

O CORPO FALANTE
X Congresso da AMP,
Rio de Janeiro 2016
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“Parece-me que certas dificuldades especiais perturbam o estudo direto do
narcisismo. Nosso principal meio de acesso a ele continuará a ser provavelmente
a análise das parafrenias. Assim como as neuroses de transferência nos
permitiram traçar os impulsos instintuais libidinais, também a demência precoce
e a paranóia nos fornecerão uma compreensão interna (
insight
) da psicologia do
eu.”
p. 98
“Podemos decidir considerar a erogenicidade como uma característica geral
de todos os órgãos e, então, podemos falar de um aumento ou diminuição
dela numa parte específica do corpo. Para cada uma das modificações na
erogenicidade dos órgãos poderia, então, verificar–se uma modificação paralela
da catexia libidinal no eu. Tais fatores constituíram aquilo que acreditamos estar
subjacente à hipocondria e aquilo que pode exercer o mesmo efeito sobre a
distribuição da libido tal como produzida por uma doença material dos órgãos.”
p .100
“Uma comparação entre os sexos masculino e feminino indica então que existem
diferenças fundamentais entre eles no tocante a seu tipo de escolha objetal,
embora essas diferenças naturalmente não sejam universais. O amor objetal
completo do tipo de ligação é, propriamente falando, característico do indivíduo
do sexo masculino. Ele exibe a acentuada supervalorização sexual que se origina,
sem dúvida, do narcisismo original da criança, correspondendo assim a uma
transferência desse narcisismo para o objeto sexual.”
p. 105
“Já com o tipo feminino mais freqüentemente encontrado, provavelmente
o mais puro e o mais verdadeiro, o mesmo não ocorre. Com o começo da
puberdade, o amadurecimento dos órgãos sexuais femininos, até então em
estado de latência, parece ocasionar a intensificação do narcisismo original, e isso
é desfavorável para o desenvolvimento de uma verdadeira escolha objetal com a
concomitante supervalorização sexual.”
p. 105
FREUD, Sigmund (1914 – 1916). Suplemento metapsicológico à
teoria dos sonhos. (1917 [1915]). In: _____.
A história do movimento
psicanalítico, artigos sobre metapsicologia e outros trabalhos
. Rio de
Janeiro: Imago Editora, 1976. (Edição Standard Brasileira das Obras
Psicológicas Completas de Sigmund Freud, v. 14)
“Na investigação dos estados psiconeuróticos, somos levados a ressaltar em
cada um deles o que se conhece por regressões temporais, isto é, a quantidade
de recessão de desenvolvimento que lhe é peculiar. Distinguimos duas dessas
regressões –uma que afeta o desenvolvimento do eu, e outra, o da libido.
No estado de sono, a última é levada ao ponto de restauração do narcisismo
primitivo, enquanto a primeira remonta à etapa da satisfação alucinatória dos
desejos.”
p. 253-254
“Desse modo, sabemos que os sonhos são inteiramente egoístas e que a pessoa
que desempenha o principal papel em suas cenas deve sempre ser reconhecida
como aquela que sonha. Isso é agora facilmente explicado pelo narcisismo do
estado de sono. O narcisismo e o egoísmo, na realidade, coincidem; a palavra
narcisismo destina–se apenas a ressaltar o fato de que o egoísmo é também um
fenômeno libidinal; ou, expressando-o de outra maneira, o narcisismo pode ser
descrito como o complemento libidinal do egoísmo.”
p. 254
FREUD, Sigmund (1916 – 1917). Luto e melancolía (1915).
Conferência XXII: algumas idéias sobre desenvolvimento e regressão:
etiologia. In: _____.
Conferências introdutórias sobre psicanálise
(parte III)
. Rio de Janeiro: Imago Editora, 1976. (Edição Standard
Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, v. 16)
“A melancolia, portanto, toma emprestado do luto alguns dos seus traços e, do
processo de regressão, desde a escolha objetal narcisista para o narcisismo, os
outros.”
p. 283
“(Na melancolia) O acúmulo de catexia que, de início, fica vinculado e,
terminado o trabalho da melancolia, se torna livre, fazendo com que a mania
seja possível, deve ser ligado à regressão da libido ao narcisismo.”
p. 291
Eu
FREUD, Sigmund (1925 – 1926). A questão da análise leiga (1926).
In: _____.
Um estudo autobiográfico inibições, sintomas e ansiedade,
a questão da análise leiga e outros trabalhos
. Rio de Janeiro: Imago
Editora, 1976. (Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas
Completas de Sigmund Freud, v. 20)
“O eu, como o senhor se recordará, é a camada externa, periférica do isso.
Ora, cremos que na superfície mais externa desse eu há uma instância dirigida
imediatamente para o mundo externo, um sistema, um órgão, através de cuja
excitação somente ocorre o fenômeno que denominamos de consciência.”
p. 225
“Assim, temos afirmado repetidamente que o eu é formado, em grande parte, a
partir de identificações que tomam o lugar de catexias abandonadas pelo isso;
que a primeira dessas identificações sempre se comporta como uma instância
especial no eu e dele se mantém à parte sob a forma de um supereu: enquanto
Sigmund Freud