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Editorial Boletim amurados #6

Por Adriana Pessoa – Coordenadora da comissão amurados
Imagem: AMPBlog
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A sexta edição do boletim amurados – carinhosamente nomeada pela comissão de edição sexo, drogas e rock’n’roll – é dedicada aos temas da toxicomania e da sexualidade como sintomas expressivos dos dias de hoje. Assim como a drogadição, os processos atuais de transformação corporal são respostas ao mal estar contemporâneo, revelando um gozo excedente, que transpõe os limites do prazer e, além disso, podem se tornar fenômenos de segregação.

Naparstek¹ assinala que as respostas sintomáticas frente ao mal-estar da cultura vão se produzir a partir do momento histórico da sociedade. Na contemporaneidade, onde o discurso capitalista impera, as drogas passaram a ocupar um lugar importante entre os bens de consumo, produzindo o mais-de-gozar e, com isso, sujeitos que não são marcados pelo desejo, mas pela falta a ser preenchida pelos objetos ofertados, muitas vezes pelas drogas e não pelo amor como um resultado da ruptura com o gozo fálico.

Seguindo os efeitos do discurso científico, deparamo-nos atualmente com as discussões sobre os gêneros e o chamado ‘fenômeno trans’. Florencia Shanahan comenta a entrevista de Marie-Hélène Brousse a LWT. Segundo ela, Brousse “situa a emergência do discurso transgênero não apenas no contexto dos discursos pós-modernos do relativismo cultural, mas mais fundamentalmente como sintoma de uma modificação contínua da relação entre a linguagem e o corpo produzida pelos efeitos do discurso científico. Enquanto a prática psicanalítica toma o corpo falante como seu ponto de referência fundamental, o discurso científico está em processo de efetuar uma separação, uma desarticulação entre estes dois termos, falar e corpo, a fim de ter acesso técnico desimpedido ao corpo”. Sendo assim, as consequências do avanço científico, os modos de articulação com o real, as modalidades do gozo, especificamente do gozo do UM se apresentam nas toxicomanias e nas novas orientações sexuais com suas profundas implicações no corpo do ser falante.

Para trazer um pouco do que diz sobre isso o discurso analítico, trazemos, nessa edição, uma ‘equipe’ de peso!

Abrimos a rubrica ‘textos’ com Christiane Alberti, diretora das Grandes Conversações Virtuais da AMP La femme n’existe pas, com sua instigante argumentação sobre o que nos ensina as palavras das mulheres no #metoo. Trazendo para a pauta que a mudança do feminismo enquanto um discurso político para um feminismo dos corpos traz a guerra política para o registro do íntimo, enquanto que o feminino escapa, como tal, a toda mestria, a todo saber, uma vez que ele ex-siste aos semblantes de gênero. Nesse sentido, o discurso analítico torna-se a via pela qual se pode extrair uma identidade de gênero especial, aquela do sintoma, ou seja, a marca singular que, por não poder ser coletivizada escapa à inclinação de todo discurso: a dominação.

Amy Winehouse e Rita Lee, cantoras, compositoras e divas entram em cena para discutirmos a tese milleriana que coloca a toxicomania como um anti-amor, que prescinde do parceiro sexual e se concentra no parceiro (a)sexuado do mais-de-gozar. Com Amy, Jésus Santiago questiona: Ela pode ser uma exceção, ou, afinal, a ruptura fálica e o amor-devastação não são coisas que andam juntas em sujeitos nos quais prevalece o não-todo fálico?  Já o texto Bordas para o indizível: da maldita ao bem-dito, que contou com a colaboração dos núcleos de investigação TyA  do Brasil, nos mostra, com as próprias palavras de Rita, como o amor, a partir de um encontro contingente, trouxe um limite para o imperativo do gozo, introduzindo uma hiância e situando no Outro o objeto que falta.

Claudia Murta fecha essa rubrica com seu texto sobre o Croosdresser como forma de trabalhar a feminização no contexto da comunidade fetichista. Vestir-se de mulher, como um fetiche, e se aproximar ao máximo do modo de ser de uma mulher, é uma maneira possível para um homem entender uma mulher, bem como um meio para tornar suportável o reencontro com o infamiliar do sexo feminino. Não deixa de ser uma forma de amor!

Em Labirintos, Rosangela Ribeiro traz um comentário de um filme que certamente marcou quem o assistiu: Bicho de Sete Cabeças, que mostra como a falta de compreensão, a segregação e o ódio podem decidir mais sobre a vida de um jovem, destruindo-a como a Hidra de Lerna, do que sua relação com as drogas.

Ao final, encontramos um pequeno catálogo de filmes que abordam muito bem todos esses temas polêmicos e cuja abordagem é imprescindível em nossa época.

Boa leitura a todos!


¹ NAPARSTEK, F. Introdución a la clinica con toxicomanias y alcoholismo. Buenos Aires. Grama ediciones.2008.
² SHANAHAN F. Texto de Apresentação na Sociedade de Londres da NLS ‘Conversa sobre a Questão Trans’. Disponível em: http://uqbarwapol.com/introduction-to-a-conversation-on-the-trans-question-roger-litten-nls/
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