Nesse episódio do Radar, recebemos o cientista político Jorge Chaloub, estudioso dos múltiplos movimentos da direita brasileira. Gravada logo após as eleições municipais de 2024, a conversa parte da aposta de que processos políticos e eleitorais servem como uma lupa ou uma caixa de ressonância para processos sociais e subjetivos que são, muitas vezes, difíceis de observar. Debatemos a depreciação da democracia, o apelo atual das noções de empreendedorismo e prosperidade, as implicações políticas e subjetivas dos ambientes virtuais entre outros temas. Nos termos da psicanálise, nos perguntamos: que Outro é esse?
Boletim – Radar
Nesse episódio, conversamos com o psicanalista Gilson Iannini, membro da EBP/AMP, sobre seu mais recente livro, “Freud no Século XXI, O que é a psicanálise?” (Ed. Autêntica). Além de propor caminhos para a renovação da leitura de Freud, a obra impõe diversas reflexões sobre as relações da psicanálise com a sociedade. Em nossa conversa, a noção freudiana de infamiliar se destaca como uma chave de leitura da atualidade, mas também como orientação sobre a posição da psicanálise frente à ciência, à política e à cultura.
Boletim – Radar
O Radar lança o ano de 2024 com uma convidada muito especial: a escritora, editora, educadora e militante Helena Silvestre. Esse é mais um capítulo de uma interlocução iniciada com Helena em 2022, por ocasião das Jornadas da EBP-Rio e do ICP-RJ, e que nos encanta desde então.
Naquele momento, o assunto girou em torno do “Notas sobre a fome”, um livro imperdível. Dessa vez, foi a mais recente obra de Helena que surgiu em nosso Radar: “Cochichos de amor e outras Alquimias”, lançado pela Txai (link abaixo). Fortíssimo, o romance narra a história de Luzia, essa jovem que “desejava mais liberdade que aquela que lhe davam” e que, no início da narrativa, foge de casa com apenas 17 anos de idade.
Gravada no apagar das luzes de 2023, nossa conversa fluiu pelos múltiplos lugares aos quais o livro nos leva: a luta por terra e moradia, a experiência amorosa entremeada ao ímpeto da militância, os paradoxos da família que apoia e viola… Como sempre, aprendemos com Helena Silvestre sobre o balanço entre o desejo radical de liberdade e aquele de se envolver profundamente com pessoas, causas e lugares. E há tanto disso também em sua Luzia, “com um pé em cada canoa, como alguém que carrega as esquinas dentro de si”.
https://txaieditora.com/produto/cochichos-de-amor-e-outras-alquimias/
03 | Psicanálise e ciência, com Adriano Aguiar e Marcelo Veras
A questão da relação entre psicanálise e ciência foi central para Freud e assim se manteve desde então. Ao longo de mais de 120 anos, tanto a prática científica quanto a psicanálise passaram, naturalmente, por grandes transformações.
Uma dimensão estrutural parece, no entanto, se manter: a psicanálise é impensável sem o giro científico da civilização, mas seus conceitos e sua práxis não se conformam ao método experimental.
Como pensar essa tensão nos dias atuais? De que maneira encarar os persistentes ataques à psicanálise que tomam por base sua suposta não cientificidade? Com que ciência é possível produzir parcerias? Essas e outras perguntas são
abordadas pelos nossos convidados deste episódio, os psicanalistas e psiquiatras Marcelo Veras e Adriano Aguiar, ambos membros da Escola Brasileira de Psicanálise.
Referência bibliográfica
Milner, Jean-Claude. Clartés de tout
de Lacan à Marx, d’Aristote à Mao. Paris: Verdier, 2011.
Radar – Marina Morena Torres conversa com Daniele Menezes, Geisa de Assis e Jefferson Nascimento
Para tratar das discussões propostas pelo livro de Neusa, mas também no intuito de dar um passo a mais e englobar outras discussões que estão em pauta na área atualmente, convidamos à conversa os psicanalistas Geisa de Assis, Daniele Menezes e Jefferson Nascimento.
Os convidados abordam a relação entre psicanálise e racismo, perpassando as temáticas de raça, branquitude, identidade, política e clínica, em uma leitura baseada nas especificidades da cultura brasileira.
Apresentação Radar
Do que acontece na cidade, muita coisa concerne aos psicanalistas. Mais ainda em um tempo e em um lugar como os nossos, que caminham tantas vezes em direção ao pior. O que Freud aprendeu e ensinou sobre a subjetividade vale igualmente para o esforço conceitual da psicanálise: as alteridades mais relevantes são, na verdade, internas.
