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Desarraigados
Jacques-Alain Miller e outros,
Buenos Aires, Paidós, 2016.
Nota para a edição castelhana,
Silvia Geller
(AP da EOL/NLS, Suiza)
A maneira pela qual a clínica lacaniana
produziu uma diferença na direção e
tratamento do sintoma foi através da
contrastação de resultados. Isto pode realizar-
se de uma maneira incerta e espontânea ou
mediante a convocatória a trabalhar um
tema em particular do qual supõe-se que
poderemos obter um ensino.
Jacques-Alain Miller, com o instrumento
das conversações, reposicionou a elaboração
de nossa clínica em um dispositivo vivo de
estudo, pesquisa e reflexão. Na verdade, as
conversações propostas por J.-A. Miller têm produzido um diferencial em nossa clínica, já
que permitiram construir novas noções e conceitos que estão na origem e desenvolvimento de
nossa doxa mas que, ao mesmo tempo, permitem reorganizá-la através de novos paradigmas
que fundamentam nossa episteme no campo da clínica psicanalítica.
São muitas as novidades que permaneceram seladas na publicação da série de atividades que
conhecemos como “conversação”, como a que apresentamos hoje. Mas, além disso, o que é
original é que guardam uma estreita relação com a história de nossa clínica.
Desarraigados é um ponto conclusivo de um percurso que J.-A. Miller começa com a ideia
do inclassificável. Poderíamos brincar com um neologismo dizendo que o contrário de
classificar é inclassificar. Esta torção do termo responde a uma ideia absolutamente original
de J.-A. Miller quando inaugura uma conversação clínica com esse título. Ele já sabia, nesse
momento, que algo de nossos recursos ou ferramentas já não nos eram suficientes para
abordar nem as psicoses, nem as neuroses. Esta noção não foi suficiente, pois tivemos os
‘casos raros’. Até inclusive chegar ao conceito de psicose ordinária, algo fundamental para
avançar na clínica das psicoses. Essas psicoses que não se podiam enquadrar em nossas
classificações, que devíamos inclassificar para captar como construir alguma aproximação a
seu tratamento. As psicoses ordinárias, opostas às extraordinárias, às de todos os dias, eram
psicoses comuns. Com elementos comuns e, por que não, generalizáveis de outra maneira.
Psicoses que se inscreviam em uma curva de Gauss, obrigando a pensar novamente a ideia
com a qual trabalhávamos até o momento em nossa tradicional aproximação.
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