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LANÇAMENTO DO LIVRO
DE CARLOS AUGUSTO
NICÉAS
O AMOR DE SI
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O amor de si
, 1ª ed., Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2013.
É com imensa alegria que a Seção PE faz o lançamento
do livro de Carlos Augusto Nicéas. Introdução ao
Narcisismo: o amor de si. (Nicéas, 2013)1
Nicéas é pernambucano, médico e psicanalista, Analista
Membro da EBP – AMP. Assumiu diversas funções na
EBP e hoje faz parte da primeira Comissão de Garantia.
Trouxe sementes fecundas através do seu ensino quando
a Escola chegou efetivamente a Pernambuco. Seu livro
integra a coleção Para Ler Freud, coordenada por Nina
Saroldi, publicada pela Editora Civilização Brasileira.
Os autores da coletânea trabalham temas escolhidos em
função da relevância na obra de Freud e nas discussões
da atualidade. Introdução ao Narcisismo: o amor de si
apresenta-se expressivo, hoje, quando a imagem tornou-
se uma referência maior, ou, como diz Nina Saroldi, os
espelhos se multiplicaram.
Apoiado na sua experiência clínica, Nicéas retoma o
percurso traçado por Freud e as viradas de seu ensino
que dão corpo ao conceito do narcisismo, dando especial
destaque ao campo das pulsões. O narcisismo, entendido
como expressão do investimento libidinal no próprio eu,
não se colocou para Freud como um conceito de fácil
acesso: “Eu pari com dificuldades o Narcisismo”, afirma
no texto Teoria do narcisismo 2de 1914, de onde Nicéas
retoma a passagem do autoerotismo para o narcisismo,
momento onde o corpo despedaçado se dirige para a sua
unidade, prefigurada pela imagem do semelhante, que se
oferece ao bebê para ser tomada como seu eu.
Segue com as indicações de Freud em seu texto3 de 1923,
“O Eu e o Isso”, relativas ao estatuto corporal do eu,
“o eu é antes de tudo corporal”. Avança percorrendo
as referências de Lacan sobre o estádio do espelho em
que reitera o lugar dado à imagem do corpo próprio,
que emerge da dialética especular. Essa especularidade
estrutural projeta-se nas relações com o outro onde
transita todo sujeito.
O autor articula os textos de Freud, 1914 e 1923 e o
escrito lacaniano O estádio do espelho, para dizer que
no alicerce do narcisismo se tece uma relação amorosa
2 FREUD, S. [1914].
Sobre o Narcisismo: uma introdução
. ESB, v. XIV.
Rio de Janeiro: Imago, 1990.
3 _________ [1923].
O Eu e o Isso
. ESB, v. XIX. Rio de Janeiro: Imago,
1990.
do sujeito com sua imagem. O amor que a descoberta
do narcisismo permitiu a Freud reconhecer como “amor
de si” explicita a direção que toma a libido, investindo
amorosamente o eu.
O amor, portanto, na teoria freudiana, é inicialmente
narcísico. Resta a Freud saber como se dá a passagem
do amor de si para o amor do outro, que supõe um
transbordamento pulsional entre diferentes registros? O
amor imaginário de que o narcisismo é tributário vai ser
desdobrado em direção ao registro do simbólico em que
o Outro da fala se constitui como objeto de investimento
libidinal. Um novo laço se estabelece por meio de
palavras, inscrevendo-se dessa forma as histórias de amor.
As histórias de amor, Freud ouviu dos seus analisandos,
não necessariamente como nas declarações do amor, mas
nas cores de um amor de transferência. A transferência
está no começo da experiência analítica e estabelece, antes
de tudo, que no dispositivo freudiano há uma relação de
dependência estreita da estrutura da transferência com a
linguagem.
Nicéas nos deixa, ainda, a possibilidade de observar
a configuração da sociedade atual, e constatar que o
narcisismo apresenta-se cada vez mais em nossos laços
e redes sociais, onde os sujeitos se mostram sempre
glamurosos para que sejam admirados pelo outro. O
autor constrói todo o seu texto utilizando-se de uma
linguagem acessível a todos que se interessem pelo tema
do narcisismo, e com o rigor teórico que lhe é próprio,
demonstrando o fio condutor estabelecido por Freud
para construir o conceito do narcisismo.
Rosane da Fonte
[Analista praticante, EBP/AMP]