SOBRE O ARTISTA ATTILIO COLNAGO
Comissão de Arte e Cultura das V Jornadas da EBP-SLO
Um dos eventos ligados a esta comissão será a Exposição Corpo Memória, que terá como organizador o Professor da UFES Attilio Colnago. Desta exposição participarão, além de Attilio Colnago, mais sete artistas. A Comissão de Arte e Cultura fez duas perguntas, inicialmente simples, para Attilio, no intuito de apresentá-lo aos que se interessam pelo tema das nossas V Jornadas. No entanto, as respostas de Attilio reverberam que “o artista precede o psicanalista” como nos apontou Sigmund Freud.
Quem é você?
Sou um artista com alma barroca que só sabe conviver e viver com excessos: na decoração, nos detalhes, nas escritas, nas paixões, e ainda mais maximalista. Sigo Íris Apfel ao afirmar que “more is more, less is bore” (“mais é mais, menos é chato”)… Sou um alquimista na constante pesquisa e produção das tintas tradicionais para pintura utilizadas ao longo da história da arte. Com elas produzo desenhos e pinturas, que ocorrem entre tropeços e acertos.
Persigo figuras que se despem do conforto para o olhar: cabeças raspadas, peles trincadas, mãos sem pego, olhares de horizonte. Tomadas de estranhamentos assumem e comandam os desenhos, as gravuras, as pinturas, e trazem mais dúvidas que certezas.
Não cabe a mim preencher as lacunas por elas propostas. Cabe a mim propô-las e com elas tentar conviver…
Por que escolheu a Arte?
Por sorte, acho que fui por ela escolhido.
Nasci no interior do estado, em uma família descendente de italianos, em um período que a igreja católica organizava nosso cotidiano e nosso caminho para o céu. Ainda lá, nos anos sessenta, fiz um curso de desenho artístico por correspondência que deu início ao meu caminho pela arte. Fiz o curso de Artes Plásticas na UFES, onde logo depois fui admitido como professor. Nele criei uma disciplina de produção de materiais para desenho e pintura e o Núcleo de Conservação e Restauração de Bens Culturais do Centro de Artes da UFES. Fiquei nesta instituição como professor e pesquisador por 40 anos. Em paralelo, sempre mantive um ateliê onde produzo regularmente e mantive turmas de formação não formal em arte. Tive a graça nesta vida de produzir, trabalhar, e transmitir o que fui amealhando no constante fazer, complexo e apaixonante da arte…
Conheça mais sobre o artista aqui.
Fernanda Marra, integrante da Comissão de Arte e Cultura das V Jornadas da EBP-SLO, elaborou duas perguntas para Juliana Pessoa sobre suas obras e seu modo criativo de trabalhar. Essa pequena conversa é capaz de inspirar àqueles que apreciam a arte e, principalmente, de suscitar a nossa curiosidade para ver mais trabalhos dessa artista na Exposição Corpo, M-E-M-Ó-R-I-A em Vitória – ES, evento ligado às nossas V Jornadas.
Logo depois, Maria Eduarda Ramos conversa com Clélia Soares, que também trará seu trabalho para compor a Exposição que ocorrerá junto as nossas V Jornadas.
SOBRE A ARTISTA JULIANA PESSOA
Comissão de Arte e Cultura das V Jornadas da EBP-SLO
Fernanda Marra: Em 2023, no Museu de Arte do Espírito Santo, você realizou, com Juliano Feijão, uma exposição intitulada “Anticorpos”. Podemos dizer que desse título ressoam, ao menos, duas possibilidades de leitura: anticorpo como o que protege o corpo contra o que é externo ao corpo; anticorpo como uma contraposição ao que foi estabelecido como corpo, a um certo padrão definido conforme circunstâncias
e interesses. Você diria que essas duas acepções aparecem no seu trabalho? Como vê seus desenhos abrigados sob esse título?
Outra questão, no texto de apresentação do catálogo da exposição “Anticorpos”, o curador Fernando Pessoa comenta seu processo criativo dizendo que você:
[…] descobre as minúcias do detalhe no próprio processo de fazer, desfazer e refazer o desenho inteiro, o que acaba desvanecendo as delimitações dos contornos e fundindo os elementos da imagem na unidade indiferenciada do seu todo.
