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Boletim amurados #004

#04

EDITORIAL

Por Waléria Paixão e Regina Cheli Prati – Comissão de Boletim

A quarta edição de amurados vem dedicada ao tema do ódio, uma das acepções da palavra ‘cólera’ que compõe o título das II Jornadas, significante que nos leva a um sentimento tão antigo quanto o mundo. Nossa constatação é a de que hoje ele ganhou terreno, e isso não é sem consequência.

A psicanálise sempre teve o ódio como objeto de investigação e tem uma visão própria do assunto. Freud já falava dele nos seus textos A Pulsão e seus destinos (1915) e O mal-estar da civilização (1935), Lacan retoma o tema em vários de seus seminários e no Seminário 20, Mais, ainda traz o ódio como um par inseparável do amor, forjando o conceito de amódio.

Os textos que compõem essa edição se constituem, como vocês poderão constatar, em diferentes declinações do ódio e seus objetos…

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Atualidade do ódio, uma perspectiva psicanalítica

Anaëlle Lebovits-Quenehen ( ECF/AMP )

Atualidade do ódio. Uma perspectiva psicanalítica parte de uma constatação: o ódio volta a assombrar o mundo com força. Não que esse afeto seja novo, ele é tão velho quanto o mundo. Mas, dependendo do tempo e do lugar, o ódio muda de cara, toma novos rumos e se exprime mais ou menos fortemente. No contexto do mal-estar na civilização, nós o vemos hoje no comando de certas administrações, mas também presente nas ruas, nas mídias ou nas redes sociais. No entanto, que o ódio ganhe terreno não é sem consequências, e especialmente quando consegue ascender aos mais altos escalões de um Estado. Este ensaio se engaja resolutamente contra a besta imunda, questionando as condições sob as quais este ódio emerge, ressalta suas fontes e explora o que está em jogo, antes de entregar, por fim, um antídoto.

Incels e o ódio à feminilidade

Leonardo Lopes Miranda (EBP/AMP)

Em 2018, Alek Minassian, um canadense de 25 anos, foi preso acusado de homicídio após ter atropelado dezenas de pedestres em Toronto. Chamou atenção o fato de Minassian participar de um grupo de discussão na internet chamado Incels (diminutivo da expressão involuntary celibates), os celibatários involuntários. Trata-se de homens jovens que não conseguem ter relações amorosas e atribuem culpa às stacys e aos chads (mulheres e homens sexualmente ativos) por esse fracasso. Encontramos esses grupos que se reúnem em fóruns no submundo da internet para propagar ódio contra mulheres.

Aids, estigma e ódio

Por Victor Caetano – Comissão de boletim

A pandemia com o segundo maior número de vítimas fatais desde o século passado, e que continua fazendo óbitos até a atualidade, é a de HIV/aids. A respeito da disseminação do vírus e da doença, iniciada nos anos 1980, a relação com o ódio é direta.

Nos EUA, em 1981, 41 jovens foram diagnosticados com sarcoma de Kaposi, câncer raro e quase que somente constatado em idosos. Acontece que este grupo de pacientes era composto apenas por homens homossexuais. Antes mesmo de se detectar que um vírus sexualmente transmissível atacava o sistema imunológico de quaisquer pessoas, independendo de sua orientação sexual, levando a quadros como o deste tipo de câncer, o significante “câncer gay” já circulava.

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A Favorita (2018 – Yórgos Lánthimos)

Por Rosangela Ribeiro – Comissão de Boletim

Em A favorita, do cineasta grego Yórgos Lánthimos, veem-se, em meio a um pântano de intrigas, modulações do ódio. Uma hierarquia absoluta, em que a rainha era autoridade suprema e mandava tanto no palácio quanto na política do país. O filme mostra que o ódio e o amor podem chegar ao sem limites. Aquele, sabe-se, aparece a cada vez que o real se irrompe. O transbordamento desse afeto opera níveis insuspeitos de crueldade, independentemente do tempo e do espaço.

Primo Levi

Por Simone Vieira – Comissão de Boletim

É isto um homem?

“Meu nome é 174.517; fomos batizados, levaremos até a morte essa marca tatuada no braço esquerdo.” (LEVI, 1988, p.33).

Esse é Primo Levi, (1919/1987), um italiano de Turin. Ele é um sobrevivente. Químico de formação foi deportado para Auschwitz em 1944, aos 24 anos. Passou “pouco tempo” no campo de concentração, mas tempo suficiente para que o peso dessa nefasta experiência fizesse com que ele escrevesse esse texto, na intenção de libertar-se do que foi vivido e de torná-lo um alerta para as gerações futuras.

No decorrer do livro, uma pergunta se impõe: É possível libertarmo-nos de uma experiência em que “dos 650 judeus deportados com ele, sobraram apenas três?”

Uma solução impossível

Por André Pacheco – Comissão de boletim

Em um país marcado pela polarização, pela aridez no solo da comunicação e pela banalização da violência elevada à categoria de espetáculo, uma artista de 130 quilos é surpreendida e brutalmente agredida com uma barra de ferro por um homem que se considera uma “pessoa de bem”, tudo se passa às vistas das centenas de espectadores que assistiam em pleno silêncio. A motivação? O ódio entre dois irmãos, Raquel e Alexandre. Lacan indica que “se o amor aspira ao desenvolvimento do ser do outro, o ódio quer o contrário, ou seja, sua humilhação, sua derrota, seu desvio, seu delírio, sua negação detalhada, sua subversão”

SUBMISSÃO DE TRABALHOS

A comissão científica avisa que o PRAZO para a entrega dos trabalhos foi PRORROGADO para o dia 25/07!

Encontre as coordenadas para a submissão

INSCRIÇÕES

As inscrições para as II Jornadas da EBO-SLO O amor no tempo das cóleras estão abertas.

O passo a passo para efetivar a sua está em aqui.
Não deixe para a última hora!

amurados – Boletim Eletrônico das II Jornadas da Escola Brasileira de Psicanálise – Seção Leste-oeste
Comissão amurados: Adriana Gomes Pessoa (coordenadora),  André Luiz Pacheco da Silva,
Regina Cheli Prati, Rosangela Ribeiro, Simone Vieira, Victor Caetano Pereira Rocha e Waléria Paixão.
Designer: Bruno Senna – sennabruno@gmail.com
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