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O CORPO FALANTE

X Congresso da AMP,

Rio de Janeiro 2016

329

328

III /d.

Sinthoma

III /d.1 Cursos Psicanalíticos

Miller, J.-A. Perspectiva dos Escritos e Outros Escritos de Lacan-

entre o desejo e o gozo, Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editorial, 2011

“(…) Sou impelido a começar dizendo que – tal como quando se trata do

inconsciente e da interpretação – não se deve pensar que o conceito de sinthoma

anula as outras leituras clínicas. Ele se acrescenta a elas. Ou seja, ele supõe a

arqueología de tudo o que o precede: a clínica freudiana e a clínica lacaniana

clássica, que formula a clínica freudiana em termos lingüísticos. Precaução,

portanto,

sinthoma

não equivale a rasura. Sinthoma é um termo que se

acrescenta, supera clivagens e multiplicidades de conceitos precedentes e adquire

seu sentido a partir daquilo que supera.”

p. 70

“(…) O ponto de vista do sinthoma, ao por em primeiro plano o modo de

gozar em sua singularidade, isto é, subtraindo-o das categorías, apaga a distinção

neurose-psicose.

Singularidade

quer dizer então subtração das categorías, ao

passo que

particularidade

ainda há categorias. Nela, por certo, não se tem

a categoria

todos

, como no universal, tem-se, porém, a categoría de

alguns

,

a categoría tipo, ao passo que com o singular as categorías desaparecem. A

distinção neurose-psicose, tal como reformulada por Lacan a partir de Freud,

pauta-se, com efeito, numa distinção significante: a presença ou não do Nome-

do-Pai. Mas isso se traduz, de fato, numa tipología dos modos de gozar. Assim

na neursose há um condensador de gozo estritamente debruado pela castração, o

que Lacan grafou como

a/

(

-

φ

).

p. 70-71

“(…) O conceito de

sinthoma

foi inventado para o caso de James Joyce, um

caso sem análise. É uma inspiração recebida de um caso do qual temos dados

biográficos, literários, sua obra, sua correspondencia, as lembranças de seus

próximos e, para Lacan, até o fato de ter visto, em sua juventude, Joyce na rua

do Odeon.”

p. 82

“(…) O fato foi consagrado por Lacan quando disse que

Joyce era desabonado

do inconsciente.

Quer dizer, pelo fato de não se ter testemunho algum do

inconsciente de Joyce, por não haver nenhuma experiência. Lacan inferiu que

Joyce não tinha, propriamente falando, relação com o inconsciente. É que, em

termos precisos, essa articulação de quatro termos sobre o pivô do binário S1-

S2 não valia para aquele que podemos chamar de o

falasser Joyce.

Este se revela

ser muito mais um

escritosser

(

scriptuêtre

), já que dele temos a escrita. Portanto,

dessa articulação Lacan diz que “em Joyce não há nada que se pareça com o

discurso do inconsciente”. No lugar dessa articulação ele inventa, a fim de dizer

o que há ali, o sinthoma. É, portanto, um conceito que se propõe onde não há o

inconsciente. É, se quisermos, o negativo do inconsciente.”

p. 83

(…) estaria assim anulada a função do sujeito? Não diria isso. Mas, em relação

ao sinthoma, o sujeito esmera-se em sua periferia.

Centrar a operação analítica sobre a fantasia abre para uma problemática da

queda, da separação, da travessia daquilo que reuni ao dizer fratura da fantasia.

Em contrapartida, no que concerne ao sinthoma não há nada semelhante, uma

vez que a busca se orienta mais no sentido da identificação, ou seja, no sentido

do:

eu sou isto, o sinthoma

.

Não se reconhece o ser do sinthoma do sujeito num objeto

a

, mas num

processo, numa repetição e uma montagem. Assim o reviramento no ensino de

Lacan, a partir do passe, não anula o que concerne à fantasia, mas isola o que

resta, isto é, o sinthoma, como aparelho de gozo. Em outras palavras, isso ordena

o passe num mais-além- do passe que é esse opaco aparelho. Razão pela qual

darei valor de sentido ao que Lacan formula sobre a satisfação que marca o final

da análise.”

p. 138

III /d.2 Outros Textos

Miller, J.-A. Peças avulsas – comentário sobre Le Sinthome. In: Opção

Lacaniana Nº44. Edições Eólia, São Paulo, 2005

“(…) O sinthoma, aquele que Lacan inventa após seu

Seminário: Mais, ainda

, é

uma peça avulsa, uma peça que se destaca para disfuncionar, uma peça que não

tem outra função – aparentemente é assim que ela se destaca – a não ser a de

entrevar as funções do indivíduo e, longe de ser apenas um entrave, ela tem, em

uma organização mais secreta, uma função iminente. Disso decorre a ideia de

que na análise se trata de encontrar, de bricolar uma função para ela.

O

Sinthoma

se apoia, se escora na literatura muito especial de James Joyce, e

principalmente no que é, mesmo se Lacan pouco o mencione, o testemunho

de uma peça avulsa da literatura,

Finnegans Wake

, com o qual jamais se soube

muito bem o que fazer.”

p. 15-16

“(…) Mas o

sinthoma

não se cura. Trata-se de saber que função encontrar para

ele. Lacan introduz a noção de que não é a literatura, mas sim a lógica que debe

ser aplicada ao

sinthoma,

o que significa reconhecer sua natureza, em particular,

Jacques-Alain Miller