto (1956-1957). Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1999.
IX ENAPOL: ódio, cólera e indignação. Desafios para a psicanálise. vídeo youtube – 2019 com Éric Laurent.
Fascismo: “Movimento político e filosófico ou regime (como o estabelecido por Benito Mussolini na Itália, em 1922), que faz prevalecer os conceitos de nação e raça sobre os valores individuais e que é representado por um governo autocrático, centralizado na figura de um ditador.” ( dicionário: definições de Oxford Languages)
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