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O desarraigamento implica a perda de toda referência simbólica. Com ele, podemos

localizar na errância uma consequência inevitável dessa situação. Aquele que perde suas

raízes permanece suspenso sem poder agarrar-se, segurar-se, pegar-se a algo que funciona

como uma âncora e de alguma maneira o prende. Este livro publica uma série de casos

que ilustram esta situação. Alguns nos quais se reposiciona a ideia de desarraigamento e

outros em que ela se verifica plenamente. A perda de toda captura simbólica, que Jacques

Lacan desenvolve muito cedo em seu ensino, deixa o sujeito sem uma proteção. O sujeito

funciona com identificações que lhe permitem vincular-se ao Outro, de modo a construir

ou permanecer inserido no laço social. Fora dessa referência, está o nada, a errância numa

pura metonímia. Em nossa época, as consequências da falta de arraigamento no simbólico é

um fenômeno observável. Assistimos à ausência de ideais vinculantes que levam o sujeito à

busca desenfreada por um resguardo, uma referência que o sustente, ou o incitam a servir-se

do primeiro que encontra em seu caminho, numa escolha forçada que vem de mãos dadas

com a morte.

Como podemos ver, os efeitos do desarraigamento são sérios e comprometem o mais íntimo

da vida. Consideramos que o aprofundamento desta temática constitui uma orientação sui

generis nos problemas mais aberrantes desencadeados pela manifestação crua da pulsão de

morte. A dessubjetivação contemporânea exige uma responsabilidade do psicanalista que,

tal como Jacques Lacan o afirmou, deve poder unir a seu horizonte a subjetividade de sua

época.

Estudemos os desarraigamentos.

Tradução: Roberto Dias