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A Princesa de Clèves

Por Simone Souza Vieira – Comissão de Boletim

“… a Princesa de Clèves se dedica a preservar o sentido do desejo, o desejo enquanto sentido, ao instalar-se em um amor cortês perpetuamente – o que significa que reconhece o amor enquanto significação vazia, e que se dedica a encarnar a ausência de relação sexual na ausência da relação carnal” (MILLER, 2013, p. 179).

Miller no El Ultimíssimo Lacan aborda o sentido do desejo a partir do amor cortês. Ele toma um clássico da literatura para localizar um exemplo magistral sobre esse tema.

Trata-se do livro A Princesa de Clèves, considerado o primeiro romance moderno da literatura francesa.

Escrito por Madame de Lafayette no séc. XVII, o livro traz como pano de fundo uma questão:“o que faz balançar o coração de uma mulher?”

Numa trama recheada de sobressaltos sobre a vida amorosa da princesa de Clèves, encontramos a protagonista dividida entre manter-se num casamento com o príncipe de Clèves, a quem não amava, ou se entregar ao amor correspondido pelo senhor de Nemours, belo cavalheiro, que ela conhece na corte.

A trama então acontece numa corte onde todos os personagens mentem, escamoteiam e dissimulam, mas a princesa de Clèves não. Ela pretende ser uma representante da ética, da boa educação, da sinceridade e da honestidade. Cabe questionar “que lugar a virtude ocupa no mundo corrompido da corte?”

 Nesse cenário desenrola-se, o drama amoroso da princesa de Clèves, que tem como desfecho sua decisão de viver a plenitude de um amor cortês.

Por se tratar de uma obra clássica, torna-se também uma obra atemporal, e até mesmo atual, vide sua adaptação moderna para o cinema – A Carta, filme de 1999, do cineasta português Manoel de Oliveira.

Tanto no livro do séc. XVI quanto no filme do séc. XXI encontramos personagens que mantém invariáveis os imbróglios das relações humanas e, por conseguinte, da não relação sexual.

A partir disso, como poderíamos pensar o que Miller nos trouxe sobre o amor cortês enquanto aquilo que preserva o sentido do desejo na contemporaneidade?

Vale a pena conferir A Princesa de Clèves.

Miller, J-A. El ultimíssimo Lacan. Buenos Aires: Paidos, 2013.
Lafayette, M-M P. de la Vergne. A princesa de Clèves/ Madame de Lafayette. Rio de Janeiro: Record, 2004.
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