Fernando complementa que:
[…] as imagens vão surgindo lentamente nos resquícios de camadas de linhas e pigmentos sobrepostos em veladuras que, simultaneamente, ocultam e fazem aparecer os contornos, os detalhes das partes, a figura, o fundo.
Essa forma de compor o desenho refazendo sobre os traços, trazendo camadas sobre o que já estava lá, quase ao modo de um palimpsesto, é uma marca de sua arte? Para você, o que são os restos em seus desenhos?
Juliana Pessoa: Durante minha formação acadêmica, me aproximei de uma concepção de arte menos formal e mais ligada a um princípio de criação que fundamenta a própria vida. O artista como sendo um tipo que “retira” a poeira das coisas, no sentido de restabelecer o seu vigor. Desse modo, o desenho surgiu como uma linguagem capaz de me auxiliar nessa tarefa. A simplicidade do gesto manual, sobre a aparente pobreza do papel. A potência frágil do carvão que, ao mesmo tempo que risca, se esfarela, quebra e desvanece.
Essa pobreza e simplicidade me ajudaram a construir minha própria iconografia, a partir da compreensão de que a nossa memória nacional é um monumento à sua própria cegueira, à medida que não reconhece a grandeza de nossa gente. Assim, resolvi ir ao encontro dessas memórias cobertas pela poeira do tempo, nossas religiões de matrizes africanas, a saga de Belo Monte, o cangaço e, mais recentemente, às mestras e mestres de nossas culturas populares, que, ao incorporarem o sentido da terra e não se curvarem ao desígnio do capital, se tornam alvo desse vil Brasil oficial.
Daí, os desenhos apresentarem um aspecto meio fantasmagórico, a imagem se constrói em diferentes intensidades da linha, da mancha, do rasgo, como se estivesse disputando a sua própria presença no mundo.
SOBRE A ARTISTA CLÉLIA SOARES
Comissão de Arte e Cultura das V Jornadas da EBP-SLO
(Série ” corpo-terra”. Performance corpo/terra em papel vegetal. 30×42 – 2004).
Maria Eduarda Ramos: O que você aprende com as águas?
O que a terra te conta?
Clélia Soares: [precisei de tempo]
… precisei de tempo
e por isso andei ausente por aqui. Não estava conseguindo acessar a ‘minha criança’, seus sonhos e quereres estavam sendo esvaziados em meio a tantos ruídos produzidos nos diferentes mundos que hoje habitamos.
… precisei de tempo
e fui buscar refúgio na mata, os pés na terra, assim como fazia meu pai quando criança na pequena Medeiros Neto no sul da Bahia onde nasci. Para a mata ele levava os pios de caça que hoje estão sob minha guarda depois que se encantou. Não levei os pios, não faz sentido, pois não fui caçar. Fui me ouvir e para isso levei algumas das minhas conchas. Ando reclusa e fechada em mim mesma assim como elas, talvez por ocuparmos um lugar que não nos cabe mais. Não me recordo quando comecei a colecioná-las, estão comigo há muito tempo e ocupam todos os cantos da casa/atelier. Muitas delas vieram do lugar onde hoje moro e costumo chamar de ‘minha praia’ :- a praia de Camburi em Vitória. Foram recolhidas numa época em que foi realizado o ‘engordamento’ da área de areia da praia e para isso é necessário o uso de uma draga que retira areia do fundo do mar de uma distância considerável da praia e com ela vem também uma grande variedade de conchas que recolhi e guardo comigo com carinho. Gosto muito de tê-las por perto, é como sentir o cheiro do mar, seu ruído que me acalma e traz alegria para meu coração de elemento terra. A água tem esse poder de me acalmar, apesar disso, penso que qualquer dia desses, irei depositá-las uma a uma no seu lugar de origem: – a imensidão do mar.
… precisei de tempo
ahh, precisei de tempo para entender!
Nesta edição do MNEMIS, apresentaremos dois artistas que irão compor a Exposição Corpo, M-E-M-Ó-R-I-A, em Vitória (ES) na semana das nossas V Jornadas. Os integrantes da Comissão de Arte e Cultura, Fanny Daniel e Gerson Abarca entrevistaram Dilma Goes e Marcelo Macaue, respectivamente. Confira!
