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ARTE E CULTURA

Para esta edição do MNEMIS, os integrantes da Comissão de Arte e Cultura, Letícia Rosa e Rodrigo Oliveira entrevistaram duas artistas que farão parte da Exposição Corpo, M-E-M-Ó-R-I-A, sendo elas Fabíola Menezes e Rosana Paste, respectivamente. Confira o que elas contaram sobre seus trabalhos e suas vidas entrelaçadas com a arte.

SOBRE A ARTISTA FABÍOLA MENEZES

Comissão de Arte e Cultura das V Jornadas da EBP-SLO
Título: “Das presenças que se fazem ausência ou das ausências presentes’
Tinta acrílica sobre mdf, 2010
30x40cm

LR: Para você, por que a Arte?

FM: Apesar de parecer clichê, acredito que a Arte me salva todos os dias e me traz o sentimento de pertencimento neste mundo. Sempre fui uma pessoa que se sentia um “peixe fora d’água”, e esse sentimento vem desde a infância.

Filha única por parte de mãe, aprendi a brincar sozinha e a criar o meu universo particular. Minha mãe sempre me incentivou com os materiais de desenho e gibis, então eu tinha por hábito cotidiano desenhar e ler. Na adolescência queria estudar Medicina, mas não foi possível, então, tardiamente, após ter meus dois filhos fui fazer Artes Plásticas como graduação.

No desenho e na pintura retomei aspectos que me permeavam desde a infância, e na conclusão de curso, busquei em meu trabalho final abordar o tema da morte a partir da busca da coloração do corpo morto no tom de pele de meus retratados.

O “isso já foi” de Roland Barthes, fazia presença nos retratos que pintei, a partir da ideia de permitir ao retratado se ver “morto” na contramão epicurista, a partir da coloração de sua pele: pálida, fosca e amarronzada. Como se fosse possível o retrato morrer no lugar do retratado, quase como num “retrato de Dorian Gray”.

Título: Corpo-casa
Técnica mista sobre papel, 2024
29,7x42cm

Minha pesquisa sobre a morte se estendeu no mestrado e ampliou-se também sobre o morto e o morrer nas fotografias mortuárias realizadas em Juazeiro do Norte, Ceará. E, por fim, no doutorado me reaproximei do antigo sonho da medicina e acabei por entrar num programa de pós-graduação em Anatomia na USP. Todo o meu percurso artístico esteve envolto com a capacidade que a Arte possui de se expandir em diversos territórios de conhecimento, e, por isso, considero que ela me salva todos os dias, porque me traz sentido naquilo que a vida não dá conta.

LR: Como Corpo e Memória se relacionam com o seu desenvolvimento artístico?

FM: Para mim, o corpo é a representação física de um estado de memória, e no meu trabalho, esse corpo que vive e morre, que se desenvolve e se decompõe é a lembrança constante do indivíduo que permanece após a finitude. A aproximação com a anatomia e a representação do corpo descarnado, me permite ver cada linha, traço, volume, cor de um tecido biológico, que só funciona quando integrado a este corpo e possuído de vida. O tempo da vida também existe na morte, quando este corpo se transforma em pó ou matéria orgânica irreconhecível.

Cada corpo traz em si evidências de uma existência que possui data de validade, e no desenho e pintura eu consigo perpetuar essa existência como um reflexo daquilo que já se foi. Como uma capacidade de congelar o tempo, estancar a deterioração e permitir que a imagem viva além do tempo. Um devaneio sobre o poder da existência, que a Arte permite sem que eu me sinta no lugar da onipresença ou onisciência. Um devaneio sobre ser criadora e criatura ao mesmo tempo e espaço.

 


SOBRE A ARTISTA ROSANA PASTE

Comissão de Arte e Cultura das V Jornadas da EBP-SLO

RO: Como a arte entrou em sua vida?

RP: Nasci e vivi até os 18 anos em Venda Nova do Imigrante ES. Filha de agricultores, sempre tivemos o privilégio de tradições culturais nas diversas áreas: agricultura, manualidades, alimento, autossubsistência.

Neste sentido fui criada num berço esplêndido de significados. Por exemplo: o jeito de fazer canteiros na horta é muito plástico, a maneira de lidar com a feitura das casas de pau a pique é também muito rico de materiais e plasticidade etc. Neste sentido, quando adolescente, aos 16 anos, entendi que era esse meu lugar: ressignificar tudo que me foi dado e ampliar para o campo da arte. Foi assim que descobri o que faria para o resto de minha vida.

(Exposição “Entre Camadas”. Foto: Rosana Paste).

 RO: Como sua vida entra em sua arte?

RP: Arte e vida não são coisas diferentes. Estão atreladas e uma cria rizomas com a outra. Os pontos de fuga que aprendi a partir de meus estudos somam nesta busca infinita de estabelecer esse constante diálogo.

Acho que as resposta da primeira pergunta responde a segunda também…. meus materiais utilizados em minhas esculturas, as subjetividades, os conceitos estão impregnados pela minha vida, existência e finitude.

A arte não tem impregnados, mas o artista tem seu território. O meu território é meu chão e meu pedaço de céu que me acompanham onde eu estiver. E conheço desde que nasci.

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