

O CORPO FALANTE
X Congresso da AMP,
Rio de Janeiro 2016
291
290
“Assim, o inconsciente se manifesta sempre como o que vacila num corte do
sujeito –donde ressurge o machado que Freud assimila ao desejo– desejo que
situaremos provisoriamente na metonímia desnudada do discurso em causa, em
que o sujeito se saca em algum ponto inesperado.”
p. 32
“O estatuto do inconsciente, que eu lhes indico tão frágil no plano ôntico, é
ético.”
p. 37
“Da última vez, eu lhes falei do conceito de inconsciente, cuja verdadeira
função é justamente estar em relação profunda, inicial, inaugural, com a do
conceito
Unbegriff
– ou de
begriff
do
Un
original, isto é, o corte. Esse corte, eu
o ligue profundamente à função do sujeito como tal, do sujeito em sua relação
constituinte ao próprio significante.”
p. 46
“Para nós, em nossa referência ao inconsciente, é da relação ao órgão que se
trata. Não se trata da relação à sexualidade, nem mesmo ao sexo, se é que
podemos dar a este termo uma referência específica –mas de relação ao falo, no
que ele falta ao que poderia ser atingido de real na visada do sexo. É na medida
em que, no coração da experiência do inconsciente, lidamos com esse órgão –
determinado no sujeito pela insuficiência organizada no complexo de castração–
que podemos perceber em que medida o olho é tomado por semelhante
dialética.”
p. 100
“O inconsciente é a soma dos efeitos da fala, sobre um sujeito, nesse nível em
que o sujeito se constitui pelos efeitos do significante. Isto marca bem que,
com o termo sujeito –é por isso que o lembrei uma origem– não designamos
o substrato vivo de que precisa o fenômeno subjetivo, nem qualquer espécie
de substância, nem qualquer ser do conhecimento em sua patia, segunda ou
primitiva, nem mesmo o logos que se encarnaria em alguma parte, mas o sujeito
cartesiano…”
p. 122
Inconsciente, Gozo, Corpo falante,
Alingua
LACAN, Jacques.
O seminário: mais ainda
, livro 20 (1972 – 1973).
Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1985. Tradução: M. D. Magno
“Aonde isso fala, isso goza, e nada sabe.”
p.142
“… o inconsciente, não é que o ser pense, como o implica, no entanto, o que
dele se diz na ciência tradicional –o inconsciente, é que o ser, falando, goze e,
acrescento que isto quer dizer– não saber de coisa alguma.”
p. 143
“(…) Aonde isso fala, isso goza. E isto não quer dizer que isso saiba de coisa
alguma, porque, mesmo assim até nova ordem, o inconsciente nada nos revelou
sobre a fisiologia do sistema nervoso, nem sobre o funcionamento da ereção,
nem sobre a ejaculação precoce.”
p. 156
“O real, eu diria, é o mistério do corpo falante, é o mistério do inconsciente.”
p. 178
“(…)Esses afetos são o que resulta da presença de
alíngua
no que, de saber, ela
articula coisas que vão muito mais longe do que aquilo que o ser falante suporta
de saber enunciado.” “…
Alíngua
nos afeta primeiro por tudo que ela comporta
como efeitos que são afetos. Se se pode dizer que o inconsciente é estruturado
como uma linguagem, é no que os efeitos de
alíngua
, que já estão lá como saber,
vão bem além de tudo que o ser que fala é suscetível de enunciar.”
p. 190
“É porque há o inconsciente, isto é
alíngua
no que é por coabitação com ela
que se define um ser chamado falante, que o significante pode ser chamado a
fazer sinal, a constituir signo. Entendam esse signo como lhes agradar, inclusive
thing
do inglês, a coisa. (…) O significante é signo de um sujeito. Enquanto
suporte formal, o significante atinge um outro que não aquele que é cruamente,
ele, como significante, um outro que ele afeta e que dele é feito sujeito, ou, pelo
menos, que passa por sê-lo. É nisto que o sujeito se acha ser, e somente para o ser
falante, um ente cujo ser está alhures, como mostra o predicado. O sujeito não
é jamais senão pontual e evanescente, pois ele só é sujeito por um significante, e
para um outro significante.”
p. 194-195
LACAN, Jacques.
O seminário: o sinthoma
, livro 23 (1975 – 1976).
Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2007. Tradução: Sergio Laia
“Trata-se de situar o que o inconsciente tem a ver com o real, o real do
inconsciente, se o inconsciente for real. Como saber se o inconsciente é real ou
imaginário? É efetivamente a questão. Ele participa de um equívoco entre os
dois.”
p. 98
“Creio poder, por uma topologia grosseira, dar suporte ao que está aqui em
pauta, a saber, à função mesma do real distinguida por mim do que julgo poder
com certeza tomar pelo inconsciente – com certeza porque tenho prática com
o termo inconsciente, não é? Na medida em que o inconsciente não deixa de se
referir ao corpo, a função do real pode ser distinguida dele.”
p. 131
“Entretanto, se há alguma coisa que tenho articulado desde o princípio com
cuidado, é que o inconsciente nada tem a ver com o fato de um monte de coisas
ser ignorado quanto a seu próprio corpo.”
p. 145
Jacques Lacan