
#01
Editorial
Apresentamos uma convergência de dois movimentos: um reencontro com os quatro eixos previamente apresentados – agora em suas versões decantadas, com perguntas convocadoras à escrita – e dois encontros – com Camila Colás ( EBP/AMP) na rubrica “Corda Bamba”, respondendo a pergunta de Luisa Carvalho (NPJ/EBP), e o primeiro Texto de Orientação produzido por um membro convidado. Elisa Alvarenga (AME/EBP/AMP) inicia a série com um caso retirado da ficção de Haruki Murakami, “que contradiz a teoria psicanalítica”. Um homem, Dr. Tokai, dizia que as mulheres têm “um órgão independente” para mentir e ele usou esse órgão para se apaixonar, levá-lo às alturas e ao abismo, encontrando com uma versão do amor “fora da medida fálica” ao se deixar cair, ampliando a discussão sobre parceiro-sintoma e/ou parceiro-devastação para além dos confins das leituras tradicionais.
Por último, fechamos essa edição com a lista de hotéis indicados pela Comissão de Acolhimento, além das informações sobre inscrições e envios de trabalho.
Ordália Junqueira (EBP/AMP)
Caroline Quixabeira (NPJ/EBP)

ARGUMENTOS DOS EIXOS TEMÁTICOS
EIXO 1 – O QUE DIZER DAS PARCERIAS NAS PSICOSES E NO AUTISMO?
Bartyra Ribeiro de Castro (EBP/AMP)
Rosangela Ribeiro (EBP/AMP)
Há parcerias na psicose? E no autismo, o que pensar em termos de sintoma e de parcerias?
EIXO 2 – PARCEIRO-FANTASMA E PARCEIRO-DEVASTAÇÃO
Jaqueline Coelho (EBP/AMP)
Tânia Regina A. Martins (EBP/AMP)
O parceiro-sinthoma é, em primeiro lugar, “um modo de gozar […] do inconsciente, do saber inconsciente, da articulação significante e do investimento libidinal do significante e do significado; […] em segundo lugar, é um modo de gozar do corpo do Outro.
EIXO 3 – TOXICOMANIA: A DROGA COMO PARCEIRO DE GOZO
Cristiano Alves Pimenta (EBP/AMP)
O uso da droga constitui, para o sujeito toxicômano, uma autêntica experiência de gozo, cuja origem, “a primeira vez”, produziu, em muitos casos, uma perturbação da ordem de um verdadeiro acontecimento de corpo.
EIXO 4 – ARTE, POLÍTICA E SINTHOMA
Ary Farias (EBP-AMP)
No que podemos alinhar esses três significantes, temos a arte como manufatura de gozo privilegiada, uma forma de leitura e interpretação sofisticada sobre as questões que fazem voragem ao corpo vivo, suas angústias, suas errâncias e a constatação inevitável da solidão do Um

Corda Bamba
PERGUNTA: LUISA CARVALHO (NPJ/EBP)
Miller agrega o sintoma ao termo parceiro para destacar que se serve do Outro para o gozo do Um. A partir disso, você poderia dizer qual a diferença que ele estabelece entre saber hacer (savoir faire) e arreglarselas (savoir y faire)?
COMENTÁRIO: CAMILA COLÁS (EBP/AMP)
Na língua francesa, o savoir-faire (saber-fazer) é usado para algo aprendido, uma técnica adquirida, um saber prático. É como saber andar de bicicleta. O savoir y faire é acompanhado do “com” alguma coisa. O “y” inclui um aí, algo enigmático, que escapa da língua comum. É um saber não confiável e sem garantia para usá-lo de novo. Para a psicanálise, o saber está do lado das pulsões, nas satisfações. O saber-fazer-aí inclui o real, na medida em que uma nova parceria com o sinthoma acontece. Com o saber, se inventa; porém, é a cada vez. Diante do incurável, é preciso saber-fazer-aí com o sinthoma e não mais com o Outro e o fantasma que mantêm o sujeito preso na ficção em que o saber-fazer lhe cai muito bem.

