EBP Debates #004

 

Editorial

A medicalização da infância

Marcelo Veras

 

O crescimento da medicalização por TDAH é patente nos Estados Unidos. O uso de medicamentos nesses casos saltou, na população entre 20 e 39 anos, de 5,6 para 14 milhões de prescrições mensais em apenas 4 anos. Ainda pior é o quadro de medicalização de crianças, que expõe a urgência de se repensar os processos educativos. As crianças são hiperconectadas ao mundo mas, na sala de aula, muitas vezes não conseguem suportar o tempo de uma assimilação de mensagens mais complexas. É curioso que essas mesmas crianças, em seus quartos ou lan-houses, são capazes de alcançar etapas extremamente complexas de jogos eletrônicos, superando e identificando com incrível astúcia os obstáculos virtuais. Multiplicam-se os pais e educadores que ampliam ainda mais o hiato entre essas duas realidades forçando uma adequação e levando, consequentemente, à situações de ruptura, em que a simples imposição da autoridade fracassa em resolver o conflito. É nesses casos que cada vez mais se faz apelo à pílulas de comportamento em substituição ao declínio da lei paterna. O pai tornou-se uma droga. [Leia mais...]

 

 

A ritalina e os riscos de um

"genocídio do futuro"

Entrevista com a Dra Cida Moysés

 

Fonte: http://www.unicamp.br/unicamp/noticias/2013/08/05/ritalina-e-os-riscos-de-um-genocidio-do-futuro

 

 

Para uns, ela é uma droga perversa. Para outros, a 'tábua de salvação'. Trata-se da ritalina, o metilfenidato, da família das anfetaminas, prescrita para adultos e crianças portadores de transtorno de deficit de atenção e hiperatividade (TDAH). Teria o objetivo de melhorar a concentração, diminuir o cansaço e acumular mais informação em menos tempo. Esse fármaco desapareceu das prateleiras brasileiras há poucos meses (e já começou a voltar), trazendo instabilidade principalmente aos pais, pela incerteza do consumo pelos filhos. Ocorre que essa droga pode trazer dependência química, pois tem o mesmo mecanismo de ação da cocaína, sendo classificada pela Drug Enforcement Administration como um narcótico. No caso de consumo pela criança, que tem seu organismo ainda em fase de formação, a ritalina vem sendo indicada de maneira indiscriminada, sem o devido rigor no diagnóstico. Tanto que, no momento, o país se desponta na segunda posição mundial de consumo da droga, figurando apenas atrás dos Estados Unidos. Como acontece com boa parte dos medicamentos da família das anfetaminas, a ritalina 'chafurda' a ilegalidade, com jovens procurando a euforia química e o emagrecimento sem dispor de receita médica. Fala-se muito que, se não fizer o tratamento com a ritalina, o paciente se tornará um delinquente. "Mas nenhum dado permite dizer isso. Então não tem comprovação de que funciona. Ao contrário: não funciona", critica a pediatra Maria Aparecida Affonso Moysés, professora titular do Departamento de Pediatria da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp. “A gente corre o risco de fazer um genocídio do futuro. Mais vale a orientação familiar”, encoraja a pediatra, que concedeu entrevista, a seguir, ao Portal Unicamp

 

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Comentários:

 

Beatriz UdenioBeatriz Udenio

La noción de “medicalización” no se emplea exclusivamente para el universo de la infancia; encuentra, más bien, un uso difundido en los estudios sobre la medicalización de la sociedad. Me interesa partir de allí. Siempre vuelvo a sorprenderme por los modos contestatarios y creativos que surgieron a fines de los ´60 y, notablemente en los ´70, en el campo de las ciencias humanas y el arte, respondiendo con formulaciones pioneras ... [leia +]

 

Claudia MurtaClaudia Murta

O professor Christopher Lane, em seu livro Como a psiquiatria e a indústria farmacêutica medicalizaram nossas emoções oferece uma reflexão muito interessante sobre o tema proposto. O autor questiona profundamente a transformação de sentimentos em doença mental. No seu texto, de forma ilustrativa, ele conta uma conversa com um amigo psicanalista que lamentava: “...nós, em outra época, tínhamos uma palavra para designar aqueles que sofrem de transtorno deficitário de atenção e hiperatividade (TDAH). Nós os chamávamos garotos.” [leia +]

 

Eduardo BenedictoEduardo Benedicto

A Rita roubou o espaço para que pudéssemos ser crianças e respondêssemos ao mal estar diante da falta de sentido ou excesso de estímulos em casa, no colégio, nas relações... Sim, um espaço em que eu pudesse me manifestar, ainda que em desacordo com as convenções e ao esperado, às vezes de forma sofrida e exasperada, por vezes com pouca atenção, muita irritação e bastante agitação, mas com uma vontade, um desejo não escutado e considerado minimamente...! Dão-me a Rita para que eu possa sorrir, rir forçado e para estar mais atento, menos ansioso e mais concentrado, com a capacidade de fazer tudo o que eles querem! [leia +]

 

Eduardo BenedictoLuiz Mena

O fenômeno da medicalização é um dos caminhos pelos quais interpreta-se e tenta-se responder ao mal estar e aos sofrimentos da existência. Busca-se, assim, através de marcadores biológicos inequívocos e suplências químicas, dar um contorno ao sofrimento do ser, transformando a dor da existência em uma disfunção do organismo e/ou em um problema individual, recortando o sujeito do contexto social, afetivo, político, histórico, que o dá substância. 

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Teresa PavoneTeresa Pavone

A pesquisa e declarações da Dra. Maria Aparecida Moyses, médica pediatra e docente da Unicamp são esclarecedoras e merecem ampla divulgação entre os que se encarregam dos sujeitos infantis nos dias de hoje. São alertas aos educadores, médicos, políticos, psicólogos e outros profissionais que, descuidadamente, qualificam um número alarmante de crianças como hiperativas.  O título sugestivo “A ritalina e os riscos de um genocídio do futuro” indica as conseqüências nefastas da prática atual dos diagnósticos e da medicalização generalizados. [leia +]

 

Vicente Machado Gaglianone Vicente Machado Gaglianone

Na reportagem referida, aparece na charge a fala de um menino diante do médico: "Mamãe! Papai me disse que se uma pessoa estranha me oferecer drogas, eu deveria dizer “Não””. Como poderíamos imaginar a resposta da mãe ao endereçamento do filho? Digamos assim, qual é a posição subjetiva das mães contemporâneas frente ao enigma da filiação, ou: frente ao enigma do encontro com o sexual? Tenho visto em minha clínica uma epidemia moderna... [leia +]