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Livros de Cabeceira
A expressão “livros de cabeceira” designa, numa perspectiva ampla, os livros que, ao longo de uma vida,
compuseram um repertório particular de leituras preferidas (ou inesquecíveis) de alguém, e que poderiam
ocupar uma pequena estante no quarto, ao lado da cama, de forma a serem relidos de acordo com as
demandas íntimas da pessoa. Ela pode, também, deflagrar outras possibilidades de sentido, graças à palavra
“cabeceira” que, nos dicionários, guarda algumas interessantes definições, como:
“A parte da cama onde deita a cabeça.”
“Almofada ou travesseiro para descansar a cabeça.”
“Topo da mesa retangular ou oval, geralmente ocupado pelo anfitrião e/ou convidado
de honra, num banquete ou refeição formal.”
“O lado da cabeça; frente, dianteira.”
“Lugar onde nasce um rio; nascente (cabeceira do rio).”
Sob o prisma dessas designações, “livros de cabeceira” seriam também aqueles sobre os quais deitamos
nossas cabeças; aqueles que ocupam um lugar de honra em um determinado espaço e estão sempre na
dianteira. Poderiam também ser tomados, pela força da imagem do rio, como os livros que deflagram um
fluxo, uma corrente, conduzindo-nos a outros livros e paragens. Ou aqueles que provocam o nascimento do
próprio ato de escrever, uma espécie de nascente de palavras.
Por outro lado, o singular da expressão (“livro de cabeceira”) tem a potencialidade de conferir
exclusividade a um determinado livro: aquele que, dentre todos, é o mais relevante, o ponto de fulgor da
nascente, o primeiríssimo dos primeiros. Em outras palavras, o “único amor”.
ACONTECE