

ACONTECE
O trabalho artesanal
dos ateliês de leitura
Mônica Hage
[AMP/EBP - Bahia]
Carla Fernandes
[Associada IPB]
Será que podemos dizer que, no século XXI, estamos
assistindo à morte da leitura tradicional, aquela do livro
impresso, onde a magia estava no seu manuseio? Será que,
com o advento da internet, da era digital, passamos a adotar
novas formas de leitura? O mundo mudou! Uns dizem que
o hábito de leitura foi revivido com a internet; que passamos
a ler mais. Será mesmo? Talvez a internet tenha introduzido
outra forma de leitura. Como ler no mundo das imagens?
“A web é imagética!” Nela, o texto é uma imagem. E, se o
mundo hoje está acelerado, um ritmo de leitura baseado no
ritmo de reconhecimento de imagens, muitas vezes, é o que
seduz.
No entanto, a despeito
de tudo isso, apostamos
que o hábito da leitura
deva ser cultivado e
preservado.
Assim,
acreditando que nada
melhor que ele seja
estimulado
dentro
da sua própria casa, a
Biblioteca do Campo
Freudiano na Bahia
lançou, em 2015, a
ideia dos
Ateliês de
leitura
.
Os
Ateliês de leitura
são espaços ofertados com a proposta
de realizar a leitura comentada de textos centrais da obra
de Freud e do ensino de Lacan. Ateliê foi o termo escolhido
para essa atividade, que convoca a participação de cada
um e do coletivo, pois é um significante que remete a um
espaço de trabalho e produção, singular ou coletiva, aberto
à invenção. A dimensão da invenção revela-se inclusive a
partir do uso frequente do significante “ateliê” para fazer
referência à execução de trabalhos de arte.
A imagem escolhida para apresentar a atividade revela
justamente a arte que advém a partir de uma colagem de
peças soltas, ressonâncias das leituras dos textos que se
transmitemdurante os encontros. Uma proposta de produção
artesanal, que vai na contramão da lógica do discurso do
mestre moderno – que tem como efeito transformar o
conhecimento em objeto de consumo através da produção
em série – convocando os participantes a produzir um saber
elaborado de modo processual.
A importância deste espaço de retorno a Freud e ao
primeiro Lacan, em um momento em que nos dirigimos
ao “Ultimíssimo Lacan”, conjuga-se com duas razões: 1- a
necessidade de fazermos um estudo retroativo, isto é, voltarmos
aos primórdios, a fim de identificar o que do que estudamos
hoje se estabelece como um processo de continuidade, ou de
ruptura; 2- apostamos na importância de oferecer, ao jovem
que ingressa no estudo, um espaço de discussão dos textos
centrais da Psicanálise.
Durante esse ano os textos trabalhados no Ateliê de Leitura de
Freud foram “Sobre o Narcisismo: uma introdução” (1915),
“Os instintos e suas vicissitudes” (1915) e “Repressão” (1915);
no Ateliê de Leitura de Lacan, “A direção do Tratamento e os
Princípios de seu Poder” (1958) e “Proposição de 09 de outubro
de 1967 sobre o psicanalista da Escola” (1967). Cada texto foi
trabalhado a cada três encontros, fazendo um paralelo com o
tempo lógico proposto por Lacan: instante de ver, tempo de
compreender e momento de concluir. Os Ateliês funcionam
sob coordenação de Mônica Hage, membro da EBP-BA e da
AMP e conta com uma equipe composta por Carla Fernandes,
Ethel Poll, Luiz Felipe Monteiro, Maria Luiza Sarno e Wilker
França, associados
do Instituto de Psicanálise da Bahia
(IPB).
Acreditando que a transmissão da Psicanálise se dá de forma
particular, no um a um, a aposta da Biblioteca da Seção Bahia
é que as leituras compartilhadas possam vir a ter um efeito de
transmissão!