SOBRE A ARTISTA DILMA GOES
Comissão de Arte e Cultura das V Jornadas da EBP-SLO
Fanny Daniel: Como foi seu encontro com os têxteis?
Dilma Goes: Vim da roça, habituada a cheiro de mato e fumaça de fogão a lenha. Fui estudar na cidade até conquistar o meu diploma de professora primária. Entrei no curso de artes me formando em Decoração de Interiores. Caminhei pelas gravuras, aquarelas, pintura à óleo e croquis de figura humana até ingressar no primeiro curso de Especialização em Tapeçaria do Brasil em Santa Maria (RS), em 1977: “Aterrissei” no campo dos fios por acaso, me deitei na superfície macia das fibras e nela estou até hoje. Meu percurso por este caminho acolhedor foi um “acordar” consciente cuja jornada persiste: Um caminhar rico e de esbanjamento de todos os sentimentos no meu peito. Ao ser direcionada para as técnicas de tecelagem sem tear, não saí das tramas, apenas deixei os suportes…
Agora são as mãos e os materiais. A tecelagem sem tear, sem máquina, é a execução de um objeto tridimensional que não usa tela, não tem suporte, é vida pura. É o entrelaçamento. Entre laçadas, todos têm o mesmo valor, e o número é sempre par. A trama é no sentido horizontal e a urdidura, na vertical.
FD: Como escolhe seu material de trabalho?
DG: Nesse caminhar, lotado de experimentos, me envolvi com a linguagem dos materiais, descobrindo a riqueza de suas texturas e magia de tecer sem tear. Aprendi a respeitar os limites dos materiais e a explorar sua linguagem. Desde 1977 até hoje, faço dessa trama saudável o relato dos meus sentimentos.
FD: Como assim?
DG: Vou primeiro pelo olhar. Depois, experimento: impermeabilizo, corto e teço. Vou dialogando com o material e verificando quais são as possibilidades que ele me dá. O material norteia meu trabalho: sua expressividade e a minha relação com ele. Cada material é uma relação, cada escolha de material é uma experiência. É isso que norteia a minha criação e me leva ao trabalho. O trabalho é sempre novo a cada escolha de material.
O material utilizado é alternativo, prático, farto, de fácil manejo, muito rendimento e lavável. Alternativo porque eu pego o tecido bruto, impermeabilizo, fatio, converto em fitas e depois teço. Ele é sempre alternativo, estou sempre experimento outros, cortando outros e fazendo esse processo. É a partir desse ponto que começa minha criação.
SOBRE O ARTISTA MARCELO MACAUE
Comissão de Arte e Cultura das V Jornadas da EBP-SLO
A exposição Corpo e Memória, que abrilhantará as V Jornadas da EBP Leste-Oeste, contará com a obra do Fotógrafo Marcelo Macaue, autor do livro “Do Corpo Poesia” (Ed. Luste, SP, 2022) que atualmente prepara o lançamento do livro “Do Corpo, Quase Nu” em 2024.
Mestrando em Filosofia pela PUCPR, pesquisa sobre “O olhar na fotografia desde Merleau-Pony a Jaques Lacan”, o que nos possibilita adentrar um pouco nesta inter-relação da arte/fotografia com a psicanálise para, durante as Jornadas, podermos aprofundar nossos olhares e sentimentos na contemplação da obra de Marcelo Macaue.
Gerson Abarca: O que o olhar do fotógrafo escuta no corpo fotografado?
Marcelo Macaue: Proponho uma fragmentação da proposição. Temos: O que, Olhar do fotógrafo, Escuta, Corpo fotografado. O que, propõe uma pergunta a uma pessoa ou objeto. O olhar do fotógrafo, é a pulsão escópica. Escuta, está ligado ao objeto de trabalho da psicanálise. O corpo fotografado, objeto da minha pesquisa. Feito essa análise, cabe a resposta. Quando iniciei essa pesquisa que já percorre quase 13 anos, me fiz as seguintes questões: O que é isso? Quem é esse? Quem é esse que habita o isso? O isso é o corpo, o esse é o sujeito, e o esse que habita o isso, o sujeito que habita o corpo.
