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Boletim amurados #003
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EDITORIAL
Por Victor Caetano – Comissão de Boletim
A tendência do amor é a de ir em direção ao mesmo. A partir dessa premissa do filósofo iluminista Voltaire, Alexandre Stevens questiona a posição narcísica do amor. Stevens convoca Freud para essa discussão, reconhecendo que ele, um século e meio mais tarde, manteria tal dimensão narcísica. Posteriormente, a inserção do ensino de Lacan é, segundo Stevens, um ponto de inflexão, visto que, aqui, “o amor, não é somente narcísico. Ele tem uma função de suplência.
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Amor e Nome-do-pai
por Alexandre Stevens – AME, Membro da ECF, NLS e da AMP
“Amor omnibus idem”. É assim que se inicia o verbete “amor’’ do Dictionnaire philosophique de Voltaire, na sua edição de 1769, La raison par l’alphabet. A tendência do amor é de ir em direção ao mesmo, é o que sublinha Voltaire. O mesmo na repetição de sua procura de eficácia biológica, orientada por uma tensão psíquica em direção ao parceiro que a espécie lhe designa – “você quer ter uma ideia do amor?Veja os pardais do seu jardim, veja os pombos, contemple o toro…’’ – sem que isso presuma necessariamente um gozo. O mesmo também no amor próprio: “Aqueles que disseram que o amor por nós mesmos é a base de todos os nossos sentimentos e de todas as nossas ações tiveram, portanto, razão …”
Entre um gozo que não se fala e a conversação viva de amor
por Letícia Ferreira Braga
Dizer do gozo é apontar para um acontecimento de corpo que não se funda e não se garante completamente na relação com o Outro; onde há gozo há falta do Outro. Esse é um ponto de apoio importante para Lacan, uma vez que ele esvazia o Nome do Pai dessa função de a tudo significantizar; há algo que está além do Outro. Escrever S(Ⱥ) com essa barra no Outro diz do significante que falta a ele — assim Miller (2008) também compreendeu, a partir de Lacan, quando traz que “do lado feminino, o gozo que lhe é próprio está intrinsecamente, de maneira fundamental e indiscutível, ligado ao Outro, ao amor do Outro na forma de S(Ⱥ)” (MILLER, 2008, livre tradução).
FRAGMENTOS DE amuro
Por considerar o amor pelo viés do narcisismo Lacan aponta, nesse tempo de seu ensino, para sua dimensão imaginária em que a hostilidade aparece como a outra face do amor.
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Toda a demanda ao outro acaba se constituindo em demanda de amor. Ao pedir por satisfação do que se designa ao outro, nunca se obterá resposta satisfatória ao que é designado.
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Lacan no Seminário, Livro 8 – “A Transferência” nos impacta ao proferir essa frase e em tempos tão difíceis ouvir falar de amor é algo que nos detém, pelo menos por um instante.Lacan nos aponta que…
A Princesa de Clèves
Por Simone Souza Vieira – Comissão de Boletim
“… a Princesa de Clèves se dedica a preservar o sentido do desejo, o desejo enquanto sentido, ao instalar-se em um amor cortês perpetuamente – o que significa que reconhece o amor enquanto significação vazia, e que se dedica a encarnar a ausência de relação sexual na ausência da relação carnal” (MILLER, 2013, p. 179).
A carta (Manoel de Oliveira, 1999)
Por Regina Cheli Prati – Comissão de Boletim
Manoel de Oliveira, cineasta português, trouxe para o cinema uma adaptação atualizada do romance A princesa de Clèves (1678) de Madame de La Fayette. Neste filme Catherine de Chartres é uma jovem linda que sofreu uma desilusão amorosa e que se casa sem amar com Louis de Clèves um médico atencioso que a ama imensamente.