skip to Main Content

CARTÉIS FULGURANTES

Luisa Carvalho (NPJ/EBP)

De acordo com Miller (2015), a devastação seria o retorno ao falasser da demanda infinita de amor, como também pode ser um amor que não encontra correspondência ou que não encontra um signo de amor do outro que possa servir de âncora. Assim, o que se mostra é a face de sofrimento nas parcerias amorosas, o que leva a Miller (2015) a concluir que a devastação seria a outra face do amor, ou seja, sua vertente de gozo. Nesses casos de devastação, qual seria o estatuto do corpo?

É importante seguir as coordenadas singulares de cada caso, afinal a devastação é um fenômeno clínico e pode apresentar nuances diferentes em cada caso, pois é um tema que introduz a lógica do não-todo. Assim, um caso que ajuda a pensar o estatuto do corpo na parceria de devastação é o paradigmático da Jovem Homossexual, de Freud (1920).

A história da Jovem homossexual está marcada por muito sofrimento, várias tentativas de suicídio e uma vida nômade, durante seus 99 anos. A Dama, retrata por Freud (1920) na descrição do caso, foi seu primeiro amor e, depois dela, houve vários outros, mas sempre com a mesma marca de não ser correspondida no amor e de devoção às moças. Desse modo, a Jovem homossexual é alguém que não encontrou seu lugar no mundo e cai dele como um objeto rebaixado, descartado do Outro, se fazendo abandonar. Na análise com Freud (1920), ela mentia e foi este o motivo que o fez interromper o tratamento, um acting out por parte do analista que hoje pode ser lido como a presença do objeto a na transferência, ou seja, o amor de transferência como uma atualização do inconsciente.

Para concluir, Fuentes (2012) diz que não faltam relatos da Jovem de cenas de humilhação materna e que ela não conseguiu extrair do desejo materno uma sustentação fálica e cai, assim, como dejeto. Portanto, é possível dizer que é um corpo sem âncora e que se deixa cair.

 


Referências bibliográficas

Freud, S. (1920) – O caso da Jovem homossexual.

Miller, J. A. (2015) – O osso de uma análise.

Fuentes, M. J. S. (2012) – As mulheres e seus nomes, Lacan e o feminino.

Back To Top