TEXTO DE ORIENTAÇÃO
Parceiro-sintoma ou parceiro-devastação?
Elisa Alvarenga (AME-EBP/AMP)
Temos o hábito de pensar, a partir das contribuições de Freud à psicologia do amor, assim como das tábuas da sexuação do Seminário 20, o parceiro sintoma do lado do homem, que faz de uma mulher a causa do seu desejo, buscando nela o objeto do seu fantasma ($<>a), assim como o parceiro-devastação do lado da mulher, cujo gozo se divide entre o falo buscado no homem e o ilimitado de S(A/). As figuras da mulher sintoma e do homem devastação do Seminário 23, às quais Jacques-Alain Miller dá um novo colorido em O osso de uma análise, não deixam de confirmar essa leitura.
Proponho-lhes, então, o caso de um homem, ficção de Haruki Murakami no livro Homens sem mulheres1, que nos convida, à maneira de Freud, a interrogá-lo como um caso em contradição com a teoria analítica. O conto “Um órgão independente” nos surpreende ao colocar em cena o não-todo do gozo feminino, não só do lado da mulher, mas do lado do próprio homem, devastado pelo amor a uma mulher que o deixa cair.
Trata-se de um cirurgião plástico bem-sucedido, celibatário convicto, que só sai com mulheres comprometidas, colocando aparentemente em cena a condição de amor relatada por Freud em seu texto “Um tipo especial de escolha de objeto feita pelos homens”. Durante 30 anos, o dr. Tokai sai com mulheres casadas, às vezes mais de uma simultaneamente, e é hábil em desvencilhar-se se elas ameaçam apaixonar-se. Mas logo nos perguntaremos se é a condição do terceiro prejudicado que move o dr. Tokai. Um dia, inesperadamente, ele se apaixona. Perde a vontade de sair com as outras, de comer, de trabalhar, de se vestir com apuro. Ele descobre seu ódio e sua vontade de destruir tudo. Essa mulher deixa o marido e o filho para ir embora com outro, mas não por ele. Ele dizia que as mulheres têm “um órgão independente” para mentir e ele usou esse órgão para se apaixonar, levá-lo às alturas e ao abismo. O gozo feminino, opaco, para além da medida fálica que ele sabia usar tão bem, é encarnado em uma mulher e, logo, nele mesmo, e o leva ao pior.
Se os 30 anos da vida do dr. Tokai, pautados pela regularidade das parcerias escolhidas pela condição de estarem comprometidas com outro homem, nos fazem pensar em uma neurose regulada pelo falo que coloca em cena a monotonia do fantasma, o encontro devastador fez apelo a um outro gozo escondido sob a regularidade fálica. Se Lacan diz que a libido é um órgão, temos aqui um órgão independente, fora da medida fálica, que este sujeito experimentou uma única vez em sua juventude, ao apaixonar-se ao ponto de sentir dores no peito. Antes, porém, do encontro com a mulher devastadora, o dr. Tokai confidencia ao autor o seu encontro com o livro de um médico que viveu a experiência devastadora de um campo de concentração nazista. A perda amorosa leva-o, então, à realização do fantasma de reduzir-se a nada, apagar-se no ódio a si mesmo, fazendo da mulher o fator desencadeante do seu fantasma de aniquilamento. Não há aí uma diferença em relação à devastação feminina como outra face do amor?
1 MURAKAMI Haruki. Um órgão independente. In: Homens sem mulheres. Traduzido e publicado em inglês em 2017. Site:Homens Sem Mulheres (coleção de contos de Haruki Murakami) – Wikipédia, a enciclopédia livre

Informes
ACOLHIMENTO
Preparamos uma primeira lista com algumas sugestões da comissão de acolhimento, sobretudo no que se refere às hospedagens. Estamos preparando uma lista mais abrangente das opções gastronômicas e culturais da cidade.
Caros (des)equilibristas, aguardamos vocês para se (des)encontrarem por aqui!
ENVIO DE TRABALHOS:
Acerca dos trabalhos enviados para as mesas simultâneas, comunicamos que, uma vez aceitos pela Comissão Científica, eles serão encaminhados para a Comissão Editorial para a revisão gramatical dos textos e a padronização nas normas acadêmicas, visando sua publicação na Coletânea das VI Jornadas (anais). Se necessário, caberá à Comissão Editorial a interlocução com os autores dos textos aceitos para dirimir dúvidas na formatação e propor ajustes para publicação.
Comissão Editorial das VI Jornadas
Coord. Olenice Amorim Gonçalves
OBSERVAÇÃO: As normas para o envio de trabalhos estão no BOLETIM ZERO e no site das VI JORNADAS. Porém, o e-mail para o envio foi alterado: jornadas.cientifica.slo@gmail.com

Direção Geral
DIREÇÃO GERAL: Alberto Murta (AME-EBP/AMP) – Diretor Geral da EBP-SLO
COORDENAÇÃO GERAL: Ceres Lêda F. F . RÚBIO (EBP/AMP)
CONVIDADO INTERNACIONAL: Pierre SIDON (ECF/AMP)
Coordenadora: Ordália A. Junqueira (EBP/AMP). Caroline Quixabeira (NPJ/EBP); Cristina Alves/GO;
Fábio P. Barreto (EBP/AMP); Gabriel Caixeta (NPJ/EBP); Luísa Carvalho (NPJ/EBP); Melissa Fukuchi/DF; Juliana Melo/GO.
Designer: Bruno Senna