EBP Debates #004

 

A “Rita” roubou meu sorriso: Manifestações de inconformismo de uma criança-adulto!

Eduardo Benedicto


Eduardo BenedictoA Rita roubou o espaço para que pudéssemos ser crianças e respondêssemos ao mal estar diante da falta de sentido ou excesso de estímulos em casa, no colégio, nas relações... Sim, um espaço em que eu pudesse me manifestar, ainda que em desacordo com as convenções e ao esperado, às vezes de forma sofrida e exasperada, por vezes com pouca atenção, muita irritação e bastante agitação, mas com uma vontade, um desejo não escutado e considerado minimamente...! Dão-me a Rita para que eu possa sorrir, rir forçado e para estar mais atento, menos ansioso e mais concentrado, com a capacidade de fazer tudo o que eles querem! Tiram-me o sorriso amarelo, minha gargalhada espontânea, meu choro sofrido e, por vezes, meu medo e ignorância...! Rita pode amenizar algumas crises da infância e também minimizar algumas angústias de adulto, mas pergunto-me a que preço? Ao preço de não aprender a falar e a pensar sobre eventuais dificuldades em minha convivência ou a de ficar submetido a padrões de pensamento e conformismo, com uma obediência exigida nas mentes e nos corpos, roubando-me uma parte da infância e quiça minha juventude e vida? Permita-me dizer não a esta brincadeira de mau gosto, que pode custar minha consciência e crítica, para que possa me encontrar, verdadeiramente, com algumas Ritas com quem possa dividir meus anseios, receios, medos e inconformismos, mesmo os que ainda não consigo dizer, mas que tenho a possibilidade contingencial da acolhida de uma menina-mulher a escutar-me!


Rita, a ritalina, é um apelido já bastante utilizado para a substância psicoativa que visa tratar especialmente o TDAH, diagnosticado cada vez mais em crianças e, por vezes, em adultos, que apresentam comportamentos classificados de disfuncionais e desadaptados.