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determinação inconsciente há responsabilidade. Em outras

palavras, o sujeito é responsável disso que desconhece de si,

isto é, as motivações de um ato podem não ser acessíveis à

consciência e podem ser alheias ao sujeito, mas não por isso

o isentam de responsabilidade. Desta perspectiva o sujeito

sempre é imputável, não já moralmente, como no caso da

responsabilidade jurídica, mas eticamente.

Na “Introdução teórica às funções da psicanálise

em criminologia” Lacan fala da relação entre culpa e

responsabilidade. Ele diz: “Toda sociedade manifesta a

relação entre o crime e a lei através de castigos cuja realização

[...] exige um assentimento subjetivo”

2

. Mais tarde ele

esclarece que esse assentimento subjetivo é necessário para

a significação mesma do castigo. Assim, o assentimento

subjetivo do castigo é a responsabilidade e não a necessidade

de castigo vinda do supereu. Quer dizer que o castigo fica

do lado do sujeito como assentimento subjetivo. Isto requer

de um trabalho que visa significar a punição como uma

alternativa ao modelo standard de castigo que o discurso

jurídico impõe e no qual a pena está tipificada. Em outras

palavras, trata-se de lhe oferecer ao sujeito a possibilidade

de passar de um fazer sem palavras ao dizer sobre seu ato,

passagemquepoderá ser feita atravésdeumtrabalhoque lhe

permita desdobrar sua própria lógica para poder encontrar

algo do mundo simbólico onde inscrever e dar sentido

ao ato delitivo realizado para assim poder responsabilizar-

se de sua posição subjetiva. Para finalizar direi que para a

psicanálise um sujeito é maior de idade quando assume a

responsabilidade de querer saber sobre seugozomais intimo

para imprimir nele outra direção. Neste ponto é necessário

dizer que nem sempre o sujeito está em condições de

produzir uma invenção própria para domesticar seu gozo.

Esta invenção, que na psicanálise chamamos de sintoma,

é o que permite ao sujeito produzir tanto um saber sobre

seu gozo, quanto um fazer algo diferente com ele, não já

demodo autista, desvinculado dos outros e devastador, mas

no laço social comoutros. A prática psicanalítica nos ensina

que nosso ato analítico é limitado e que longe estamos de

podermos oferecer o tratamento para todos os males, mas

tambémnos ensina, que no intimo trabalho realizado nessa

parceria entre o analista e o analisando, é possível encontrar

uma nomeação precisa que permita um arranjo mais

pacíficodo sujeito comseu gozo, arranjoque permita passar

da culpa à responsabilidade, única forma de estabelecer uma

relação entre culpa, lei, amor e inconsciente.

2 LACAN, J. “Introducción teórica a las funciones del

psicoanálisis en criminologia”,

Escritos I

, Siglo Veintiuno Ed.,

Buenos Aires, 2007, pag. 130.

X C o n g r e s s o d a A M P

O C

orpo

F

alante

Sobre o Inconsciente no sêculo XXI

http://www.congressoamp2016.com/

25 a 28 de Abril de 2016 • Hotel Sofitel - Copacabana, Rio de Janeiro