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O cartel fulgurante em uma Jornada da Escola

Gabriel Caixeta (NPJ/EBP-SLO) 

Por que eleger o cartel fulgurante como dispositivo privilegiado para produção de uma Jornada de Escola? Creio que podemos tomar esta invenção como uma aposta no trabalho de revalorização do dispositivo de cartel, cunhado por Lacan em 1964, no momento do Ato de fundação de sua Escola. Neste momento, Lacan[1] coloca o cartel como órgão de base de sua Escola e ensina que todo o trabalho realizado no seio de sua Escola deveria advir deste dispositivo.

O cartel também funcionaria como uma dobradiça, articulando o dentro e o fora, e, logo, uma porta de entrada para a Escola. Mas em que sentido? A entrada na Escola vai além das possíveis nomeações advindas do laço transferencial único, entre o Um e a Escola como Sujeito-suposto-Saber[2]. Gosto de pensar em uma entrada como trabalhador decidido, causado pela paixão que orienta a formação do analista – paixão pela ignorância – que pode ser colocada a trabalho para produzir um saber sobre aquilo que se impõe de real, tanto na formação, como no próprio seio da Escola, “possibilitando uma transmissão do ensino que se dá pela via epistêmica e pela experiência. Um saber que circula entre um dentro e fora, uma produção interna cujo produto é direcionado à Escola”[3], mas que retorna retroativamente sobre quem o produziu.

Pensar o cartel como dispositivo de produção de trabalhos para uma Jornada me parece fazer valer a orientação de Lacan, ao passo que permite fazer circular a transferência e o laço entre o Um e o múltiplo.  Na medida em que o múltiplo se sustenta sob transferência com a Escola, cada Um pode subjetivar seu tema, articulando o dentro (teoria) e o fora (a clínica), para ofertar um pedaço de si – seu produto –, colocando-o como engrenagem do trabalho nas Jornadas. Se as jornadas podem representar o vivo da Escola, é porque é a elas que se endereça o produto do UM, produto que, mais do que um saber, transmite um saber-fazer com aquilo que se investigou.

 


[1] LACAN, J. Ato de fundação. In: Outros Escritos. Tradução de Vera Ribeiro., Versão final Angelina Harari e Marcus André Vieira; preparação de texto Andre Telles. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003

[2] MILLER, J.-A. Teoria de Turim: sobre o sujeito da Escola. Opção lacaniana Online, n. 21, 2016. Disponível em: http://www.opcaolacaniana.com.br/pdf/numero_21/teoria_de_turim.pdf

[3] BASSO, Marilsa. O cartel em intensão e extensão da psicanálise. Escola Brasileira de Psicanálise, 2021. Disponível em: https://ebp.org.br/o-cartel-em-intensao-e-extensao-da-psicanalise/

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