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#02

Editorial

No BOLETIM #02, temos algumas preciosidades. De início, na rubrica “Textos de Orientação”, nosso membro convidado à escrita, Iordan Gurgel (AME-EBP/AMP) nos contempla com a pérola “A solidão do psicótico”. O texto foi produzido a partir do que ressoou em Iordan a partir da referência presente no Eixo I: “Vê-se, em Joyce com Nora, um encontro contingente, que coloca em jogo tudo o que marca cada falasser […]”. Uma leitura que desdobra questões importantes a respeito de nosso tema.

Na sequência, ainda na rubrica “Textos de Orientação”, também apresentamos a parte I do texto do nosso ilustre convidado internacional, Pierre Sidon (ECF/AMP): “O real é nossa aspiração”, que contemplará o Eixo 3. O autor retoma a definição da toxicomania, articulando-a à noção de alienação – do gozo e da liberdade como pertencentes ao real para discutir o tratamento possível na clínica com os toxicômanos: um tratamento que leva em conta o impossível e o real, convocando à uma reorientação quanto à interpretação analítica.

No convite a continuarem se equilibrando na leitura, na rubrica“Corda Bamba” encontraremos o comentário de nossa cara Sandra Grostein (AME-EBP/AMP) sobre a citação extraída do Seminário 23 de Lacan: “Na medida em que há sinthoma, não há equivalência sexual, isto é, há relação” (p.198).

Para finalizar, enfatizamos o convite à inscrição em nossas VI Jornadas e lembrá-los sobre o prazo para o envio de trabalhos – 05 de agosto, com as orientações para a escrita –, além de conferirem as indicações da comissão de acolhimento para hospedagem e alimentação.

Avante a leitura! Valerá a pena se (des)equilibrar nela.

Gabriel Caixeta
Ordália A Junqueira

TEXTOS DE ORIENTAÇÃO

“A solidão do psicótico”
IORDAN GURGEL – (AME-EBP/AMP)

Uma referência presente no argumento do Eixo I (O que dizer das parcerias nas psicoses e no autismo?)1– “Vê-se, em Joyce com Nora, um encontro contingente, que coloca em jogo tudo o que marca cada falasser: o traço de seu exílio da relação sexual, a solidão, o real da relação sexual que não existe” – deu-me o mote para trazer esta contribuição ao Boletim Desequilíbrio.

Como sabemos, a solidão é uma condição de todo sujeito que fala. Isso significa que, ao se dirigir ao Outro, há sempre algo que não se transmite, algo que não se compartilha completamente. Trata-se da solidão própria do sujeito falante: a linguagem – enquanto campo do Outro – nunca consegue dar conta da experiência de gozo, daquilo que escapa à significação.

Assim, para Lacan, o sujeito se constitui a partir da linguagem, na relação com o Outro. Mas essa relação jamais é de completude: há sempre um furo, uma falta estrutural. E é nessa condição que a solidão surge – não como um isolamento contingente, mas como efeito estrutural do fato de sermos sujeitos do inconsciente. Esta é a condição do sujeito neurótico.

Na psicose, porém, a solidão adquire outra ordem, pois há uma relação alterada com o Outro: verifica-se a foraclusão do Nome-do-Pai, o que implica a ausência do significante que permitiria regular a cadeia significante a partir do Outro – não se estabelece a metáfora paterna capaz de operar uma normatização do gozo. Como consequência, sem a proteção do significante Nome-do-Pai, o sujeito fica exposto a uma relação mais direta e intrusiva com o gozo e com a linguagem.
Nos casos em que o Outro não se estabiliza, a solidão ganha outro estatuto: não deve ser tomada apenas como efeito da estrutura simbólica, mas como condição de exílio radical do laço social, que pode se manifestar tanto pelo retraimento quanto pela erotomania, mas também pelos fenômenos elementares – enquanto tentativas de adaptação. Como dizia Clérambault, o delírio e a alucinação são companhias para o psicótico2; é o Outro que fala e o faz falado. Podemos lembrar do início da doença de Schreber, quando ele inicia seu afastamento social, se isola, delira e alucina, como uma forma de tratamento frente à solidão, consequente ao impossível de significantizar, decorrente da foraclusão do Nome-do-Pai – era um modo singular de reordenar sua realidade.

Na clínica das psicoses, a solidão pode assumir aspectos radicais. Pela foraclusão do Nome-do-Pai e, em consequência, justamente porque o Outro nunca é inteiramente acessível, a solidão no amor e no gozo se manifesta, e ocorre uma disrupção no sentimento de vida do sujeito. O psicótico, em razão de sua dificuldade estrutural de se relacionar com o Outro, experimenta a solidão por excelência: está essencialmente só, como se observa na clínica da loucura. O melancólico se exila em seu excesso de culpa e autorreprovação; o paranoico, em sua certeza persecutória; e o esquizofrênico, na indiferença absoluta3.

