Para lançar uma nova temporada, o Radar conversou com Leticia Cesarino, professora no Departamento de Antropologia da UFSC, sobre seu livro “O mundo do avesso: verdade e política na era digital”, publicado pela UBU em 2022.
É um livro fundamental para acessar diversas chaves de leitura e novas perspectivas sobre o que está ocorrendo conosco e à nossa volta. Leticia aborda os profundos efeitos de desestruturação e instabilidade que temos testemunhado em nossa sociedade, causados ou ao menos acompanhados pela incidência das ferramentas digitais. Tudo isso com foco importante na dimensão política e nos chamados regimes de verdade. O livro narra a experiência de uma quebra generalizada de confiança nas instituições tradicionais e de uma profunda perturbação de fronteiras que mantinham apartados campos distintos, como o público e o privado, civil e militar, jurídico e político, fato e ficção.
Ao lado dessa descrição, há uma leitura estrutural e cibernética, uma série de múltiplos recursos conceituais para elucidar como a arquitetura das plataformas digitais impactam, política, saber, subjetividade. Os pontos de contato com a psicanálise são muitos: nos interessam as novas estruturas coletivas sendo criadas, novas realidades de assimetria entre sujeito e Outro, impasses distintos no acesso o que é diferente, estranho, êxtimo, além de uma série de perguntas sobre outros modos de manifestação do que pode autêntico na experiência individual com o corpo e com a linguagem.
Abaixo, uma lista hiper sintética de pontos que nos tocaram:
- Este livro é uma “produção liminar” em sintonia com seu objeto, as redes;
- As redes digitais são um objeto que põe em crise o conhecimento linear;
- Para o livro, foi preciso coragem e Bateson, com sua ecologia da mente;
- Trata-se de uma mistura de paradigmas (não apenas analogias);
- Letícia Cesarino: “Não sei se algum dia farei outro livro como esse”;
- Quais reestruturações estariam em curso?;
- Entre “cisma” e “platôs”, há uma dialética em jogo;
- “Sonhei que Bateson ia me dar a saída”;
- Uma nova Gestalt que só estará clara mais adiante;
- Entre as gramáticas lineares e as sistêmicas, temos que ficar com as duas;
- Nas redes, é preciso competir com as camadas intermediárias;
- Na seara política, disputar sim, mimetizar, não;
- O “intelectual orgânico” de hoje é o que está no ambiente digital e usa o algoritmo a seu favor;
- É preciso uma nova maneira de ler as oposições entre esquerda e direita; por exemplo, universalismo e particularismos;
- É preciso ganhar tempo para que uma nova composição para a esquerda se dê;
- Pode-se explorar as margens das plataformas.