Ligar nosso Radar não é, portanto, um movimento secundário e recreativo, mas sim um gesto primário e constitutivo; nossas teorias e nossas práticas são permanentemente informadas pelas trocas com o que pulsa em nosso território.
Canções, imagens, filmes, exposições, textos e tantas outras produções culturais sempre foram nossos aliados, mas alguns nos tocam mais diretamente, por provocarem aberturas de um jeito afim à experiência do inconsciente. Deles nos serviremos, não como analogias, nem como exemplos, mas como lições para prosseguir no rastro de Freud e de Lacan, ainda que por novos caminhos.
Coordenação: Rodrigo Lyra Carvalho
Equipe:
- Daniele Menezes
- Jefferson Nascimento
- Lourenço Astua de Moraes
- Marcus André Vieira
- Marina Morena Torres
II – 01 | Letícia Cesarino
Para lançar uma nova temporada, o Radar conversou com Leticia Cesarino, professora no Departamento de Antropologia da UFSC, sobre seu livro “O mundo do avesso: verdade e política na era digital”, publicado pela UBU em 2022.
É um livro fundamental para acessar diversas chaves de leitura e novas perspectivas sobre o que está ocorrendo conosco e à nossa volta. Leticia aborda os profundos efeitos de desestruturação e instabilidade que temos testemunhado em nossa sociedade, causados ou ao menos acompanhados pela incidência das ferramentas digitais. Tudo isso com foco importante na dimensão política e nos chamados regimes de verdade. O livro narra a experiência de uma quebra generalizada de confiança nas instituições tradicionais e de uma profunda perturbação de fronteiras que mantinham apartados campos distintos, como o público e o privado, civil e militar, jurídico e político, fato e ficção.
Ao lado dessa descrição, há uma leitura estrutural e cibernética, uma série de múltiplos recursos conceituais para elucidar como a arquitetura das plataformas digitais impactam, política, saber, subjetividade. Os pontos de contato com a psicanálise são muitos: nos interessam as novas estruturas coletivas sendo criadas, novas realidades de assimetria entre sujeito e Outro, impasses distintos no acesso o que é diferente, estranho, êxtimo, além de uma série de perguntas sobre outros modos de manifestação do que pode autêntico na experiência individual com o corpo e com a linguagem.
Abaixo, uma lista hiper sintética de pontos que nos tocaram:
- Este livro é uma “produção liminar” em sintonia com seu objeto, as redes;
- As redes digitais são um objeto que põe em crise o conhecimento linear;
- Para o livro, foi preciso coragem e Bateson, com sua ecologia da mente;
- Trata-se de uma mistura de paradigmas (não apenas analogias);
- Letícia Cesarino: “Não sei se algum dia farei outro livro como esse”;
- Quais reestruturações estariam em curso?;
- Entre “cisma” e “platôs”, há uma dialética em jogo;
- “Sonhei que Bateson ia me dar a saída”;
- Uma nova Gestalt que só estará clara mais adiante;
- Entre as gramáticas lineares e as sistêmicas, temos que ficar com as duas;
- Nas redes, é preciso competir com as camadas intermediárias;
- Na seara política, disputar sim, mimetizar, não;
- O “intelectual orgânico” de hoje é o que está no ambiente digital e usa o algoritmo a seu favor;
- É preciso uma nova maneira de ler as oposições entre esquerda e direita; por exemplo, universalismo e particularismos;
- É preciso ganhar tempo para que uma nova composição para a esquerda se dê;
- Pode-se explorar as margens das plataformas.
Aberturas e fechamentos na Escola
Fala de encerramento na comissão da Diretoria de Cartéis 2021-2023
Renata Martinez
Boa-noite a todos! Que bom estar ao vivo aqui na nossa casa nesse brinde de encerramento de mais um ano da vida da EBP Rio. Gostaria de começar agradecendo às minhas colegas de comissão Maricia Ciscato, Ana Luiza Rajo, Cristina Duba, Maria Antunes e Sandra Landim pelo trabalho potente que fizemos juntas ao longo desses quase dois anos. Muitas vezes esses agradecimentos são meras formalidades, mas espero que em minha enunciação isso possa ir além… Quero agradecer também à Ruth Cohen pela generosidade e abertura ao novo com que conduziu essa gestão e a Cristina Frederico, Ana Beatriz Freire e Maricia Ciscato, cada uma a seu modo, pela quase conclusão do desafio a que se propuseram nessa diretoria!
