Por Doris Rangel Diogo – Membro da EBP/AMP
Compartilho uma experiência no cartel Psicose Ordinária, inscrito em 2019 na rubrica “Clínica: teorias e práticas”. A contingência da pandemia favoreceu encontros dos participantes, impulsionando o cartel, embora a modalidade de reunião virtual já tivesse sido experimentada.
Cada cartelizante vinha desenvolvendo sua pesquisa e os encontros eram frequentemente atravessados por casos clínicos dos participantes ou publicados, e também por textos em torno do tema. No início de 2021, uma cartelizante que estava trabalhando acontecimento de corpo na psicose ordinária interveio com um recorte clínico que despertou vivo interesse nas demais participantes. Naquele momento, o cartel estava se dedicando ao tema do corpo no ensino de Lacan, a partir do incorporal, em Radiofonia. O caso se impôs com uma questão do analisando, que fez com que a pesquisa se voltasse para os limites do binarismo sexual orientado pelo falo como significante da diferença sexual, a favor da pluralização dos modos de gozo. Interrogando o trans, o cartel se transformou e a mesma cartelizante apresentou o trabalho na Jornada de Cartéis, em março, para o qual contribuiu o entusiasmo, não sem o sinthoma, de cada cartelizante. Os efeitos da Jornada, a contingência de um debate sobre o fenômeno trans no XXIII Encontro Brasileiro, bem como a transmissão nas escolas da AMP em torno da assunção da designação//nomeação trans, contribuíram para uma elaboração provocada que levou à reconfiguração do cartel em torno desse tema que, a cada dia, vem ganhando mais fôlego, tanto em sua dimensão clínica quanto epistêmica e política.
Na função de mais um, interroguei o rumo do cartel cujos temas se deslocaram para os modos de gozo, binarismo e pluralismo, feminização da cultura. Em encontro recente, concluímos que o cartel sofreu um reviramento e que, assim sendo, na função de mais-um, propus sua dissolução, não sem o convite para que cada uma decantasse um produto sobre Psicose ordinária para a próxima Jornada. No momento de selar a dissolução, que implica em perdas, houve um movimento entre nós para dar continuidade ao cartel com outro nome, já que o desejo de trabalhar permanecia vivo entre nós. Diante da demanda, advoguei pela dissolução do cartel e, como ato contínuo, pela destituição do mais-um, o que não impediu que outro cartel viesse, imediatamente, a se anunciar com os mesmos participantes sendo que, para a função do mais um, outro cartelizante foi convidado. Aliás, esta passagem também foi alvo de interrogação sobre os critérios de escolha do mais-um, pois, neste cartel, dos 5 participantes, apenas 2 são membros da EBP.
Apreciando o ocorrido, destaco que o cartel Psicose Ordinária realizou uma trajetória, possibilitando uma elaboração provocada e a transmissão da psicanálise, e que sua dissolução incidiu como um ponto de basta.
PSICOSE ORDINÁRIA
• Rubrica: Clínica: teorias e práticas
o Doris Rangel Diogo (Mais-Um) – Membro EBP/AMP – Psicose ordinaria – uma hipótese a partir da transferência
o Mirta Fernandes – Cartelizante – Incidências do acontecimento de corpo na clínica psicanalitica
o Vera Davet Pazos – Cartelizante – Como operar na transferência na psicose ordinária – o lugar da escuta na neotransferência
o Vanda Almeida – Membro EBP/AMP – Das externalidades ao gozo do Um e o operar do analista
o Romana Costa – Cartelizante – Psicose ordinária e amor louco
Rio de Janeiro, 8 de setembro de 2021.