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Antoni
Vicens
Psicanalista em Barcelona, AME, membro
da ELP e da AMP. AE durante o período
2008-2011 e presidente da ELP durante
o período 2012-2014. É Professor Titular
de Filosofia na Universitat Autónoma de
Barcelona (UAB). Acaba de publicar o
osso dos seus testemunhos de passe em
Lenta, precipitadamente. Una experiencia
psicoanalítica
, Buenos Aires, Fundación
Cipac, Unsam Edita: Universidad Nacional
de General San Martin, serie Tyché, 2013.
Pode se ler a apresentação em
<https:// i s suu. com/uns amedi t a /doc s / l ent a__ precipitadamente_issuu/18>e escutar sua
palavra em:
<http://www.radiolacan.com/ es/topic/520/3#>.
Tenhamos em conta que, ademais, ao filho
que havia de nascer, lhe puseram o mesmo
nome de seu pai; para Gertrudes, era um
Hamlet por outro.
E é porque o pai morreu antecipadamente
naquela decisão de dar a vida que agora
volta a aparecer, desde o mundo dos ainda
não mortos totalmente, vestido como no dia
do combate; e o faz para recompor o corpo
imortal do rei, para reordenar a linhagem.
Hamlet é o sujeito concebido e parido
sob aqueles signos que, na conjuntura de
sua tragédia, deve escolher entre aceitar
e repudiar sua herança. Trata-se de uma
escolha forçada: não pode repudiá-la; mas
para aceitá-la, deve pagar um preço: não
poderá, ao contrário de Hal, calçar a coroa.
Os signos lhe matam o desejo, ao mesmo
tempo que o dão; é por isto que luta, o tempo
todo, encarniçadamente, contra o que o
mortifica. Não se submete vergonhosamente
ao sacrifício, porque é, apesar de tudo,
homem de desejo.
Qual poderia ser a moral? Shakespeare,
suporte de seu monarca, a deixa bem
clara. Com
A tragédia de Hamlet
diz a
seus contemporâneos: respeitai a coroa; é
uma ficção do reino; e mais importante
que o próprio rei. Preste atenção no que
se passa neste país, na Dinamarca, um país
suficientemente longínquo para não estar
na órbita inglesa, mas próximo o suficiente
para não ser exótico: se falha, não o rei, mas
a coroa, o corpo político se desmembra; e,
no fim das contas, acaba sendo conquistado
pelo estrangeiro.
Masanós interessaoutraclassedegenialidade:
Shakespeare não se limita a apresentar-nos
o simples quadro dos fatos e sua moral,
mas também trata seus personagens como
causas. E, por isso, vemos em
A tragédia de
Hamlet, príncipe da Dinamarca
o vínculo
que há entre o inconsciente e as estruturas
do poder, tal como hoje, como sempre, nos
causam a todos.
Tradução: Roberto Dias
Revisão: Luiz Gonzaga Morando Queiroz
Referências:
NIETZSCHE, Friedrich.
Ecce homo
: São Paulo: Companhia das
Letras, 2008.
SHAKESPEARE, William.
A trágica história de Hamlet, Príncipe
de Dinamarca
. [1603] Edição digital. Porto Alegre: L&PM,
1997. (Pocket books) Disponível em:
<http://www2.uol.com.br/millor/teatro/download.htm#hamlet>.
Artigo publicado originalmente em
Freudiana
, ELP-Catalunya,
Barcelona, n. 63, 2011, cedido amavelmente pelo autor.
ENDNOTES
1
Utilizamos a tradução de Millôr Fernandes, com
exceção desse trecho, no qual preferimos manter uma tradução
literal da versão em castelhano de
Hamlet para não perder as
ressonâncias do especular. Em Millôr podemos ler: “Serei o floreado
do teu hábil florete, Laertes. / Como uma estrela numa noite negra /
A tua perícia brilhará mais visível que nunca, / Refletida na minha
incompetência.”
p. 110