

O CORPO FALANTE
X Congresso da AMP,
Rio de Janeiro 2016
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falta. É então preciso que isso seja um objeto –primeiramente, separável– e
depois, tendo alguma relação com a falta.”
p. 101
Sobre a pseudociese de Anna O.: “Aí ela mostra o quê? – pode-se especular,
seria preciso ainda não se precipitar sobre a linguagem do corpo. Digamos
simplesmente que o domínio da sexualidade mostra um funcionamento natural
dos signos. Neste nível, não são significantes, pois o falso-balão é um sintoma e,
segundo a definição de signo, algo para alguém.”
p. 149
“É na função em que o objeto sexual desliza pela encosta da realidade, e se
apresenta como um pedaço de carne, que surge essa forma de dessexualização
tão manifesta que se chama, na histérica, reação de desgosto. O desejo interessa
–graças a Deus, sabemos demais disso– bem outra coisa, e mesmo coisa
completamente diferente do organismo, sem deixar de implicar, em diversos
níveis, o organismo.”
p. 163
“A integração da sexualidade à dialética do desejo passa pelo jogo daquilo
que, no corpo, merecerá que designemos com o termo de aparelho –se vocês
quiserem mesmo entender com isso aquilo com que, em relação à sexualidade,
o corpo pode aparelhar-se, a se distinguir daquilo como que os corpos se podem
emparelhar.”
p. 163
“A lâmina tem uma borda, ela vem inserir–se na zona erógena, quer dizer, num
dos orifícios do corpo, no que esses orifícios –toda a nossa experiência o mostra–
estão ligados à abertura-fechamento da hiância do inconsciente. As zonas
erógenas estão ligadas ao inconsciente, porque é lá que se amarra a presença do
vivo.”
p. 188
“A libido é o órgão essencial para se compreender a natureza da pulsão. Esse
órgão é irreal. Irreal não é de modo algum imaginário… Mas por ser irreal, isso
não impede um órgão de se encarnar.”
p. 195
“O corpo da ciência, só conceberemos seu porte ao reconhecermos que ele é, na
relação subjetiva, equivalente ao que chamei aqui de objeto minúsculo.”
p. 251
linguagem, Ser falante, Corpo, Gozo do corpo do Outro,
Substancia gozante, Significante, Não há relacão sexual
LACAN, Jacques.
O seminário: mais ainda
, livro 20 (1972 – 1973).
Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1985. Tradução: M. D. Magno
“(…) que a linguagem não é o ser falante – que eu não me achava deslocado
por ter que falar numa faculdade de direito, pois é onde a existência dos códigos
torna manifesta a linguagem, isto se mantém lá, à parte, constituído ao correr
das eras, ao passo que o ser falante, o que chamamos os homens, é outra coisa.”
p. 10
“O hábito ama o monge, porque é por isso que eles são apenas um. Dito de
outro modo, o que há sob o hábito, e que chamamos de corpo, talvez seja apenas
esse resto que chamo de objeto a.”
p. 14
“… o ser é o gozo do corpo como tal, quer dizer, como assexuado, pois o que
chamamos de gozo sexual é marcado, dominado, pela impossibilidade de
estabelecer, como tal, em parte alguma do enunciável, esse único Um que nos
interessa, o Um da relação sexual.”
p. 15
“… o gozo do Outro, do corpo do Outro, só se promove pela infinitude.”
(…)”o que concerne ao gozo enquanto sexual.” “De um lado o gozo é marcado
por esse furo que não lhe deixa outra via senão a do gozo fálico. Do outro, será
que algo pode ser atingido…”
p. 16
“Para situar, antes de deixá-los, meu significante, proponho-lhes sopesar o que,
da última vez, se inscreveu com minha primeira frase, o gozar de um corpo
,
de
um corpo que, o Outro, o simboliza, e que comporta talvez algo de natureza a
fazer pôr em função uma outra forma de substância, a substância gozante.”
p. 35
“Não é lá que se supõe propriamente a experiência psicanalítica? – a sustância do
corpo, com a condição de que ela se defina apenas como aquilo de que se goza.
Propriedade do corpo vivo, sem dúvida, mas nós não sabemos o que é estar vivo,
senão apenas isto, que um corpo, isso goza.”
p. 35
“(…) Como o sublinha admiravelmente essa espécie de kantiano que era
Sade, só se pode gozar de uma parte do corpo do Outro, pela simples razão
de que jamais se viu um corpo enrolar–se completamente, até incluí–lo e
fagocitá–lo, em torno do corpo do Outro. É por isso que somos reduzidos a um
estreitamentozinho assim, a tomarmos um antebraço, ou não importa o que –
puxa!”
p. 35
“… O significante é a causa do gozo. Sem o significante, como mesmo abordar
aquela parte do corpo? Como, sem o significante, centrar esse algo que, do gozo,
é a causa material? Por mais desmanchado, por mais confuso que isto seja, é uma
parte que, do corpo, é significada nesse depósito.”
p. 36
“Todas as necessidades do ser falante estão contaminadas pelo fato de estarem
implicadas com uma outra satisfação… à qual elas podem faltar. (…) o gozo de
que depende essa satisfação, a que se baseia na linguagem.”
p. 70-71
Jacques Lacan