O corpo em meu estúdio fotográfico torna-se irremediavelmente objeto e vulnerável. Mas sempre o corpo fica nessa posição? Não. Trago ao meu projeto de pesquisa a proposta de um corpo-objeto-não-objeto, onde no processo do ensaio fotográfico esse corpo-objeto torna-se não-objeto, quando a observação se desloca do fotógrafo ao fotografado e vice-versa. Essa simbiose é o caminho para que meu olhar antropofágico busque, vasculhe e encontre nesse outro corpo a rachadura que fará desmoronar o mimetismo da intimidação revelando à lente (objetiva) não a matéria opaca, e sim, a essência daquele que se deixa fotografar.
Não é uma questão de realizar fotografias do corpo. Nunca foi. Sempre foi uma busca de nele eu me encontrar, até eu descobrir que o outro, esse à minha frente, não mais existe como moeda de troca de descoberta de quem eu sou, e sim como compreensão do mundo contemporâneo, onde o outro é substituído pelo mais-Um.
No estúdio fotográfico busco o que desejo e entrego ao mais-Um o que ele deseja e o que deseja de mim. Duplo desejo do fotografado. E o que desejamos? O para além da matéria opaca. Aqui está a escuta, o escambo contemporâneo. A escuta é o encontro do meu olhar com o que o corpo-objeto-não-objeto não consegue mais encontrar em si. Isso não se dá pela técnica e muito menos pela percepção. Isso é o encontro de duas coisas, que ciência alguma jamais explicará, jamais compreenderá. Isso que jamais será passível de objetividade, pois subjetivo. Esse encontro é o encontro dos corpos finitos.
G.A: Dentro de seu trabalho, em que a psicanálise se aproxima e/ou colabora no seu objeto de estudo/pesquisa?
MM: Meu interesse na psicanálise é a questão do olho e do olhar. O estádio do espelho, a esquize do olho e do olhar, a anamorfose, a linha e luz e outros textos importantíssimos para essa compreensão. E por quê? Porque sendo a psicanálise citada lacaniana ela também é pura filosofia.
Falar do olho como zona erógena, olho que pulsa, que se movimenta, se dilata, onde a íris tem vida própria e que quando pálpebras superior e inferior abrem o olhar salta para o mundo, desejante em encontrar, e feito uma guilhotina decapitar um fragmento do tempo, esse também é o olhar do fotógrafo, que não apenas enxerga, mas muito além de enxergar, devora. O olhar é antropofágico, “colonizado” e voyeur. Essas são características do olhar fotográfico.
Outra questão em que a psicanálise colabora com meu trabalho é na função do aprimoramento da escuta. Fotografar é um ato silencioso. Então como pode surgir a boa escuta? A boa escuta vem muitas vezes de outro lugar que não a fala, objeto para psicanálise, mas sim dos gestos. Boa escuta é observar, não necessariamente apenas ouvir.
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Para esta edição do MNEMIS, os integrantes da Comissão de Arte e Cultura, Letícia Rosa e Rodrigo Oliveira entrevistaram duas artistas que farão parte da Exposição Corpo, M-E-M-Ó-R-I-A, sendo elas Fabíola Menezes e Rosana Paste, respectivamente. Confira o que elas contaram sobre seus trabalhos e suas vidas entrelaçadas com a arte.
SOBRE A ARTISTA FABÍOLA MENEZES
Comissão de Arte e Cultura das V Jornadas da EBP-SLO
LR: Para você, por que a Arte?
FM: Apesar de parecer clichê, acredito que a Arte me salva todos os dias e me traz o sentimento de pertencimento neste mundo. Sempre fui uma pessoa que se sentia um “peixe fora d’água”, e esse sentimento vem desde a infância.
Filha única por parte de mãe, aprendi a brincar sozinha e a criar o meu universo particular. Minha mãe sempre me incentivou com os materiais de desenho e gibis, então eu tinha por hábito cotidiano desenhar e ler. Na adolescência queria estudar Medicina, mas não foi possível, então, tardiamente, após ter meus dois filhos fui fazer Artes Plásticas como graduação.