O problema é que essa solidão essencial não basta para tratar o insuportável foraclusivo que motivou tal retirada. No entanto, é justamente esse desconforto que abre a via para um pedido de socorro e, a partir de um encontro com o analista, essa solidão estrutural pode encontrar algum abrandamento.

Essa é a condição que nos orienta na direção do tratamento: o encontro do psicótico com um analista constitui-se como um recurso frente à solidão devastadora que impõe a certeza, o mutismo e o blá-blá-blá interior que o levam a se perder em si mesmo. É justamente esse ponto que precisa ser escutado e acolhido4. Aí reside o essencial do encontro: que a loucura possa se manifestar e ser escutada. Cabe ao analista possibilitar esses encontros e permitir ao sujeito encontrar um lugar no Outro que acolha sua certeza – sem a questionar – e esteja disposto a, sucessivamente, reencontrá-lo e suportar sua desordem. Por isso, a relação do psicótico com o Outro é sempre problemática e exige, para regular o gozo invasivo, uma suplência, uma invenção particular para lidar com esse Outro, que não se apresenta de entrada como consistente.

1 Por Rosangela Ribeiro (EBP/AMP) e Bartyra Ribeiro de Castro (EBP/AMP).
2 Citado por José María Álvarez em ‘Princípios de uma psicoterapia de la psicoses’, Xoroi Edicions, 2020, p.94.
3 Idem, p.79.
4 Ibidem, p. 16


“O real é nossa aspiração”
PIERRE SIDON – (ECF/AMP)

Dentre as definições da toxicomania e das adicções, a famosa tese repercutida, por exemplo, no célebre Manual de Psiquiatria, de Henri Ey, comporta a ideia aparentemente psicanalítica de “regressão a um prazer parcial”: “a conduta específica, do tipo perverso, que constitui uma regressão instintivo-afetiva, um verdadeiro e profundo desequilíbrio na integração das pulsões.”…

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Corda Bamba

Na medida em que há sinthoma, não há equivalência sexual, isto é, há relação”. (Lacan, O seminário, livro 23: o sinthoma, p. 198)

Comentário de Sandra Grostein (AME-EBP/AMP)

Há relação. Miller, nos seis paradigmas do gozo, mais precisamente no sexto paradigma, vai dizer que este é fundado sobre a não relação sexual, sobre a disjunção entre o significante e o gozo, a disjunção do gozo e do Outro, a disjunção do homem e da mulher. Para dizer que há relação, é preciso exatamente diferenciar o gozo da não relação, no qual o sintoma se apresenta como signo de uma satisfação substitutiva, desde Freud, e o sinthoma como marca da não equivalência entre os sexos.

Lacan considera que a linguagem em sua função de fazer furo aprofunda o oco do real da sexualidade e promove um gozo, que a psicanálise como experiência visa reduzir.  Esboçamos uma resposta na qual a topologia é o recurso que Lacan utiliza para colocar o tratamento pela palavra no patamar em que a linguagem como gozo, “que come o real”, que se confunde com o simbólico, possa se articular com o imaginário para dar suporte ao sinthoma.

Informes

ACOLHIMENTO

Preparamos uma primeira lista com algumas sugestões da comissão de acolhimento, sobretudo no que se refere às hospedagens. E, uma lista das opções gastronômicas e culturais da cidade.

Caros (des)equilibristas, aguardamos vocês para se (des)encontrarem por aqui!

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ENVIO DE TRABALHOS:

Acerca dos trabalhos enviados para as mesas simultâneas, comunicamos que, uma vez aceitos pela Comissão Científica, eles serão encaminhados para a Comissão Editorial para a revisão gramatical dos textos e a padronização nas normas acadêmicas, visando sua publicação na Coletânea das VI Jornadas (anais). Se necessário, caberá à Comissão Editorial a interlocução com os autores dos textos aceitos para dirimir dúvidas na formatação e propor ajustes para publicação.

Comissão Editorial das VI Jornadas
Coord. Olenice Amorim Gonçalves

ENVIO DE TRABALHOS

INSCRIÇÕES

EIXOS TEMÁTICOS

COMISSÕES DE TRABALHO


Direção Geral

DIREÇÃO GERAL:  Alberto Murta (AME-EBP/AMP) – Diretor Geral da EBP-SLO
COORDENAÇÃO GERAL: Ceres Lêda F.  F . RÚBIO (EBP/AMP)
CONVIDADO INTERNACIONAL: Pierre SIDON (ECF/AMP)

Coordenadora: 
Ordália A. Junqueira (EBP/AMP). Caroline Quixabeira (NPJ/EBP); Cristina Alves/GO;

Fábio P. Barreto (EBP/AMP); Gabriel Caixeta (NPJ/EBP); Luísa Carvalho (NPJ/EBP); Melissa Fukuchi/DF; Juliana Melo/GO.

Designer: Bruno Senna

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