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O papa zeloso

 

Regina Cheli Prati

Antes do século XIX, muitas teorias tentavam explicar a origem das doenças.  Girolamo Francastoro (1478-1553) eleito médico do Concílio de Trento (1545-1563) formulou a tese de que os agentes das enfermidades eram transmitidos pelo ar, pelo contato direto entre pessoas e por meios materiais. Acreditamos que essa teoria inspirou o papa Alexandre VII, Fabio Chigi de nascimento, chefe da Igreja Católica e dos Estados Pontifícios, a implementar uma série de medidas restritivas que visavam conter a propagação da peste nos anos de 1656 a 1657. Entre as medidas adotadas estavam a proibição do comércio com cidades nas quais havia surto da doença, o fechamento de quase todos os portões da cidade e o controle das entradas e saídas, a obrigatoriedade de comunicar às autoridades os enfermos, a proibição de aglomerações em reuniões, missas e procissões, a quarentena aos que haviam tido contato com doentes, o isolamento social, a proibição de jejuns, a construção de “lazaretos” (hospitais), a ajuda financeira e de alimentos aos que estavam isolados e a previsão de pena de morte para quem descumprisse as determinações papais.

Essas medidas foram amplamente criticadas por alguns que acreditavam que o medo e a fome poderiam matar mais do que a peste, mas o que se pode observar é que as restrições impostas a “duras mãos” pelo papa tiveram efeito muito positivo quando comparado o número de óbitos ocorridos na cidade de Roma (8%) em relação às cidades de Nápoles (50%), Gênova (60%) e na Sardenha (55%).

Assim, concluímos que o papa Alexandre VII, sem saber exatamente o que estava combatendo, pois não conhecia a microbiologia da doença, ao implementar essa série de medidas inspiradas no conhecimento científico da época, conteve a disseminação da peste e zelou pela vida dos cidadãos. Um belo exemplo para a nossa administração pública em tempos de pandemia.

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Decameron: Giovanni Boccaccio e a Peste negra.

Rosângela Ribeiro
Simone Vieira
Cena do Decameron, de Giovanni Boccaccio, por John William Waterhouse (1849-1917)
Cena do Decameron, de Giovanni Boccaccio, por John William Waterhouse (1849-1917)

1348: a Peste negra ou a Morte negra inicia sua ronda pela Europa. Seu epíteto se justifica pelo fato de um dos seus principais sintomas ser uma hemorragia subcutânea que deixava os doentes e mortos com a cor escura. Nesse contexto, o poeta florentino Giovanni Boccaccio (1313-1375) principia a escrita de sua obra Decameron. Trata-se de um conjunto de novelas narradas por três rapazes e sete moças que fogem da Peste. A fim de veementemente negá-la, os jovens isolam-se em um castelo, divertindo-se em meio a jogos, danças, jantares, passeios bucólicos entre outros prazeres. Curiosa e paradoxalmente, os jovens guardam os dias de sábado e domingo, conforme os preceitos religiosos de então. Moral, sexo, amor, desejo, desfaçatez: elementos humanos pintados em palavras!

Decameron nas telas cinematográficas

O cineasta italiano Pier Paolo Pasolini levou, em 1971, para as telas cinematográficas a obra Decameron, de Giovanni Boccaccio. Viajando entre o grotesco, o anedótico e a muito colorida vivência das gentes que descreve, o diretor italiano oferece-nos um conjunto de cortes da obra literária que têm pontos comuns na galhofa, no sexo como um desejo e arma de decepção, e na podridão moral das instituições. Há sempre um fino sentido de humor entre todas as histórias, que tornam comédia e tragédia como partes inerentes à vida.

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