No desenho e na pintura retomei aspectos que me permeavam desde a infância, e na conclusão de curso, busquei em meu trabalho final abordar o tema da morte a partir da busca da coloração do corpo morto no tom de pele de meus retratados.
O “isso já foi” de Roland Barthes, fazia presença nos retratos que pintei, a partir da ideia de permitir ao retratado se ver “morto” na contramão epicurista, a partir da coloração de sua pele: pálida, fosca e amarronzada. Como se fosse possível o retrato morrer no lugar do retratado, quase como num “retrato de Dorian Gray”.
Minha pesquisa sobre a morte se estendeu no mestrado e ampliou-se também sobre o morto e o morrer nas fotografias mortuárias realizadas em Juazeiro do Norte, Ceará. E, por fim, no doutorado me reaproximei do antigo sonho da medicina e acabei por entrar num programa de pós-graduação em Anatomia na USP. Todo o meu percurso artístico esteve envolto com a capacidade que a Arte possui de se expandir em diversos territórios de conhecimento, e, por isso, considero que ela me salva todos os dias, porque me traz sentido naquilo que a vida não dá conta.
LR: Como Corpo e Memória se relacionam com o seu desenvolvimento artístico?
FM: Para mim, o corpo é a representação física de um estado de memória, e no meu trabalho, esse corpo que vive e morre, que se desenvolve e se decompõe é a lembrança constante do indivíduo que permanece após a finitude. A aproximação com a anatomia e a representação do corpo descarnado, me permite ver cada linha, traço, volume, cor de um tecido biológico, que só funciona quando integrado a este corpo e possuído de vida. O tempo da vida também existe na morte, quando este corpo se transforma em pó ou matéria orgânica irreconhecível.
Cada corpo traz em si evidências de uma existência que possui data de validade, e no desenho e pintura eu consigo perpetuar essa existência como um reflexo daquilo que já se foi. Como uma capacidade de congelar o tempo, estancar a deterioração e permitir que a imagem viva além do tempo. Um devaneio sobre o poder da existência, que a Arte permite sem que eu me sinta no lugar da onipresença ou onisciência. Um devaneio sobre ser criadora e criatura ao mesmo tempo e espaço.
SOBRE A ARTISTA ROSANA PASTE
Comissão de Arte e Cultura das V Jornadas da EBP-SLO
RO: Como a arte entrou em sua vida?
RP: Nasci e vivi até os 18 anos em Venda Nova do Imigrante ES. Filha de agricultores, sempre tivemos o privilégio de tradições culturais nas diversas áreas: agricultura, manualidades, alimento, autossubsistência.
Neste sentido fui criada num berço esplêndido de significados. Por exemplo: o jeito de fazer canteiros na horta é muito plástico, a maneira de lidar com a feitura das casas de pau a pique é também muito rico de materiais e plasticidade etc. Neste sentido, quando adolescente, aos 16 anos, entendi que era esse meu lugar: ressignificar tudo que me foi dado e ampliar para o campo da arte. Foi assim que descobri o que faria para o resto de minha vida.
RO: Como sua vida entra em sua arte?
RP: Arte e vida não são coisas diferentes. Estão atreladas e uma cria rizomas com a outra. Os pontos de fuga que aprendi a partir de meus estudos somam nesta busca infinita de estabelecer esse constante diálogo.
Acho que as resposta da primeira pergunta responde a segunda também…. meus materiais utilizados em minhas esculturas, as subjetividades, os conceitos estão impregnados pela minha vida, existência e finitude.
A arte não tem impregnados, mas o artista tem seu território. O meu território é meu chão e meu pedaço de céu que me acompanham onde eu estiver. E conheço desde que nasci.
Para esta edição do MNEMIS, a integrante da Comissão de Arte e Cultura, Fanny Daniel entrevistou mais um artista que irá compor a Exposição Corpo, M-E-M-Ó-R-I-A, sendo ele Thiago Arruda. Confira!
