

Assuntos livrescos
Além da
Biblioteca
Exposição Além da Biblioteca [SP-Arte/2012; foto: Leonardo Finotti]
“Um livro é um cubo de papel,
uma coisa entre outras”
Jorge Luis Borges
Quando recebi o e-mail da Teresinha Prado, Diretora
de Biblioteca da EBP-SP, nos convocando ao trabalho
para o Bibliô, imediatamente lembrei-me do catálogo
de uma exposição realizada no Museu Lasar Segall em
São Paulo (2011), cujo título é:
Além da biblioteca
. Esta
seleção de artistas e suas obras que confluiu na exposição
e no catálogo, que funcionam como uma introdução ao
universo do livro de artista.
Com curadoria de Ana Luiza Fonseca, o livro reúne
obras de 11 artistas contemporâneos, entre eles Ana
Luiza Dias Batista, com o intuito de lançar um olhar
sobre obras de arte que são livros –
O livro de artista
.
Segundo Jorge Schwartz: “A experiência representa a
oportunidade de o artista se converter em autor de um
“livro”, fugindo à tirania da paginação sucessiva, ou da
escrita linear imposta pela cultura do ocidente, para se
projetar no universo que oscila entre a letra, a página, o
livro e a escultura tradicional de livro.”
1
Falar da história do livro implica uma construção e,
portanto, o reconhecimento de que a invenção do livro
é uma das mais radicais produções inovadoras realizadas
por vários povos com a intenção de gravar e passar
conhecimento de geração em geração.
Na Antiguidade, temos conhecimento de que a
primeira forma encontrada para gravar o dia-a-dia, a
história, foi escrevendo em pedra ou tábuas de argila.
Após algum tempo, surgiram os
khartés
, que eram
cilindros de folhas de papiro, mais fáceis de transportar.
A inovação seguinte foi o pergaminho, que em pouco
tempo substituiu o papiro.
Oportuno lembrar o Livro-obra, de Lygia Clark, e
seu ato de criação em
Caminhando
, de 1963, onde ela
faz do ato de cortar a fita o próprio trabalho artístico.
Tania Rivera comenta que o corte da fita proposto
por Lygia Clark difere do corte da banda de Moebius
proposto por Lacan. Lacan, no
Seminário 10
, fazia os
ouvintes de seu Seminário sentirem ativamente essa
figura topológica e ressaltava a importância do corte da
fita de ponta a ponta... Para Lacan, a fita de Moebius
não seria mais do que esse corte, ato que faz nela surgir
a diferenciação entre dentro e fora.”
2
“Pegando esta faixa
e, depois de abri-la, religando-a a ela mesma, fazendo-a
dar meia-volta durante esse percurso, vocês obterão com
muita facilidade uma banda de Moebius.”
3
Lygia Clark e a fita branca de “O dentro é o fora”
Tania Rivera é clara ao mostrar que para Lygia Clark,
antes da fita ser a obra, a fita é apenas uma fita branca, e
ela se constrói como obra de arte por meio de um corte.
A trajetória do corte acompanha a continuidade dentro-
fora dessa figura topológica até encontrar o limite físico
de sua largura. “Em seu diálogo com minha obra, O
dentro é o fora
, o sujeito atuante reencontra sua própria
precariedade.”
4
Para baixar o Livro-obra de Lygia Clark, o app:
http://itunes.apple.com/us/app/livro-obra/id560831084…