Quando a Maricia me convidou para compor a comissão de cartéis, eu estava finalizando minha passagem pela diretoria de secretaria e tesouraria, feliz, porém exausta. Ponderei, mas resolvi aceitar, apostando e desejando que o exercício da permutação me oferecesse boas surpresas. Obrigada, Ma, pela oportunidade e pela parceria, aprendi muito com você, (aliás aprendo sempre, desde nosso encontro no ICP há 20 anos)!
Bem, para hoje, como a Maricia anunciou, combinamos de falar mais descontraidamente sobre algum ponto que tenha nos fisgado nesse tempo. Foram muitos eventos exitosos: noite de cartéis com Romildo, uma Jornada de Cartéis com mais de 40 trabalhos apresentados, a presença poderosa e inédita da lógica coletiva do cartel nas Jornadas da Seção e do ICP…
Porém, resolvi partir de trás para frente e falar de algo que apareceu no último “Procura-se cartéis”, em 18 de novembro último e que me surpreendeu por trazer um certo avesso às conquistas que acabo de mencionar: me chamou a atenção não apenas a baixa adesão de participantes nesse encontro como o que pude nomear de “angústia diante da entrada”. As falas giraram em torno desse afeto como algo marcante e muitas vezes impeditivo para se ir adiante. Relatos angustiados sobre as mais variadas dificuldades apareceram indiferentemente dos momentos da formação de cada um: na lida com a teoria, na formação de um cartel, na busca pelo Mais-Um e, principalmente, o que ficou claro para mim, a angústia diante da impossibilidade de vislumbrar um caminho a trilhar junto a Escola. Continue lendo “Aberturas e fechamentos na Escola”
Do navio-abrigo ao fazer Escola
Por Ana Luisa Rajo
Participar da comissão de cartéis e intercâmbios da seção-RJ me animou imediatamente. A possibilidade de ver operar esse dispositivo de base na própria seção e como se dá esse fazer escola através dos pequenos grupos sempre me pareceu um verdadeiro enigma. Além disso, acompanhar como cartéis estavam ou não se formando, os temas pesquisados e como nos servimos desses produtos também me instigou. Soma-se a isso um convite desejoso da Maricia para trabalhar com um pequeno grupo precioso. Agradeço a Maricia e ao trabalho decidido de cada uma: Sandra Landim, Renata Martinez, Maria Antunes e Cristina Duba. Agradeço ao aprendizado ao longo desses dois anos.
Nesse convite, me emocionei ao dizer da importância do cartel que, durante a pandemia, foi pra mim um navio a me abrigar da deriva que estávamos submetidos nesse período. Porém essa comissão foi mais que um navio-abrigo: tentou ler, inventar novas rotas, dar lugar ao mal-estar no qual estávamos imersos e, sobretudo, apostar nesse dispositivo inventado em tempos de um Outro desfacelado pode, hoje, mais ainda, nos servir de bússola e nos permitir arejar frente à aridez do real. Continue lendo “Do navio-abrigo ao fazer Escola”
O cartel para fazer Escola. Uma experiência.
Por Maria Antunes
Agradeço a Maricia Ciscato diretora de cartéis e intercâmbios pelo convite para participar do trabalho nesta comissão. Agradeço também a Cristina Duba que através do trabalho de mais um do cartel, provocou um trabalho instigante . Por fim agradeço a Renata Martinez, Sandra Landim e Ana Luiza Rajo pelo rico trabalho que as leituras e discussões produziram.
Quero começar destacando que decidimos por um trabalho de cartel ao mesmo
tempo que o trabalho da comissão de Cartéis e Intercâmbio, foi se desenvolvendo e isso teve, para mim, um efeito de experiência.
Só agora, no a posteriori, pude me dar conta que esse trabalho de comissão produziu uma pequena lanterna na escuridão, na qual nos encontrávamos, quando iniciamos o cartel.
Naquele momento foi fundamental, para mim, desenvolver um trabalho de cartel para pensar o trabalho da comissão.
Estávamos sofrendo as repercussões das atrocidades de um governo genocida. A leitura dos textos e as discussões sobre a invenção de Lacan do cartel como ”
máquina de guerra ” para combater os ideais e os universais que produzem violência e segregação, me fez sair da paralisia, provocada pelo horror e pelo medo, e me colocou aos poucos em movimento. Poder pensar, ouvir e trocar com as colegas do cartel, promoveu uma abertura, onde pude contar com a transferência de trabalho que se estabeleceu, reconectando meu trabalho na Escola. Continue lendo “O cartel para fazer Escola. Uma experiência.”