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Boletim Devaneios #08
#08 – AGOSTO 2023
PEQUENO ESCRITO SOBRE PSICANÁLISE E ARTE
Tânia Mara Alves Prates (aderente SLO) – coordenadora da Comissão de Bibliografia
A Secessão Vienense foi um movimento artístico que floresceu na Áustria, especialmente em Viena, na virada do século dezenove para o século vinte. Caracterizou-se por um ímpeto de renovação de formas artísticas por arquitetos e artistas visuais. Para estes, a arte deveria estar na origem de uma nova concepção de existência. Assim, o movimento era tão filosófico quanto estético. Pregava a arte aplicada para a beleza e o conforto das pessoas. A frase escrita na entrada do belo edifício da Secessão representa este movimento: “Para cada idade sua arte. Para toda arte sua liberdade”.
Neste contexto histórico surgiram as primeiras publicações psicanalíticas de Freud, que vieram produzir, em suas próprias palavras, o terceiro golpe narcísico, “de natureza psicológica, talvez seja o que mais fere”, referindo-se aos processos mentais inconscientes, que fazem com que o eu “não seja senhor de sua própria casa”. (Freud, 1917).
Para Freud, o artista “se afasta da realidade por não poder aceitar a renúncia à satisfação das pulsões que ela requer, e concede a seus desejos eróticos e ambiciosos inteira liberdade na fantasia. Mas encontra o caminho de volta desse mundo de fantasias para a realidade, ao transformar suas fantasias, por meio de dons especiais, em realidades de um novo tipo, valorizadas pelos homens como reflexos preciosos do real.” (Freud, 1911).
Freud elaborou a noção do umbigo do sonho, algo misterioso, que permitiu a Lacan desenvolver a noção de gozo e de um vazio na existência do sujeito em referência ao objeto perdido. Este objeto, este das Ding, Outro absoluto do sujeito, jamais será reencontrado. (Lacan, 1959-60).
Para Françoise Regnaul, a arte se organiza em torno deste vazio. Para este autor, a história das artes estaria marcada, em Lacan, por uma dupla escansão: as artes do vazio e as artes da anamorfose, mas estas também não excluem o vazio. Para ele, o vazio não tem somente uma função espacial, mas também simbólica. O vazio é da ordem do real, e a arte utiliza o imaginário para organizar simbolicamente esse real. (Regnault, 2001).