Por Adriana Pessoa – Coordenadora da Comissão amurados

Amurado – diz-se daquele ou daquela que está cercado de muros, que se encontra preso, encurralado, amuralhado[1]. Acaso hoje essa não é a situação de todos nós? Amurados em nossas casas, isolados, encurralados ante a possibilidade da perda de entes queridos – ou mesmo da própria vida – por uma doença que se espalhou por todo o planeta?

Como observa Bassols[2], a pandemia vem produzindo seus efeitos no ser falante, de reclusão, de distanciamento, de solidão real e de um pânico de contaminação e de morte, indicando que “o real já não é mais o que era”.

E é neste cenário que seguimos com nossas (re)invenções, não na busca de dar um sentido ao significante que se impõe a todos nesse momento – Covid 19 – mas sim nas mudanças que se impõem também para a psicanálise no que tange a seus conceitos fundamentais bem como à sua prática. As II Jornadas da EBP- LO ‘O amor no tempo das cóleras’ se realizarão na impossibilidade do encontro físico dos corpos, da conversa nos cafezinhos, dos abraços… e, talvez por isso, nos convocam ainda mais a nos debruçar sobre e a responder ao desafio da época em que vivemos: insistir no amor como invenção.

Em seu Seminário Encore[3] Lacan propõe o termo amuro para dizer do amor que traz em si a marca do impossível da relação sexual e, a partir dele, podemos repensar o inconsciente, a transferência, a suposição de saber e, ainda, o estatuto do amor no final de análise. Esse conceito também se torna central para o debate sobre as novas formas de encontro (ou desencontro) entre os sexos. Os muros de ódio e segregação também encontram aí sua lógica.

É nessa perspectiva de trabalho que apresentamos o boletim amurados, que constituiremos como um verdadeiro mural de ideias e propostas para fomentar nossas discussões com textos, citações, vídeos, poesias e outras coisas de amor. Nessa edição inaugural, vocês encontrarão o argumento das II Jornadas, os eixos propostos pela comissão científica, bem como as orientações sobre a confecção dos trabalhos, inscrições e bibliografias.

A contagem regressiva até as Jornadas começa agora!

Boa leitura!

[1] HOUAISS, A. e VILLAR, M. Dicionário Houaiss da Líingua Portuguesa. Objetiva. Rio de Janeiro. 2001

[2] BASSOLS  M. A lei da natureza e o real sem lei.  Revista Eletrônica. Correio Expresso. 2020

[3] LACAN, J. O Seminário livro 20, Mais Ainda. Jorge Zahar. Rio de Janeiro. 1985. pag. 13.