SOBRE O ARTISTA THIAGO ARRUDA
Comissão de Arte e Cultura das V Jornadas da EBP-SL
Thiago Arruda Nasceu em Vitória – ES, em 12 de Julho de 1982, é Mestre em Artes (2016) – linha de pesquisa Estudos em História, Teoria e Crítica da Arte – e Bacharel em Artes Plásticas (2012) – área de concentração de Gravura – pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Atualmente é assistente técnico de Artes Visuais com ênfase em Gravura no Centro Cultural Sesc Glória (Vitória/ES). Possui experiência docente na área de Gravura como professor voluntário na UFES nos anos de 2013, 2014 e 2015. Artista Plástico, com atuação nas artes gráficas, utiliza narrativas dominadas por um estilo marcante, e por vezes intimista, evocando uma espécie de memória coletiva mergulhada em alegorias, delírios e tragédias existências.
FD: Por que a gravura?
TA: Falar da gravura é dizer muito sobre mim e do que me é precioso, é falar do trauma ao belo.
Tenho na gravura o que me acolheu que me trouxe conforto, que foi minha cúmplice. Seu processo, apesar de agressivo, se esconde em camadas até se revelar. Nela posso falar, apesar do meu silêncio habitual e me desnudar em expressão.
Meu contato com a técnica foi na universidade. O que faltava no meu desenho se resolveu com a gravura, sobretudo com a xilogravura, cuja técnica me introduziu nesse campo. A xilogravura é uma técnica de agressão por excelência: é preciso cortar, arrancar pedaços para se extrair a imagem para produzir poesia. Isso veio como uma cura para mim: no final da minha infância meu pai havia sido esfaqueado, em uma tentativa de degolá-lo durante um assalto.
Quando tentava me expressar através do desenho, me parecia incompleto. Ao assumir as imagens do meu imaginário do que me era sensível, na gravura, as figuras assumiam formas distorcidas, com membros cortados, dores, amputações e impossibilidades. A faca se tornou um signo recorrente: a imagem do que vive e faz deixar de viver, que ocupa o lugar do que falta.
Vejo que existe um processo de passagem, da violência da xilogravura, para uma nova poética na ocogravura: utilizo o processo da gravura em metal sobre matrizes de plástico. Os elementos que me nutrem, que uso como referência na minha produção, compõem-se de memórias afetivas, histórias e olhares sobre a realidade. Eu deixo de assumir somente o trauma para assumir a lembrança, mas a lembrança boa que faz sorrir.
SOBRE A EXPOSIÇÃO
Conheça os artistas que não foram contemplados nas edições anteriores do MNEMIS, mas que irão compor a nossa exposição Corpo, M-E-M-Ó-R-I-A. A Comissão de Arte e Cultura das V Jornadas da EBP-SLO fez uma pequena apresentação desses artistas e disponibilizou as redes sociais deles para que possamos conhecê-los.
Adriana Cláudio da Silva – @adrianaclaudiodasilva
Adriana, com sua criatividade e inquietação, produz objetos em cerâmica, porcelana e vidro em múltiplas formas e cores. Seus produtos se sobressaem pela beleza e utilidade, capazes de encantar. Vocês vão poder conferir e, talvez, levar…
Isabella Azevedo – @agalma_psicanalise
De família de artesãos que produziam em tecidos e linhas, Isabella aprendeu a bordar na infância. Sua singularidade é o bordado livre do avesso perfeito tradicional. Produz, em seus bordados abstratos, a caligrafia de um novo escrito – seu avesso. Vamos conferir os avessos de seus escritos!
Maria Eduarda Ramos Gazel – @mariaramosgazel
Para Maria, seus trabalhos são tentativas de materializar suas sensações, emoções e processos de vida. Maria se expressa por múltiplos meios e ela escolheu nos mostrar suas pinturas, para admirarmos e quem sabe levarmos para casa…
Martha Borges Schmidt – @ceramica.schmidt
Martha além de participar do Atelier de Pintura de Attílio Colnago, frequenta o Atelier de Cerâmica de Hideko Honma, em São Paulo, de cerâmica brasileira com alma japonesa. Segundo ela, transforma argila em arte inspirada pela natureza. Suas cerâmicas utilitárias poderão adornar e fazer parte de nosso cotidiano.