

20
O desarraigamento implica a perda de toda referência simbólica. Com ele, podemos
localizar na errância uma consequência inevitável dessa situação. Aquele que perde suas
raízes permanece suspenso sem poder agarrar-se, segurar-se, pegar-se a algo que funciona
como uma âncora e de alguma maneira o prende. Este livro publica uma série de casos
que ilustram esta situação. Alguns nos quais se reposiciona a ideia de desarraigamento e
outros em que ela se verifica plenamente. A perda de toda captura simbólica, que Jacques
Lacan desenvolve muito cedo em seu ensino, deixa o sujeito sem uma proteção. O sujeito
funciona com identificações que lhe permitem vincular-se ao Outro, de modo a construir
ou permanecer inserido no laço social. Fora dessa referência, está o nada, a errância numa
pura metonímia. Em nossa época, as consequências da falta de arraigamento no simbólico é
um fenômeno observável. Assistimos à ausência de ideais vinculantes que levam o sujeito à
busca desenfreada por um resguardo, uma referência que o sustente, ou o incitam a servir-se
do primeiro que encontra em seu caminho, numa escolha forçada que vem de mãos dadas
com a morte.
Como podemos ver, os efeitos do desarraigamento são sérios e comprometem o mais íntimo
da vida. Consideramos que o aprofundamento desta temática constitui uma orientação sui
generis nos problemas mais aberrantes desencadeados pela manifestação crua da pulsão de
morte. A dessubjetivação contemporânea exige uma responsabilidade do psicanalista que,
tal como Jacques Lacan o afirmou, deve poder unir a seu horizonte a subjetividade de sua
época.
Estudemos os desarraigamentos.
Tradução: Roberto Dias